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Jogadores do Brasileiro exaltam a ‘magia’ do futebol de botão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Christopher Barres Pereira perdeu o controle do carro e bateu em caminhão que estava parado. Isso não foi o mais grave. Havia uma mala de viagem solta no carro. Ela voou com o choque e acertou a nuca do fisioterapeuta de 45 anos. As fraturas resultantes do acidente o deixaram 20 dias em coma.

A recuperação, lenta e ainda não finalizada, passa pelas sessões de fisioterapia e também pelo esporte que é a vida de Christopher: o futebol de mesa. Entre as crianças, conhecido como jogo de botão.

“Eu pratico isso desde os sete anos. É algo que me ajuda a voltar a ter sensibilidade nas mãos, a ter noção de força. A ajustar o que chamamos de habilidade fina, o que perdi na batida”, explica ele, que dá dicas para outros jogadores, após as partidas, do que fizeram de errado e onde podem melhorar. Faz isso com a fala ainda levemente arrastada, consequência do acidente.

A história dele pode ser a mais dramática, mas não é isolada entre os 240 participantes do Campeonato Brasileiro de futebol de mesa, realizado na sede social do São Paulo, no Morumbi, e finalizado no último domingo (19). Foi o maior torneio da história da modalidade no país.

Com participantes de 11 estados diferentes, o que estava em disputa era apenas o amor pelo jogo. Não houve premiação em dinheiro. Foi oferecido um troféu.

Isso não impediu o enfermeiro Thiago Roco Rodrigues, 35, de mudar seu turno no Hospital Albert Einstein para jogar. Primeiro do ranking brasileiro, ele vê o botão como um apoio na sua profissão. Algo que o ensina a ter mais disciplina, concentração, respeito pelas pessoas. Está longe, muito longe, de ser uma brincadeira.

“O futebol de mesa tem essa magia. De você estar sempre no olho no olho com o adversário. Se eu passo alguns dias sem jogar, sinto muita falta”, confessa.

Não que tudo seja harmonia. Há divergências de regras entre diferentes estados, reclamações com relação à qualidade da bola usada (e há apenas um fabricante em São Paulo) e provocações entre jogadores. Por causa disso, foi implantada uma regra de que gols não devem ser comemorados de forma efusiva por quem o marca. Se isso acontece, o adversário pode reivindicar uma falta técnica.

No futebol de campo, é a jogada vista como máxima expressão de alegria. No botão, não. Fazer festa significa infração.

Há semelhanças nos esquemas táticos. O conhecimento do rival faz mudar o posicionamento dos “atletas” na mesa, e os zagueiros podem ser maiores do que os demais botões para atrapalhar as ações ofensivas da outra equipe. Não é sorte, gostam de dizer. É habilidade.

O Brasileiro foi disputado em diversas mesas armadas no ginásio do Morumbi. Uma delas, chamada de superarena, tinha transmissão pelo YouTube.

Como o campeonato aconteceu em São Paulo, a organização coube à Federação Paulista da modalidade. A entidade é presidida por José Jorge Farah Neto, filho de Eduardo José Farah (1934-2014), que comandou a FPF (Federação Paulista de Futebol) de 1988 a 2003.

Para tomar conta de uma entidade que afirma não ter dinheiro, Farah parou de jogar. Hoje é apenas dirigente. Tenta montar a equação financeira para que a cidade possa ser sede do Mundial neste ano. A arrecadação projetada no torneio é entre R$ 8.000 e R$ 9.000. A ideia era realizá-lo em um hotel, mas o aluguel do espaço sairia por cerca de R$ 35 mil.

Será a competição mais especial para Jefferson do Amaral, 52. Primeiro do ranking paulista e atleta do Palmeiras, ele espera obter o troféu mais uma vez. Em 2015, venceu na Hungria.

Fanático pelo clube do Palestra Itália, ele só não suporta as piadinhas de que é o palmeirense que tem mundial.

“O Palmeiras também é campeão mundial”, responde logo, citando a conquista da Copa Rio de 1951, não reconhecida pela Fifa.

“Eu sou fanático por futebol. Vejo tudo o que passa. No futebol de mesa, você faz jogadas que simulam o que acontece no futebol. Aumenta a concentração e é esporte que ajuda a moldar meu caráter, a saber perder”, completa.

A preocupação é torná-lo atrativo para as novas gerações, acostumadas ao videogame e ao imediatismo das redes sociais. Embora as regras sejam fáceis, leva tempo para ficar bom no botão. É muito mais fácil estar com um controle de PlayStation ou Xbox nas mãos.

Na categoria sub-18, a organização reservou 32 vagas. Houve apenas 16 inscritos.

A urgência é em preservar uma tradição que começou com tampas de garrafas servindo como jogadores, passou por acrílico, celulose, e hoje tem equipes compradas por mais de R$ 1.000, com detalhes banhados a ouro.

“É o melhor esporte que tem. Não troco por nada. E ainda me ajuda no tratamento, a ficar bom depois do acidente”, conclui Christopher, sempre com a camisa do Friburguense, clube que defende no futebol de mesa.

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