Circula pelas redes sociais um vídeo em que um homem diz que a Pfizer adicionou secretamente trometamina às vacinas contra a Covid-19 para crianças. É #FAKE.
“Pfizer secretamente adicionou droga para tratamento de ataque no coração nas vacinas de Covid-19 das crianças… Mas, por que? Eles dizem que ao invés de usar uma solução salina como tampão, que basicamente é colocada em praticamente quase toda vacina, eles estão usando como tampão, mas ela não é listada como tampão. Ela é muito perigosa e muito forte afinador do sangue”, diz a legenda do vídeo.
A trometamina não foi secretamente adicionada às vacinas. A informação é pública e está disponpível na bula das vacinas. Ao contrário do que a mensagem falsa diz, a função da trometamina nas vacinas é bem conhecida e não visa tratar ataque cardíaco. Ela é utilizada para controlar o PH da vacina e aumentar o prazo de validade.
Procurada pelo g1, a Pfizer explica os seguintes pontos:
A farmacêutica Ana Paula Duarte Souza, pesquisadora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), explica que o conteúdo do vídeo é falso. Ela diz que a trometamina é, sim, um tampão para controlar o PH da vacina.
“Trometamina é um tampão usado para controlar o pH de uma solução e é classificada como excipiente. Serve para aumentar o prazo de validade da vacina antes de ela ser administrada nos pacientes. Está na composição da vacina da Moderna contra o Covid-19, então não é nada secreto e não está associada com ataques cardíacos. Pode ser utilizada em pacientes para tratamento de acidose metabólica”, afirma Souza.
“A composição da vacina da Pfizer contra a Covid-19 [com a adição da] trometamina foi mudada no final do ano passado, mas essa composição é segura e foi aprovada pelas agências reguladoras, tanto dos EUA, a FDA, como a brasileira, a Anvisa”, diz a farmacêutica.
Souza também destaca que “a trometamina não foi adicionada secretamente na vacina da Pfizer especialmente para crianças”, pois o componente está presente também na composição do imunizante para adultos.
“Se ler a bula atualizada da vacina na página da Anvisa e na página da Pfizer, após a autorização do uso em crianças de 5 a 12 anos, existem três diferentes composições descritas: uma composição para idades acima de 12 anos que precisa diluir; outra acima de 12 anos que não precisa diluir e contém trometamina; e uma composição para crianças entre 5 e 11 anos que também contém trometamina. Deste modo, o uso de trometamina na composição da vacina não é exclusiva para as crianças. Esse componente está presente também na composição para uso em adultos”, afirma.
Em nota, a Anvisa esclareceu que “autorizou a inclusão da trometamina na composição da Pfizer” e que “isso está descrito em bula, portanto, não havendo nada de secreto na presença desse componente.”
“Este é um excipiente comumente usado pela indústria farmacêutica e tem efeito tamponante a fim de contribuir para a estabilidade e as propriedades farmacológicas do produto, ou seja, não tem qualquer relação com prevenção de ataques cardíacos”, diz a Anvisa.
De acordo com a Anvisa, as vacinas contra a Covid são seguras. A agência autorizou a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Também participaram da avaliação feita pela Anvisa especialistas das sociedades brasileiras de Infectologia (SBI), de Imunologia (SBI), de Pediatria (SBP), de Imunizações (SBIm) e de Pneumologia e Tisiologia.
A mesma autorização de uso já foi concedida pelo FDA e pela EMA (agências regulatórias de saúde dos Estados Unidos e União Europeia), além de países como Costa Rica, Colômbia, República Dominicana, Equador, El Salvador, Honduras, Panamá, Peru e Uruguai.
Em outubro, a Pfizer disse que a vacina é segura e mais de 90,7% eficaz na prevenção de infecções em crianças de 5 a 11 anos.