Falta de internet limita aumento de produtividade do agronegócio no país

A conectividade no campo é essencial para que o agro brasileiro continue a ganhar produtividade. Atualmente, apenas 30% das propriedades rurais estão conectadas via satélite, rádio, 3G ou 4G. Se essa cobertura chegasse a 48%, o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária, estimado hoje em mais de R$ 1 trilhão, poderia crescer 4,5%. Já com 90% do campo com acesso à internet, o faturamento poderia ter um aumento de 9,5%.
Globo Rural: Tecnologia ajuda a reduzir o desperdício da produção agrícola
Agro é tech: Setor inova a passos rápidos e atrai startups
A estimativa é de Renata Miranda, secretária de Desenvolvimento Rural, Inovação, Cooperativismo e Irrigação do Ministério da Agricultura, que participou do 2º Fórum Futuro do Agro, realizado ontem, pela Globo Rural.
Duas iniciativas lançadas recentemente pelo governo pretendem expandir a conectividade até 48% da área produtiva, alcançando 24 milhões de pessoas. O Programa Rural + Conectado mira 2.300 localidades rurais espalhadas pelo Nordeste e alguns pontos da Região Norte.
Drones, internet e dados: Como a nova geração de produtores acelera transição tecnológica no campo
Ele conta com uma linha de crédito reembolsável para empresas de telecomunicações instalarem infraestrutura de rede nas comunidades mais remotas.
Já o Programa Torres Rurais, com foco em propriedades grandes e médias, prevê a instalação de 125 novas torres e a revitalização de outras 550. O projeto também quer fazer um upgrade para a tecnologia 4G em 3.200 torres espalhadas pelo país.
— É papel do Estado gerar políticas que incentivem o investimento privado. Onde o setor privado não vai, o Estado tem que ir — disse Renata.
Veja onde está: País já tem cerca de 2.500 cidades liberadas para receber a tecnologia 5G
Direto do campo, o produtor Paulo Bertolini, de Castro (PR), destacou que a conectividade — que permitiu sua participação no evento — é de extrema importância para o futuro econômico das propriedades rurais. Ele fez investimentos em cobertura de internet via rádio, celular e satélite, e a infraestrutura tornou possível corrigir falhas de maneira mais ágil. Isso reduziu o desperdício de produtos e aumentou a eficiência operacional.
Maior produtividade
As máquinas de Bertolini que terminaram de colher o trigo e as outras que já estão em campo para a adubação das áreas onde ocorrerá o plantio da soja têm softwares com que transmitem as informações de telemetria das lavouras em tempo real. Os colaboradores da fazenda recebem ordens de serviços nos tablets, e a quantidade de produtos utilizados no campo já recebe baixa no estoque.
Energia solar: Agricultores reservam parte das fazendas para nova produção
A tecnologia ainda gera apontamentos fitossanitários e mapas de solo, calor e produtividade nas áreas de cultivo.
— Temos uma apuração melhor de custos e gastamos menos semente, defensivo, adubo. É um impacto de redução de custo e é, também, menos produto no meio ambiente — disse Bertolini.
Expandir a conectividade para outras propriedades rurais é a meta da ConectarAgro, associação que reúne empresas de máquinas, dispositivos e telecomunicações.
Reforma: ‘É muito difícil fazer os ricos pagarem impostos’, diz secretário da Receita Federal
— Não adianta a indústria de máquinas tentar vender um trator cheio de soluções inovadoras para o produtor se, quando a máquina sai da sede da fazenda, perde o acesso a informações em tempo real — destacou a presidente da entidade, Ana Helena Andrade.
Adaptação ao clima
Além dos ganhos econômicos, sociais e ambientais, a conectividade pode ser um vetor para melhorar a adaptação do campo às mudanças climáticas — outro tema debatido no Fórum Futuro do Agro —, lembrou a secretária Renata Miranda. A assistência técnica digital pode ser um caminho para levar conhecimento aos produtores, disse ela.
Outra aplicação é para a comprovação das boas práticas da atividade agropecuária perante mercados mais exigentes.
Não é caro: Ganho com práticas sustentáveis na lavoura vai além da receita com produção
Mesmo com a baixa conectividade no campo, o E-agro, plataforma de negócios digitais do Bradesco, resolveu focar na experiência 100% on-line com os produtores. Klaus Apolinário, gestor da empresa, disse que a expansão da cobertura é essencial para dinamizar a economia rural:
— Um produtor só consegue fazer uma compra em tempo real, saber no que investir diante dos dados de solo, de condições de sua área, se tiver conectividade. O arcabouço que a gente criou ajuda a coletar dados e fornecer melhores informações aos produtores.
Por mais que agricultores e pecuaristas ainda valorizem o contato pessoal, principalmente para fechar negócios, ele acredita na criação de uma relação “híbrida”, em que o digital estará cada vez mais presente na tomada de decisão.
Muito além da soja: Brasil se destaca na exportação de amendoim com alta de 40% em 3 anos
O fórum ainda debateu a expansão do uso de insumos biológicos no campo. Régis Damásio, produtor rural e diretor-superintendente da Monteccer, Cooperativa dos Cafeicultores de Monte Carmelo (MG), disse que a revolução biológica no campo ainda enfrenta resistência. Por isso, a cooperativa criou uma cartilha para tratar do assunto.
Líder de negócios para biológicos da Corteva no Brasil e no Paraguai, Cristiane Delic afirmou que não há como a agricultura brasileira deixar de usar produtos químicos, mas a indústria vem desenvolvendo moléculas de menor impacto.
