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Corinthians, dez anos depois, continua na Libertadores de 2012

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O Corinthians precisa entrar em campo contra o Boca Juniors da mesma forma que em 2012”, disse o ex-jogador Emerson, promovendo a transmissão do SBT das oitavas de final da Copa Libertadores de 2022. “Entrar em campo com o sangue fervendo e mostrar para eles o que é realmente o Corinthians.”

Herói da conquista alvinegra de dez anos atrás, o Sheik hoje trabalha como comentarista da emissora paulista. As frases, claro, eram parte ensaiada de uma peça publicitária. A memória do triunfo continental era inevitável uma década depois, em duelo com o mesmo adversário, pela mesma competição. Mas o discurso é ilustrativo do que o clube vive desde aquele 4 de julho.

Para o bem ou para o mal, o Corinthians se guiou por sua conquista continental a partir do momento em que finalmente a alcançou. Campeão sul-americano — e mundial — em 2012, procurou sempre replicar o sucesso de uma temporada histórica, às vezes buscando repetir fórmulas e personagens, às vezes renegando-as.

Em 2013, foi o momento de renegar. Eliminado da Libertadores pelo próprio Boca, em jogo de arbitragem caricatamente prejudicial do paraguaio Carlos Amarilla, o time perdeu o rumo no segundo semestre. A campanha no Campeonato Brasileiro foi terrível, e a possibilidade de queda à segunda divisão chegou a ser uma preocupação.

“Eu vi o rebaixamento na minha frente!”, exclamou o então presidente Mario Gobbi, que trocou o vencedor técnico Tite pelo velho conhecido Mano Menezes e promoveu uma espécie de expurgo. Mano chegou com a tarefa de comandar uma profunda reformulação no elenco e descartou peças outrora importantes, como o herói Emerson.

Não foi ruim o trabalho do comandante de 2014, embora nenhum troféu tenha sido erguido. Ele conduziu a reconstrução do grupo e levou a equipe de volta à Libertadores. Mas, como não houve título após anos de conquistas espetaculares, o pêndulo voltou para 2012. Em 2015, voltou Tite. voltou Sheik.

Emerson durou seis meses -mas retornaria de novo, aos 39 anos, em 2018, no constante vai e volta do clube do Parque São Jorge na última década. Tite foi mais longe. O treinador fracassou no primeiro semestre, mas encaixou no segundo aquele que é seu mais ofensivo Corinthians, campeão brasileiro com ampla vantagem sobre os concorrentes.

Ele partiu em 2016 para a seleção brasileira, mas deixou um discípulo, Fábio Carille, que fazia parte de sua comissão técnica. Já sem as peças do título nacional de 2015, o paulista adotou a velha estratégia do mentor, armando a equipe a partir de uma defesa forte. Levou o Brasileiro de 2017 e foi tricampeão paulista, em 2017, 2018 e 2019.

Houve um desgaste, porém, no modelo, e Carille foi demitido. Era hora novamente de renegar a herança da Libertadores e mudar radicalmente o rumo. O presidente Andrés Sanchez contratou o jovem técnico Tiago Nunes, que obtivera sucesso no Athletico Paranaense com uma proposta ofensiva e chegou prometendo um futebol “rock’n’roll”.

Sua primeira medida — além de estabelecer horários rígidos e a necessidade de pedir autorização para ir ao banheiro durante as refeições — foi avisar que o volante Ralf, peça valiosa na conquista da América, estava fora dos planos. Mas os resultados foram desastrosos, e a direção se viu de novo em seu dilema recorrente: abraçar o passado ou mergulhar no futuro.

Tentou fazer as duas coisas, com Sylvinho, que vestira preto e branco nos anos 1990 e trabalhara na comissão técnica de Tite, mas tinha juventude, uma roupagem moderna e um currículo com cursos para treinadores realizados na Europa. Também não deu certo, e a aposta da vez é o português Vítor Pereira.

O europeu não tem nenhuma ligação com o Corinthians vencedor da Libertadores, mas está cercado de campeões. Cássio, 35, ainda é o goleiro alvinegro e o único que jamais deixou o clube desde o triunfo continental. Fábio Santos, 36, é uma das opções para a lateral esquerda e conta com a confiança do chefe. O volante Paulinho, 33, só não está jogando porque sofreu lesão grave.

Alessandro, 43, capitão nos títulos de 2012, é o gerente de futebol. Alex, 40, decisivo em batidas de falta há uma década, está na comissão técnica, administrando a transição dos garotos que sobem e descem da equipe sub-20. O treinador dos juniores é Danilo, 43, cujo passe de calcanhar deixou Emerson na cara do gol contra o Boca.

O Sheik passou pela diretoria, mas já não está nela. Teve desentendimentos e deixou seu posto, mas está sempre ligado aos chutes que deu naquele 4 de julho. Promovendo a partida de terça-feira (5) no SBT, ele avisou: “Pode vir o juiz, pode vir o Boca, pode vir qualquer um. Porque o Corinthians é isto: é a camisa cheia de sangue ou a camisa cheia de lama”.

É bem difícil, porém, a situação da formação alvinegra, esfacelada por desfalques. No jogo de ida das oitavas, em Itaquera, houve um empate por 0 a 0 que só ampliou o problema: os importantíssimos Fagner e Willian saíram machucados. Por isso, na Bombonera, será necessário sujar e camisa e, como em 2012, contar com Cássio.

Nestes dez anos, o arqueiro repetiu com a torcida a dança que a diretoria fez com os ídolos. Ora é tratado como figura histórica e insubstituível. Nas falhas, há resmungos: “obrigado, mas já deu”. Nesta temporada, ele tem se saído muito bem e é a esperança para que se concretize a chamada do jogo, veiculada no SBT de Emerson: “2012, o ano da libertação; 2022, o ano da superação”.

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