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Grupo associa Steven Pinker a racismo e sexismo e pede intervenção de sociedade de linguistas

BAURU, SP (FOLHAPRESS) – Mais de 500 linguistas entregaram, na segunda-feira (6), uma carta à Sociedade Americana de Linguística (LSA) pedindo a remoção do nome de Steven Pinker da lista de seus membros prestigiados da por causa de um “padrão de abafamento das vozes de pessoas que sofrem violências racistas e sexistas”.
Além de linguista, Pinker é psicólogo cognitivo, professor da Universidade Harvard e autor, entre outros livros, de “O Novo Iluminismo: Em Defesa da Razão, da Ciência e do Humanismo”.
“Queremos observar aqui que não temos nenhum desejo de julgar as ações do Dr. Pinker em termos morais ou afirmar que sabemos quais são seus objetivos”, diz o texto assinado por linguistas de várias nacionalidades.
“Também não procuramos ‘cancelar’ o Dr. Pinker, ou impedi-lo de participar das comunidades linguísticas e da LSA (embora muitos de nossos signatários possam acreditar que fazê-lo seria o curso de ação correto).”
A reivindicação dos autores é que a LSA remova Pinker de uma lista equivalente ao “hall da fama” da comunidade linguística.
“Acreditamos que os membros [da lista] têm uma responsabilidade que vem com a honra, credibilidade e visibilidade atribuídas a eles por sua nomeação. Dr. Pinker não atende a esse padrão.”
O documento enumera seis ocasiões em que o comportamento de Pinker foi considerado inapropriado pelos autores. A primeira delas é uma publicação feita no Twitter em 2015.
“Dados: polícia não atira desproporcionalmente em negros. Problema: não é a raça, mas muitos tiroteios da polícia”, escreveu Pinker ao compartilhar uma reportagem do jornal americano The New York Times que apresenta estatísticas sobre a morte de pessoas negras por policiais nos EUA.
A carta do grupo de linguistas destaca um trecho da reportagem que diz que “os dados são inequívocos” e que os “afro-americanos estão sendo mortos de forma desproporcional e por uma ampla margem”.
Para os autores, “isso que mostra que Pinker está disposto a fazer afirmações desonestas a fim de ofuscar o papel do racismo estrutural na violência policial”.
Em outra ocasião apontada pelo documento, Pinker compartilhou um artigo de opinião do New York Times, cujo título era “Por que os policiais são mais perigosos que os aviões?”.
“A polícia mata muitas pessoas, brancas e negras. O foco na raça distrai da solução do problema, como fazemos com os aviões”, tuitou o linguista.
Os autores da carta alegam que, “mais uma vez, isso demonstra claramente a disposição do Dr. Pinker a rejeitar e subestimar a violência racista, independentemente de qualquer evidência”.
Em outro exemplo, o documento apresenta uma publicação feita por Pinker em 2014.
Na ocasião, um estudante havia matado seis pessoas na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (UCSB), depois de publicar um vídeo na internet apresentando os motivos do crime.
Pinker escreveu: “A idéia de que os assassinatos na UCSB fazem parte de um padrão de ódio contra as mulheres é estatisticamente obtusa.”
Nesse ponto, os autores da carta admitem um erro de informação. A princípio, o documento dizia que as vítimas eram seis mulheres, quando, na verdade, foram duas mulheres e quatro homens.
Mesmo assim, o grupo de linguistas acusa Pinker de “ignorar ou negar” a motivação misógina do assassino, que escolheu uma irmandade feminina como alvo.
O documento apela a declarações públicas da LSA para argumentar que Pinker “se opõe diretamente” aos valores defendidos pela instituição.
Para aqueles que quiserem se tornar signatários, os autores disponibilizaram um endereço de e-mail e restringiram a assinatura para linguistas diretamente relacionados a instituições de ensino.
Segundo um adendo no texto, o formulário eletrônico que colher as primeiras assinaturas foi utilizado para ameaçar os autores. Até a tarde desta quarta-feira (8), o documento conta com 575 assinaturas.
Pinker é um dos signatários de outra carta aberta, divulgada na terça-feira (7), que lamenta um “clima de intolerância” vindo de “todos os lados”, não só da direita radical, e uma censura que promove a humilhação pública, em alusão à “cultura do cancelamento” –boicote a pessoas e marcas com visões e comportamentos considerados inadequados.
Também assinam o documento o linguista Noam Chomsky, os escritores J.K. Rowling, Salman Rushdie, Andrew Solomon e Margaret Atwood (autora de “O Conto da Aia”), a ativista feminista Gloria Steinem, o trompetista Wynton Marsalis e o cientista político Yascha Mounk.
O texto, intitulado “Uma Carta sobre Justiça e Debate Aberto”, foi publicado pela Harper’s Magazine e vai ser publicado em outros grandes veículos internacionais.

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