Últimas Notícias

Livro revela os bastidores do Disque Denúncia e apresenta casos de repercussão

mixvale

Após terminar o treino de equitação na Sociedade Hípica Brasileira, na Lagoa, Zona Sul do Rio, em 26 de outubro de 1995, Carolina Dias Leite, à época com 18 anos, ficou à espera do motorista da família para voltar para casa. Quando ele chegou, por volta das 17h10, a menina foi para o banco do carona do Gol azul-marinho e, antes que o carro desse partida, foi cercado por dois homens armados.

Violência: Mulher joga água fervendo na amiga por ciúmes de ex-namorado

Em Campos: Seguranças de Rosinha e Garotinho são atacados a tiros

Inicialmente avisaram ser um assalto. Obrigaram as vítimas a irem para o banco de trás e começaram uma fuga. No caminho, os planos mudaram: o motorista foi deixado numa rua, Carolina foi sequestrada. Naquele mesmo dia, aconteceram outros dois sequestros em bairros diferentes da capital, todos envolvendo jovens da alta sociedade carioca.

A década de 1990, marcada pelo aumento exponencial de sequestros — só em 1995 foram cerca de 150 —, tem lugar de destaque no livro “Os Grandes Casos do Disque Denúncia”, do jornalista Mauro Ventura, com lançamento na próxima terça-feira, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.

Começando pelo crime contra Carolina, Mauro Ventura narra os bastidores dessa ferramenta que tem quase três décadas de atuação. São cerca de 400 páginas, divididas em seis capítulos, cada um sobre um caso cuja participação do Disque Denúncia foi fundamental. Há também nove apêndices sobre a história da organização, administrada, desde o início, por uma instituição privada, e cujo objetivo é ajudar no combate à criminalidade no Estado do Rio de Janeiro.

Morte de Zeca Borges

O projeto de escrever sobre a plataforma existe desde 2015, quando o Disque Denúncia completou 20 anos. As agendas lotadas de Mauro e Zeca Borges, coordenador da iniciativa desde o início — e amigo de longa data do jornalista —, dificultaram seu andamento. Somente cinco anos depois os dois voltariam a discutir a ideia, incentivados por Roberto Feith, editor do selo História Real da Editora Intrínseca, encarregada da publicação da obra.

O projeto da dupla quase foi interrompido em 3 de dezembro de 2021, quando Zeca, aos 78 anos, morreu após um enfarte. Mauro, inicialmente, pensou em abandonar a ideia, mas foi convencido do contrário. O livro, além dos bastidores do Disque Denúncia, também é uma homenagem ao amigo, que continua, mesmo postumamente, sendo a essência da organização.

— O livro coloca o leitor dentro do Disque Denúncia. É como se ele estivesse ali, vendo os atendentes trabalharem e como as informações são organizadas e repassadas à polícia. Lidamos com a ferramenta há quase três décadas, mas muito pouco se sabe sobre o que de fato ela é, como funciona — afirma Mauro.

Segundo o jornalista, foram pelo menos quatro as dificuldades que encontrou ao escrever o livro: o sigilo dos informantes e funcionários, que, por questões de segurança, têm os nomes omitidos; a morte de Zeca Borges, seu amigo de 24 anos; a reconstituição de crimes antigos, ocorridos numa época em que a produção de notícias não era como a de hoje; e a negativa de muitas pessoas ao pedido de entrevista.

— Eu queria escrever tudo, mas não funciona assim. É preciso saber filtrar o importante, atender à proposta do livro, que é de humanizar quem trabalha no Disque e narrar a participação dele em alguns dos grandes casos — explica.

Drogas e caça-níqueis

Para a seleção dessas histórias, os critérios utilizados foram a repercussão do crime e o impacto dele no trabalho da organização. O sequestro de Carolina e dos outros dois jovens, por exemplo, aconteceu três meses depois do lançamento do Disque, sendo, de acordo com o autor, o “divisor de águas” da época, o caso que ajudou a criar a credibilidade da ferramenta.

Desde sua fundação, em 1995, a organização colaborou para a prisão de mais de 20 mil bandidos, assim como na recuperação de quase cinco mil carros e mais de 78 mil cargas roubadas. Também ajudou na apreensão de mais de 42 mil armas e munições, cerca de 31 toneladas de drogas e 22 mil máquinas caça-níqueis. Atualmente, o Disque Denúncia tem quatro programas: Procurados, DD Cidades, Linha Verde e Desaparecidos. São cerca de quatrocentas ligações por dia.

To Top