Bradesco quase dobra reserva contra calote, e lucro cai 40% no 1º trimestre

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O lucro do Bradesco caiu 39,8% no primeiro trimestre de 2020 em relação a iguais três meses de 2019, a primeira retração, na comparação anual, desde o quarto trimestre de 2016.
Naquele trimestre, a baixa havia sido de apenas 4%.
O tombo do primeiro trimestre de 2020 foi causado pelo forte aumento de reservas para cobrir eventuais calotes, consequência dos danos econômicos do coronavírus. O salto nessas reservas foi de 86,1% -para R$ 6,7 bilhões.
Assim, o lucro líquido do ficou em R$ 3,8 bilhões.
O Bradesco é o segundo grande banco a apresentar os resultados do primeiro trimestre. O Santander, que divulgou seu balanço na terça (28), apontou alta de 10,5% no lucro, para R$ 3,9 bilhões.
Em relatório, o Bradesco, que é o segundo maior banco privado do país, afirmou que seu nível de provisionamento reflete as expectativas de perdas para o banco e que foi atualizado dadas a crise provocada pela pandemia do coronavírus e as incertezas em relação ao tamanho do impacto que a doença terá na economia (e, consequentemente, nos resultados do banco).
“Reconhecemos adicionalmente R$ 2,7 bilhões de provisão em nosso resultado deste trimestre. Esse valor, somado a parcela preexistente de R$ 2,4 bilhões, reservada para possíveis perdas em cenário econômico adverso, totaliza uma provisão de R$ 5,1 bilhões”, afirmou a instituição.
Do total de R$ 5,1 bilhões em provisão, R$ 4,9 bilhões estão alocados, inicialmente, como provisão complementar e R$ 200 milhões como provisão requerida.
O CMN (Conselho Monetário Nacional) já havia diminuído a necessidade de provisão dos bancos em meados de março, quando dispensou que bancos precisassem aumentar seu provisionamento no caso de repactuação de operações de crédito pelos próximos seis meses.
No início de abril, o CMN também permitiu que empréstimo atrasados permanecessem na mesma classificação de risco anterior a fevereiro.
A classificação de risco é calculada de acordo com o perfil e com o histórico do cliente e mede o potencial de inadimplência daquela operação. Quando o tomador atrasa o pagamento ou pede renegociação de dívidas, o crédito cai de categoria e o banco precisa aumentar os recursos provisionados, uma vez que o risco de os recursos não serem recuperados sobe.
Assim, como as medidas de flexibilização são temporárias, os bancos começam a antecipar provisões para calotes futuros, também baseadas no aumento de crédito concedido no período de crise.
A carteira de crédito do Bradesco, por exemplo, apresentou um aumento de 17% no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado, para R$ 655,1 bilhões.
Os principais destaques ficaram com pessoas físicas, cujos empréstimos subiram 19,5%, para R$ 239 bilhões. A alta desse segmento foi puxada pelas linhas de crédito pessoal e consignado , que cresceram 36,7% e 22%, respectivamente.
A carteira de pequenas e médias empresas apresentou aumento de 17,8%, para R$ 119,1 bilhões, e o crédito às grandes empresas teve alta de 14,8%, para R$ 296,7 bilhões.
A inadimplência total do Bradesco também apresentou avanço no primeiro trimestre de 2020, de 3,3% em igual período de 2019 para 3,7%. Todos os segmentos mostraram alta nos calotes acima de 90 dias: o índice de pessoas físicas subiu de 4,4% para 4,8%, enquanto o indicador das micro, pequenas e médias empresas aumentou de 3,7% para 4,5% e o das grandes empresas foi de 0,8% para 1,2%.
JUROS MAIORES
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Júnior, afirmou que as novas operações de crédito feitas durante o coronavírus -com exceção das linhas emergenciais que foram criadas especificamente para o momento- devem ter juros e spreads (diferença entre a taxa de captação e os juros pelos quais o banco empresta) maiores, impulsionados pelo cenário de pandemia.
Segundo Lazari, ainda que os juros das operações renegociadas pelos clientes e das linhas alternativas emergenciais criadas em conjunto com o setor público não sofram alterações, a demanda por recursos novos vai passar por um crivo maior por parte do banco e tende a ter taxas pressionadas pelo maior risco que o ambiente apresenta.
“Ainda não temos certeza do que vai acontecer pela frente, nem de quando isso vai terminar ou como vai ser o futuro, e a demanda de recursos novos passará por um crivo acentuado e pode ter juros e spreads um pouco maiores. É o mercado que vai regular isso ao longo do tempo pela disputa natural que temos no setor”, disse o presidente do banco em conferência com jornalistas nesta quinta-feira (30).
“Além disso, temos mapeado alguns setores que vão sofrer mais e, principalmente nesse cenário, as empresas também terão que ter consciência maior do quanto podem se alavancar”, completou o executivo.