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Augusto Bonequeiro, mestre do humor com bonecos, morre aos 74 anos no Ceará

Augusto Bonequeiro
Augusto Bonequeiro - Arquivo pessoal G1

Morreu nesta terça-feira, 4 de novembro de 2025, o humorista Augusto César Barreto de Oliveira, conhecido como Augusto Bonequeiro, aos 74 anos, em Fortaleza, capital do Ceará. O artista, referência no teatro de bonecos, faleceu por volta das 8h em um hospital particular da cidade. A Secretaria da Cultura de Fortaleza confirmou a morte em nota oficial, sem divulgar detalhes sobre a causa imediata.

Augusto Bonequeiro residia em uma casa de repouso e enfrentava a doença de Parkinson há 14 anos, além de diagnóstico recente de Alzheimer. Ele deixa dois filhos. O velório ocorre nesta quarta-feira, 5, e o enterro está marcado para quinta-feira, 6.

A notícia gerou repercussão imediata na Assembleia Legislativa do Ceará, que prestou minuto de silêncio em homenagem ao artista.

  • Principais personagens criados: Seu Encrenca e Dona Cremilda.
  • Doenças diagnosticadas: Parkinson e Alzheimer.
  • Tempo de carreira: Mais de 40 anos.

Início da carreira em Pernambuco

Augusto Bonequeiro nasceu em Escada, Pernambuco, e iniciou sua trajetória artística em 1973 no Teatro de Amadores de Pernambuco. Dois anos depois, em 1975, integrou a fundação do Teatro Espontâneo do Recife, onde explorou espetáculos iniciais com bonecos.

Na década de 1980, o artista aprofundou estudos em cursos e oficinas sobre manipulação de bonecos, consolidando técnicas que o tornaram pioneiro na região.

Chegada e consolidação no Ceará

Augusto Bonequeiro mudou-se para Fortaleza na década de 1980, trazendo o Grupo Folguedo de Teatro de Bonecos, que fundou anteriormente. O grupo preencheu lacuna na cena local, sem equivalentes contemporâneos na época.

Em 1987, ele criou a Associação Brasileira de Teatro de Bonecos – Núcleo Ceará, atuando como presidente e vice-presidente em períodos subsequentes. Essa iniciativa promoveu formação de novos artistas na linguagem.

O bonequeiro também dirigiu administrativamente o Grupo Bonecos e Mamulengos por mais de 10 anos, em parceria com a atriz Ângela Escudeiro. Junto à ex-companheira Zilda Torres, estabeleceu a Casa de Bonecos, uma escola dedicada à formação em teatro de bonecos.

Presença na televisão regional

O programa Bodega do Encrenca, exibido por 20 anos na TV cearense, destacou personagens como Seu Encrenca e Dona Cremilda. Augusto Bonequeiro manipulava os bonecos em interações humorísticas ao lado da atriz Hiramisa Serra.

Na Paraíba, o programa A Hora do Chibata, com o personagem Salomão Chibata, permaneceu no ar por mais de 15 anos na TV Tambaú. Essa atração alcançou projeção nacional, com o boneco irreverente marcando gerações.

Em 1999, o artista integrou o programa H e o Jornal da Noite, da Rede Bandeirantes, apresentando o boneco Cassimiro. Essas aparições expandiram o alcance de seu trabalho além do Nordeste.

Participações em festivais internacionais

Augusto Bonequeiro apresentou espetáculos em eventos no Brasil e exterior, incluindo Argentina, Itália, Espanha, Portugal e Suíça. Seus bonecos, totalizando mais de 300 criações, adaptavam-se a contextos variados.

Festivais nacionais o convidaram regularmente, valorizando a fusão de humor popular e teatro de bonecos. Essa mobilidade reforçou sua reputação como educador itinerante.

Contribuições educativas com bonecos

O teatro de bonecos de Augusto Bonequeiro incluiu abordagens educativas em escolas, tratando temas como dengue, DST/Aids e meio ambiente. Apresentações duraram anos, alcançando milhares de alunos no Ceará.

Humoristas como Jáder Soares, que colaborou por cinco anos no programa Botando Boneco, destacam o pioneirismo nessas iniciativas. O foco em conscientização combinava entretenimento com informação prática.

Homenagens recentes ao artista

Em abril de 2024, o Museu do Humor Cearense inaugurou sala dedicada a Augusto Bonequeiro, no dia de seu aniversário, expondo bonecos e trajetória. A data coincidiu com o Dia Mundial do Teatro de Bonecos, celebrado em 21 de março, mas adaptada para o calendário local.

Em setembro de 2024, show beneficente na Arena do Humor, organizado por Lailtinho Brega, arrecadou fundos para cuidados médicos após internação em UTI. Amigos promoveram doações diretas para despesas em casa de repouso.

A Associação Brasileira de Teatro de Bonecos emitiu nota lamentando a perda, enfatizando sua paixão pela cultura popular. Pesquisadores como Vanéssia Gomes, do Teatro Carlos Câmara, reconhecem sua aproximação com o público através da arte acessível.

Omar Rocha, também bonequeiro, descreve Augusto como referência máxima para brincantes no Ceará, pela determinação em preservar a tradição.

  • Salas dedicadas em museus: Uma no Museu do Humor Cearense.
  • Eventos beneficentes: Pelo menos um em 2024.
  • Bonecos criados: Mais de 300 ao longo da carreira.

A trajetória de Augusto Bonequeiro influenciou gerações de artistas no teatro de bonecos, com ênfase em formação e difusão cultural. Ele atuou como professor de mamulengo e articulou associações nacionais, garantindo continuidade da prática. Seus espetáculos misturavam humor cotidiano com elementos educativos, adaptados a públicos escolares e teatrais. Mesmo após o diagnóstico de Parkinson, que afetou a fala, o artista atribuía falhas ao boneco Fuleragem, mantendo apresentações até os limites físicos permitirem. Essa resiliência marcou sua dedicação, registrada em mais de quatro décadas de trabalho ininterrupto, incluindo direção de grupos e participação em oficinas internacionais. O acervo de bonecos, confeccionados manualmente, reflete variedade de linguagens, desde o mamulengo tradicional até criações contemporâneas, preservadas agora em espaços como o Museu do Humor Cearense.

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