Economia

Mercados removem cintos de segurança conforme Fed alerta para turbulência à frente

Por Howard Schneider

WASHINGTON (Reuters) – A abordagem “hawkish” –ou agressiva no combate à inflação– do Federal Reserve foi sentida rapidamente nos mercados imobiliários dos Estados Unidos neste verão (no Hemisfério Norte), à medida que as taxas de hipoteca dispararam e as vendas de imóveis desaceleraram.

Mas esse foi um dos únicos ajustes proeminentes e antecipados numa economia que tem enfrentado a mudança de política monetária mais agressiva do banco central dos EUA em uma geração com um relativo desdém.

Os preços das ações nos principais índices subiram mais de 15% desde junho; as empresas criaram cerca de meio milhão de empregos no mês passado; o prêmio que os investidores exigem para manter a dívida corporativa com classificação mais baixa, uma “proxy” para o sentimento de risco geral, vem caindo e a emissão de títulos “junk” (de risco alto) está crescendo após queda em julho.

Para um banco central cuja influência na economia passa pelos mercados financeiros, foi uma evidência de potenciais dificuldades que ainda estão por vir.

Desde março, o Fed apresentou o conjunto mais rígido de aumentos da taxa de juros em décadas. Sua taxa básica de juros estava próxima de zero desde março de 2020 para combater o impacto econômico da pandemia, mas um aumento nos preços que começou no ano passado fez com que o banco central invertesse o curso em um esforço para levar a inflação a sua meta anual de 2%.

O primeiro aumento, um movimento de 25 pontos-base, correspondeu ao incremento padrão para os últimos anos, mas o aperto foi ampliado para 50 pontos-base em maio e depois para ajustes de 75 pontos-base em junho e julho. Agora numa faixa entre 2,25% e 2,50%, a taxa básica de juros dos EUA já corresponde ao pico alcançado no último ciclo de aperto, que terminou em meados de 2019, chegando a esse ponto em sete meses desta vez, contra 38 meses na época.

No entanto, há mais de um mês, um índice do Fed de Chicago de 105 medidas de crédito, risco e alavancagem vem caindo, o oposto do que seria esperado em um mundo preparado para surpresas nas altas de juros do banco central e condições de empréstimos mais rígidas.

Os mercados vinculados à taxa básica de juros do Fed agora a veem atingindo um pico entre 3,50% e 3,75%, com cortes começando em julho próximo por causa de uma possível recessão ou colapso da inflação.

As últimas semanas trouxeram as primeiras leituras mais brandas sobre a inflação depois de mais de um ano em que as autoridades do Fed viram os preços dispararem com uma persistência que os pegou de surpresa.

No entanto, mesmo com os primeiros sinais de que a inflação pode ter atingido o pico, os preços ao consumidor ainda subiram 8,5% em relação ao mesmo período do ano anterior em julho.

A flexibilização das condições financeiras é em si uma preocupação. Se empresas, bancos e famílias não responderem como esperado aos juros mais altos que o Fed já sinalizou, eles podem continuar tomando empréstimos, emprestando e gastando em níveis que mantêm a inflação elevada e exigem que o Fed use remédios ainda mais severos.

As autoridades do Fed costumam notar que a economia demora a se ajustar às mudanças na política monetária, que, citando o economista norte-americano Milton Friedman, dizem operar com “defasagens longas e variáveis”.

“Provavelmente há algum… aperto adicional significativo por vir”, com base nos aumentos dos juros atualmente previstos, disse o chair do Fed, Jerome Powell, no mês passado.

Não está claro se isso será suficiente para reduzir a inflação, mas, segundo alguns cálculos, há um longo caminho pela frente.

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