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Confederação de atletismo se preocupa com possível retirada de pista do Nilton Santos

Uma promessa do prefeito Eduardo Paes para resolver a questão do distanciamento da arquibancada para o gramado no Estádio Nilton Santos, fato que incomoda o Botafogo, que tem a concessão do equipamento, acendeu sinal de alerta na Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). E uma pista, com piso de tecnologia avançada, usada nos principais estádios olímpicos do mundo, entrou no debate. É ela que “separa” os jogadores dos torcedores. Temendo seu destino, Wlamir Campos, presidente da CBAt, pediu reunião com Paes, ainda sem data marcada.

— Queremos saber a posição formal do prefeito e o que será feito da pista. Se houver intenção de retirada, vamos ao Ministério Público. Trata-se de um estádio olímpico, com campo de futebol e duas pistas de atletismo, a interna e a externa, de aquecimento e com o mesmo piso. Tudo construído com dinheiro público — alerta Wlamir, que diz não ser possível transferir os pisos para outro local. — Não são móveis e por isso não faz sentido retirá-los. Este é o melhor e único local no Brasil com condições de receber mundiais por causa das duas pistas deste nível. Falamos de cerca de R$ 20 milhões cada, somente em termos do piso e em valores atuais. Foi nela que Usain Bolt deu o último “tiro” olímpico.

O presidente da CBAt afirma que soube pela imprensa da reunião entre Paes e o dono majoritário da SAF do Botafogo, John Textor, em que o assunto foi abordado. E que o sentimento inicial foi de descrença e indignação.

Em entrevista ao blog Panorama Esportivo, do GLOBO, o prefeito disse querer que o Botafogo permaneça com o estádio. E que, pelo fato de o Nilton Santos ser olímpico, “tem um pouco esse defeito, a distância em relação ao gramado”.

— A gente topa discutir essa alternativa, uma proposta para se aproximar a arquibancada do estádio. Provavelmente terão que fazer ali alguma obra, até baixar eventualmente o gramado — disse Paes ao Panorama Esportivo, acrescentando que poderia buscar uma alternativa para a prática de atletismo no Rio, que poderia ser a construção de nova pista.

Textor e o Botafogo nunca se pronunciaram sobre retirar a pista, mas o americano já falou em deixar o estádio. Ao SporTV, disse que “qualquer estádio construído com uma pista olímpica em volta não é um estádio de futebol”.

Procurado, o Botafogo informou, via assessoria de imprensa, que ainda não avançou no assunto e que não apresentou projetos à Prefeitura. Assim, ressaltou que não há sugestão para a questão da pista. Já a Prefeitura, via nota, disse que “já se colocou à disposição do Botafogo para ajudá-lo e aguarda que o clube apresente o projeto para a modernização do Estádio Nilton Santos”.

— Uma coisa é concessão. Outra é mudar o objeto do equipamento público. Em uma comparação simples, é como alugar uma casa com piscina e aterrá-la para estacionar o carro. E, ao deixar o imóvel, o inquilino entregar a casa sem piscina — comparou Wlamir. — Textor deve blefar sobre sair do local, já que há nova concessão até 2051.

Recentemente, o alvinegro renovou a concessão do Nilton Santos até 2051, por um valor mensal de R$ 84.187,64, além dos encargos de conservação e manutenção do equipamento.

A fórceps

A melhor pista do país não é usada pelo atletismo. Segundo Wlamir, quando a CBAt procurou o Botafogo para utilizar o estádio este ano, para o Troféu Brasil, em junho, foi informada sobre o aluguel de R$ 150 mil por dia, valor que o alvinegro cobra também quando Flamengo, Fluminense e Vasco querem jogar no estádio.

— Queremos levar grandes eventos para o Engenhão mas esse aluguel é proibitivo — queixa-se o dirigente.

A entidade pretendia realizar três torneios no estádio com recursos da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte do Rio, que acabaram não sendo captados. O GP Brasil foi para São Paulo, o Pan-Americano Sub-23, cancelado, mas o Troféu Brasil foi realizado com as provas de lançamento no anexo (para não prejudicar o gramado).

— Fizemos o Troféu Brasil lá a fórceps — fala Wlamir.

Ele explicou que a Prefeitura cedeu seus dias de uso gratuito, previstos em contrato. Esse dispositivo foi acionado para o Troféu Brasil de 2009 e para o GP Brasil em 2010, 2011 e 2012. Desde a Olimpíada do Rio não havia sido utilizado de novo.

Construído para o Pan-Americano de 2007 e concedido para o Botafogo no ano seguinte, o Engenhão, depois renomeado Nilton Santos, foi reformado para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016. A pista foi trocada. À época, a Prefeitura anunciou que a construtora Augusto Veloso havia vencido a licitação para a reforma da pista por R$ 52 milhões.

Jorge Bichara, diretor técnico da CBAt e que trabalhou 17 anos no Comitê Olímpico do Brasil (COB), aposta em uma solução que contemple ambas as modalidades.

—A pista promove sim um distanciamento do torcedor. É outro nível de experiência para quem frequenta o estádio. Mas existem alternativas estruturais em estádios olímpicos no mundo. É o caso das arquibancadas retráteis, instaladas sobre a pista. Entendo a situação de quem ocupa o estádio mas, sendo real esta possibilidade (retirada da pista), é de se lamentar.

O diretor quer resgatar o atletismo no estado, que tem “potencial enorme, principalmente para provas rápidas”. E disse que há uma movimentação de retomada em outro ponto importante do Rio:

— Existe movimentação para retomada do atletismo no Célio de Barros, no Complexo Maracanã, do Governo do Estado. Esperamos que as autoridades também tenham olhar cuidadoso com o atletismo.

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