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Em bairros ricos de SP, até 10% dos moradores passam quarentena fora

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A proporção de moradores dos bairros mais ricos de São Paulo que está passando a quarentena fora de suas casas é cinco vezes maior do que a de locais mais pobres.
Se os bairros da capital forem divididos em quatro faixas iguais por riqueza, na faixa mais rica, 7% dos moradores estão fora da residência, chegando a 10% no Jardim Paulista e 9% em Pinheiros. Na outra ponta, apenas 1% dos que vivem nas regiões da faixa mais pobre se mudaram nesse período.
A conclusão vem de levantamento da Folha de S.Paulo com base em dados de aparelhos móveis, fornecidos pelo Covid Radar, coletivo de 40 empresas e instituições que compartilham informações para enfrentar a pandemia.
No total, 4,5% da amostra se mudou durante a quarentena. É proporção semelhante à de Nova York (5%), segundo levantamento feito pelo The New York Times.
Se a mudança pode trazer mais conforto a quem se muda no período (por ficar próximo de outros familiares ou estar em local mais espaçoso, por exemplo), pode também ter ajudado a espalhar o vírus, pois a capital paulista foi a primeira grande atingida pela Covid-19. E bairros ricos da cidade foram onde apareceram com mais força os primeiros casos.
Atualmente, pelo menos três em cada cinco municípios brasileiros já possuem casos confirmados.
O levantamento com base nos aparelhos móveis, porém, não permite calcular o impacto dessas viagens na propagação da doença.
A reportagem não tem acesso a informações pessoais dos portadores dos aparelhos analisados. Foi considerado apenas em que distritos estavam.
O local de residência foi determinado considerando onde eles mais estavam entre 19h e 9h, no período entre 2 e 15 de março (antes da quarenta ser decretada no estado).
Cerca de 5,5 mil aparelhos passaram a aparecer mais em outros locais entre 24 de março e 15 de maio, já com o isolamento social em curso.
O perfil do bairro foi definido a partir da proporção de residências cujos rendimentos passem de cinco salários mínimos.
O interior do estado é a região para onde mais foram os residentes dos bairros mais ricos da capital. Esse foi o destino de 52% daqueles que deixaram suas casas em locais mais abastados.
Já os mais pobres que deixaram suas residências partiram para outros estados (42% daqueles que se mudaram).
Diferença de padrão entre classes sociais também foi constatada em Nova York. Lá, porém, de forma mais drástica. A queda na proporção de moradores chegou a 40% em alguns locais, como os abastados Upper East Side, West Village, SoHo e Brooklyn Heights.
Ao The New York Times, o professor da Universidade Nova York Kim Phillips-Fein, autor de um livro sobre como a cidade se tornou mais violenta nos anos 1970 com a crise fiscal e a fuga da classe média para os subúrbios (“Fear City”), disse que os dados mostram como crises afetam de forma desigual as classes sociais.
“Mesmo que haja uma retórica muito forte de ‘estamos todos juntos nessa’, isso não acontece na prática.”
Base de dados para o levantamento, a Covid Radar conta com representantes de instituições como Serasa Experian, Amazon e USP.

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