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Locomotiva que acumulava lixo e ratos em praça está prestes a voltar para casa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cenário há um ano era devastador. Abandonada numa praça onde décadas atrás os trens significaram o progresso econômico de Ribeirão Preto, uma locomotiva centenária servia como banheiro para usuário de drogas e como moradia para dezenas de ratos, que se alimentavam de restos de comida jogadas no local e só contribuía para a degradação do centro histórico da cidade do interior paulista. Mas a situação está prestes a mudar totalmente.

A intenção ao colocar uma locomotiva para exposição numa praça da região central da cidade tinha como objetivo agradecer ao desenvolvimento econômico que Ribeirão teve devido à ferrovia. A partir dos trilhos principalmente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, foi possível transportar mais rapidamente o café produzido na região na segunda metade do século 19.

Com isso, ela contribuiu para o enriquecimento e a fama de barões do café como Henrique Dumont (1832-1892), pai do aviador Alberto Santos Dumont (1873-1932), e Francisco Schmidt (1850-1924), que dá nome à praça em que a locomotiva alemã Borsig fabricada em 1912 estava exposta desde 1973.

Alvo de furtos de peças de cobre, ferro e aço nos últimos 47 anos, a locomotiva pertenceu à Usina Amália e foi doada ao município de Ribeirão pelas Indústrias Matarazzo. É o primeiro bem ferroviário a ser recuperado na cidade, o que é visto pelo Instituto do Trem como um fato importante para tentar avançar nas ações locais de preservação.

“O estado dela era lamentável, um dos piores que já vi”, disse Helio Gazetta Filho, diretor administrativo da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).

A entidade venceu a licitação para o restauro e retirou a locomotiva da praça em julho do ano passado. A restauração, que custará ao todo R$ 749 mil à prefeitura, está incluída num pacote de R$ 75 milhões de uma operação de crédito entre a prefeitura e o Banco do Brasil, assinado em setembro de 2019 e que inclui recuperação de prédios públicos e obras de mobilidade urbana.

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E como está a restauração? “Está caminhando para a fase final. Uma parte vai entrar para pintura e estamos só esperando a definição de algumas coisas. A nossa estimativa é que em uns dois meses ela fique pronta, zero bala”, disse o diretor.

Referência para o restauro a ABPF tinha dentro de sua própria casa, já que o acervo da entidade abriga uma locomotiva “irm㔠da que estava em Ribeirão.

O prazo para a recuperação se deve às péssimas condições em que a locomotiva se encontrava. Só da fornalha foram retirados dez cobertores usados por moradores de rua e foi preciso abrir um buraco com maçarico para que os ratos que habitavam o local fossem retirados.

A praça em que ela estava em Ribeirão fica na região que abrigava a principal estação da Mogiana na cidade, demolida em 1967.

Uma outra locomotiva, que também sofre ações de vandalismo, está exposta na área da atual estação ferroviária, na avenida Mogiana, na zona norte de Ribeirão. A cidade quase a perdeu, há pouco mais de três anos.