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Mortes à espera de UTIs aumentam no interior de São Paulo

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – O colapso nas redes de saúde no interior de São Paulo devido à Covid-19 tem feito com que a cada dia mais cidades decretem medidas como o lockdown, fechando farmácias e supermercados e proibindo a venda de bebidas alcoólicas na tentativa de frear a disseminação do coronavírus.

Nas regiões de Ribeirão Preto e Franca, virou cena comum pessoas morrerem em leitos de prontos-socorros ou UPA (Unidade de Pronto Atendimento) enquanto esperam a abertura de vaga em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Com os hospitais lotados e sem ter como transferir pacientes para municípios vizinhos, também com 100% de ocupação em UTIs, 23 cidades nas duas regiões decretaram nos últimos dias medidas muito restritivas, 11 delas com lockdowns e 5 com restrições severas. E prefeitos relatam desespero com a situação.

Só em Franca, que iniciou lockdown nesta quinta (27), 50 pacientes estão no pronto-socorro Álvaro Azzuz, 24 deles esperando por uma vaga em UTI que por enquanto não existe. Nove desses pacientes estão intubados. Ao menos 7 já morreram no local aguardando leitos.

Em Batatais, um homem morreu na UPA depois de ficar quatro dias esperando transferência para algum hospital.

A suspensão do transporte coletivo para reduzir a circulação de pessoas e o fechamento de bancos são algumas das medidas que as prefeituras anunciaram –inclusive de forma conjunta– para tentar evitar a propagação da Covid-19.

Essas cidades, que somadas têm 1,53 milhão de habitantes, acumulam, até quarta-feira, 147.279 casos e 3.893 mortes em decorrência do coronavírus. Mas, mais do que o total de casos, a aceleração da necessidade de internações em UTI e de óbitos devido à circulação da variante brasileira (P.1) é o que mais tem preocupado as cidades.

Doze dos municípios têm menos de 20 mil habitantes e adotaram restrições por não terem leitos de UTI ou não terem condições de transferir pacientes para outras localidades.

É o caso de Brodowski, que tem só 20 leitos de enfermaria, todos ocupados e com três pacientes intubados. As opções são enviar os doentes para Batatais (10 km) ou Ribeirão Preto (24 km), mas a primeira não tem vagas livres em UTI há mais de dois meses e a rede pública da segunda também está no limite.

“Temos pessoas morrendo porque não abrem vagas nem em enfermarias, muito menos em UTI na região de Ribeirão Preto. A situação é caótica”, disse o prefeito José Luiz Perez (PSDB).

Na quarta, Perez anunciou medidas válidas de sexta (28) a 6 de junho que incluem fechamento da cidade com barreiras sanitárias, aferição de temperatura e blitze com equipes da Polícia Militar, agentes comunitários e fiscais. “Nós não temos onde colocar mais as pessoas, de tanta gente infectada em nosso município.”

Em Ipuã, o prefeito Ronywerton Marcelo Alves Pereira (PTB) chegou a decretar lockdown por dez dias, entre os dias 28 e 6, mas permitiu, nesta quinta, que o comércio pudesse abrir com 30% da capacidade.

“Nossos leitos de UTI estão com 100%, muita gente na fila aguardando leitos, muita gente morrendo na fila, morrendo nos leitos de UTI. Temos algumas variantes do vírus aqui na região, está ficando muito desesperadora a nossa situação sanitária”, disse ao anunciar as restrições.

Além de Franca, também já estão ou iniciarão lockdown Batatais, Bebedouro, Viradouro, Taiúva, Cristais Paulista, São José da Bela Vista, Cajuru, Patrocínio Paulista, Itirapuã e Restinga.

As restrições variam, mas em geral englobam o funcionamento apenas por delivery de supermercados e lojas.

Em Altinópolis, a prefeitura adotou toque de recolher das 20h às 5h até segunda (31), suspendeu o transporte circular, fechou o comércio e supermercados, proibiu a venda de bebidas e adotou barreiras sanitárias desde terça.

“O mais importante é que cada pessoa tenha consciência e responsabilidade. A situação é grave e nesse momento precisamos que cada um faça sua parte”, disse o prefeito José Roberto Ferracin Marques (PSD).

Nas outras cidades, as restrições se assemelham. Em Aramina, a prefeitura liberou o funcionamento normal de farmácias e supermercados, mas lojas, restaurantes e lanchonetes só atendem por delivery, drive-thru ou retirada.

Vizinhas a Franca, as cidades de Cristais Paulista, São José da Bela Vista e Patrocínio Paulista também terão lockdown de 15 dias. Em Patrocínio, com menos de 15 mil habitantes, 2 das 26 mortes da pandemia foram confirmadas na terça-feira passada.

Em Cristais, a preocupação é a mesma que atinge Franca: festas em condomínios de chácaras aos finais de semana. Daí a restrição à venda de bebidas em algumas localidades.

A turística Rifaina, além de proibir a venda de bebidas e o consumo em vias públicas, vetou o encontro de pessoas e o funcionamento de academias, mas manteve supermercados abertos de segunda a sexta, assim como o comércio.

Já em Itirapuã, a prefeitura publicou decreto nesta quinta que fecha farmácias e supermercados, que só podem funcionar via delivery.

Também há decisões tomadas em conjunto, como a que envolveu Ituverava, Miguelópolis, Igarapava, Guará, Buritizal e Aramina, com o objetivo de evitar que uma siga aberta e receba consumidores de outra cidade que eventualmente tenha restringido atividades.

Segundo o prefeito de Miguelópolis, Naim Miguel Neto (PSDB), o temor é o aumento da segunda onda da Covid-19 e o risco de as cidades chegarem à situação de municípios vizinhos, escassos de leitos.

“Sabemos que em Franca hoje não tem leito, que em Ribeirão não tem leito disponível, que se a gente hoje ou amanhã precisar de um leito de UTI, mesmo particular, não tem para onde encaminhar nosso paciente.”

Ituverava decidiu que supermercados podem abrir de segunda a sábado, com lotação máxima de 30%, mas restaurantes e bares não podem ter atendimento presencial até 13 de junho.

Em Guará, as medidas vigoram a partir de sexta, com toque de recolher das 21h às 6h, e supermercados não podem abrir aos domingos. Lanchonetes e pizzarias podem operar sem consumo no estabelecimento.

Maior cidade da região, Ribeirão Preto iniciou nesta quinta suas restrições, válidas por cinco dias, marcada pelo vazio que tomou conta dos seus principais corredores comerciais.

Cidade que tem como principais pilares da economia os setores de comércio e serviços, Ribeirão tinha como único movimento em seu calçadão, na região central, as luzes dos veículos em patrulhamento da Polícia Militar ou da Guarda Civil Metropolitana.

As avenidas Nove de Julho, Presidente Vargas, Francisco Junqueira e Dom Pedro, algumas das que concentram atividades comerciais, se assemelhavam ao movimento de feriados, com pouco trânsito de veículos e algumas pessoas fazendo caminhada.

Com 2.132 óbitos até quarta, Ribeirão acumula mais de 78 mil casos da doença e chegou à noite desta quinta com 94,38% de ocupação em UTIs, com 302 pacientes para as 320 vagas existentes.

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