RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Novembro de 2013. Um descarrilamento de trem em São José do Rio Preto deixa oito mortos, seis feridos, destroi duas casas e interdita a ferrovia por nove dias. Já em Araraquara, um contorno ferroviário foi feito para evitar que trens cruzem a cidade e problema semelhante ocorra, mas as composições ainda entram na zona urbana, 11 anos após o prazo em que isso deveria ter deixado de acontecer.
Os municípios do interior são dois dos que esperam obras ferroviárias com a renovação por 30 anos da concessão da malha paulista, que ainda não foi assinada, e já fazem planos para após o fim do tráfego de trens em perímetro urbano.
Ao buscar a renovação da concessão, a Rumo, concessionária que administra a malha, teve de produzir um caderno de obrigações com contrapartidas que contempla obras em ao menos 35 municípios paulistas, que vão de contornos ferroviários à reativação de ramais, passando por viadutos, passarelas e pontes. A ferrovia atravessa cerca de 60 cidades do estado.
A meta com todas as obras, que incluem duplicação de trechos e ampliações de pátios, é fazer com que o transporte ferroviário alcance 70% do volume de cargas que chegam ao porto de Santos, de acordo com Guilherme Penin, diretor regulatório e institucional da Rumo. Hoje, tal índice é obtido pelo transporte rodoviário.
O processo de renovação antecipada da concessão está sob análise do TCU (Tribunal de Contas da União) e não há prazo para a definição. Depois, ajustes ainda poderão ser feitos por órgãos como ANTT e ministério da Infraestrutura.
As ferrovias surgiram em São Paulo a partir da segunda metade do século 19 para atender principalmente interesses dos cafeicultores em trechos curtos, razão pela qual seu traçado até hoje é sinuoso em alguns locais seguia a lógica de passar nas lavouras de café para embarcar com destino a Santos.
Com isso, há curvas hoje inadequadas, rampas acentuadas, baixas velocidades e composições que cortam a zona urbana de importantes cidades paulistas.
O cenário é diferente do verificado na Ferronorte, que chegou a Rondonópolis (MT) em 2012: os trens contam com raios de curvas ideais, cortam poucas áreas urbanas e viajam a 80 km/h, enquanto em São Paulo há trechos em que a velocidade é de 30 km/h, devido aos conflitos urbanos e às características físicas da ferrovia.
Quanto maior for o trem, a velocidade e a distância que conseguir atender, mais eficiente é a ferrovia. Uma carga que deixe o Mato Grosso do Sul com grãos rumo a Santos pode tirar cerca de 300 caminhões das estradas, numa viagem de 1.700 quilômetros.
TRAVADO
O contorno de Rio Preto é considerado crítico e deve ser uma das prioridades, ao lado da conclusão dos similares em Araraquara e Rio Claro.
O acidente de 2013 em Rio Preto ocorreu com a extinta ALL (América Latina Logística), absorvida pela Rumo. Já as obras nas outras duas cidades são necessárias para que os trens não entrem mais para passarem por manutenção ou abastecerem.
A cidade hoje está dividida, com muitas passagens em nível que param o trânsito. São 24 comboios diários, em média, com 90 vagões, o que interrompe totalmente o trânsito. Com a chegada da ferrovia Norte-Sul, esperamos que dentro de uns três anos, vai aumentar muito o volume, disse o prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo (MDB).
A intenção da prefeitura é tirar o tráfego de trens do perímetro urbano, mas não os trilhos, que podem ser aproveitados com a implantação de um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) para se conectar com os ônibus urbanos.
Por isso, Araújo defende a prorrogação da concessão para que os investimentos saiam em curto e médio prazos. O contorno a ser feito tem extensão de 54 quilômetros.
Já o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), disse que a construção da oficina e do posto de abastecimento fora da zona urbana vai liberar 1 milhão de metros quadrados de área que hoje está degradada.
Cria condições para negociar [a cessão] com o governo federal. Hoje ela divide a Vila Xavier, região com 40 mil habitantes, do centro da cidade, disse.
A retirada dos trilhos em Araraquara se arrasta desde 2008, primeira data de entrega, ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Orçada em R$ 82,9 milhões, em 2014 seu valor já tinha atingido R$ 125,3 milhões, 51% mais devido a correções inflacionárias e readequações no projeto.
Além das obras, o plano prevê reativar os ramais de Panorama e Colômbia, que têm 369 km e 300 km, respectivamente, e mostraram viabilidade econômica, segundo a Rumo. O primeiro devido ao potencial de carga até Barretos, com o agronegócio, sobretudo açúcar, enquanto no de Panorama o potencial é visto especialmente até Tupã.
As obras, segundo Penin, estão concentradas no início da nova concessão e a ideia da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) é que elas sejam feitas até 2028. Como é um conjunto grande de obras, centenas de quilômetros de vias novas e milhares de quilômetros de vias modernizadas, enquanto atacamos frentes de obras mais simples, faremos etapas das mais complexas. Que a gente consiga fazer a maior parte nos cinco primeiros anos.