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Chefe da ONU alerta para medidas repressivas em meio à crise do coronavírus

Por Michelle Nichols

NOVA YORK (Reuters) – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse nesta quinta-feira que o coronavírus pode dar a alguns países uma desculpa para adotar medidas repressivas por motivos sem relação com a pandemia ao alertar para o risco de o surto se tornar uma crise de direitos humanos.

Guterres divulgou um relatório da ONU que ressalta como os direitos humanos deveriam balizar a reação e a recuperação da crise sanitária, social e econômica que tomou o mundo, e acrescentou que, embora o vírus não discrimine, seus impactos o fazem.

O novo coronavírus, que causa a doença respiratória Covid-19, já infectou cerca de 2,57 milhões de pessoas globalmente e matou 178.574, de acordo com uma contagem da Reuters. O vírus surgiu na cidade chinesa de Wuhan no final do ano passado.

“Vemos os efeitos desproporcionais em certas comunidades, a ascensão do discurso de ódio, a vitimização de grupos vulneráveis e os riscos de reações de segurança muito duras minando a reação sanitária”, disse Guterres.

O relatório da ONU disse que imigrantes, refugiados e pessoas deslocadas internamente são particularmente vulneráveis, que mais de 131 países fecharam as fronteiras e que só 30 abriram exceções para postulantes a asilo.

“Tendo como pano de fundo a ascensão do etnonacionalismo, do populismo, do autoritarismo e o repúdio aos direitos humanos em alguns países, a crise pode oferecer um pretexto para se adotar medidas repressivas com objetivos sem relação com a pandemia”, disse ele. “Isto é inaceitável”.

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A ONU não deu nenhum exemplo específico de tais medidas.

Guterres pediu que os governos sejam transparentes e receptivos e assumam responsabilidades, e enfatizou que o espaço cívico e a liberdade de imprensa são “críticos”. “A melhor reação é aquela que reage proporcionalmente às ameaças imediatas protegendo os direitos humanos e o Estado de Direito”.

Com os negócios fechados e centenas de milhões de pessoas orientadas a ficar em casa para evitar disseminar o vírus, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que o mundo sofrerá sua pior retração desde a Grande Depressão dos anos 1930.

O relatório da ONU disse que a pandemia está criando novas adversidades que, “se não forem mitigadas, elevarão a tensão e podem provocar distúrbios civis”, acrescentando que isto, por sua vez, pode desencadear uma reação de segurança muito forte.

“Em tudo que fazemos, nunca esqueçamos: a ameaça é o vírus, não as pessoas”, disse o secretário-geral.