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Pisa 2022: Brasil está entre países com mais estudantes que se sentem solitários na escola; 11% relatam bullying frequente

Além de avaliar competências em Matemática, Leitura e Ciências, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) dimensiona, nos diferentes países, a exposição ao bullying e o sentimento de solidão no ambiente escolar entre estudantes na faixa dos 15 anos de idade, foco do levantamento. A edição de 2022, divulgada nesta terça-feira, aponta que, no Brasil, embora a maioria dos entrevistados no exame tenha afirmado se sentir parte da escola (76%) e ter facilidade para fazer amizades (70%), 27% relataram se sentir solitários, o quinto maior percentual entre as 81 economias participantes do levantamento. Em 2018, última edição do Pisa, esse índice era de 23%.

O contigente de estudantes que se sentem solitários na escola no Brasil ficou no ano passado, numericamente, atrás apenas do contabilizado nas Filipinas (28% se sentem solitários), Turquia (28%) e, por alguns décimos, em El Salvador e no Chile (ambos com 27%). A média é de 16% entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que faz a avaliação.

Os resultados mostram ainda que 11% dos alunos entrevistados no país relataram sofrer bullying (intimidação sistemática) com frequência na escola. Nos países da OCDE , o contigente é de 8%. Já o percentual de meninas que relatam ser alvo de bullying no Brasil algumas vezes no mês soma 22%, equanto, entre os meninos, 26% afirmam passar pela mesma situação. Nos países da OCDE, os percentuais são 20% e 21%, respectivamente.

Ainda segundo a avaliação do Pisa, 19% dos estudantes brasileiros disseram se sentir “deixados de lado” ou como estranhos nas instituições de ensino, mesmo percentual dos que não se sentem satisfeitos com suas vidas.

Nesse tópico, o percentual é o mesmo da média de países da OCDE, mas porque nos países mais ricos ele vem subindo ano a ano. Nesse conjunto de economias, os insatisfeitos com suas vidas passaram de 11%, em 2015, para 16% em 2018 e somaram 18% em 2022.

No caso do Brasil, mais de 14 mil alunos fizeram a prova do Pisa em 606 escolas de 420 municípios, nos 26 estados e no Distrito Federal, em 2022. A avaliação aponta que a aprendizagem dos estudantes brasileiros se manteve baixa e estável desde 2009.

Competências socio-emocionais como saída

Gerente-executiva de advocacy do instituto Ayrton Senna, Beatriz Alquéres lembra que o contexto de violência e desafios como o bullying e o sentimento de não pertencimento ao ambiente escolar impactam a aprendizagem. O relatório do Pisa ressalta que o desempenho dos estudantes em matemática melhorou, por exemplo, em sistemas educacionais em que o bullying diminuiu. Da mesma forma, alerta que alunos que estão sozinhos provavelmente não se destacarão em uma sala de aula, enquanto aqueles que se sentem mais pertencentes à comunidade escolar tendem a se sentir mais seguros e menos expostos ao bullying.

A pesquisadora aponta que o problema pode ser enfrentado com o desenvolvimento de competências socio-emocionais, habilidades que envolvem, por exemplo, como os estudantes organizam o tempo, seu engajamento com os colegas, capacidade de ter empatia, resiliência emocial e abertura para o novo. Essas competências já compõem hoje, no Brasil, a Base Nacional Curricular Comum, mas ainda demandam políticas para serem implementadas no país. Uma oportunidade para fazer esse debate, diz, é o projeto de lei com mudanças no Novo Ensino Médio que tramita no Congresso.

— Essas competências fazem parte de uma abordagem de educação integral, que deve ser garantida a todos os estudantes, e são as que mais influenciam na interação no momento de aprender. Elas já norteiam a base curricular, mas sua implementação precisa ser priorizada com políticas estruturadas. A gente precisa criar tempo na escola para isso ser trabalhado, não digo como disciplina extra, mas como competências que devem ser trabalhadas junto com as disciplinas tradicionais. A matematica, por exemplo, pode trabalhar a resiliência e autogestão — explica Beatriz Alquéres.

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