Primeira surfista transgênero vence torneio de longboard na Austrália: “Me sinto abraçada”

A longboarder australiana Sasha Jane Lowerson, a primeira mulher transgênero a competir no surfe, conquistou uma vitória histórica no West Coast Suspensions Longboard and Logger State Championships no último final de semana. A atleta de 43 anos, que foi coroada campeã masculina três anos antes, venceu as divisões Open Feminino e Open Logger, em Avalon, tendo sido dominante nas ondas pegas à esquerda. Georgia Young ficou em segundo lugar no evento Open Feminino, enquanto Emily Gibbs conquistou a prata na divisão Open Logger.

Lowerson, um defensor declarado de atletas transgêneros, correu a turnê de longboard da World Surf League e também é shaper de pranchas de surfe. Ganhou o título estadual da Austrália Ocidental de 2019, competindo como Ryan Egan, antes de fazer a transição de gênero alguns anos depois.

Sasha é um nome bem conhecido na comunidade australiana do surfe. Ela cresceu nas praias do país e considera ter encontrado seu “consolo no surfe, mesmo quando a vida era difícil”. Dez anos atrás, se mudou para a Austrália Ocidental, encontrando sua praia perfeita em Mandurah, onde passaria a maior parte do seu tempo nas ondas.

Competir na praia “do seu quintal”, a fez se sentir “libertada”. O momento a fez chorar de felicidade e a permitiu relembrar sobre sua jornada até este ponto:

— Ser a primeira mulher transgênero competindo no surfe não foi fácil emocionalmente, mas a quantidade de apoio que me foi dada foi fenomenal. Estou muito grata por estar envolvida, bem-vinda e abraçada pela comunidade de longboard em Austrália — disse Lowerson para o The Australian .

No início deste ano, Lowerson abordou a Surfing Australia sobre o retorno à competição em eventos femininos e o esporte a recebeu de braços abertos.

— Eu surfo desde pequena, desde os 10 anos — disse Lowerson em um podcast do YouTube. — Eu era um bom surfista júnior, surfava contra homens adultos aos 14 anos e ganhava. Eu sabia desde muito jovem que não era um menino normal. Você realmente não entende até começar a conhecer outros garotos e pensar ‘meus interesses são diferentes deles, por que isso?’

Sasha falou que neste processo pensou em suicídio mas que conseguiu ” despertar”:

— A cada dois anos eu queria me matar e tive uma boa chance. Mas também tive um verdadeiro despertar (tentativa de suicídio em 2020), então pensei: ‘O que você está fazendo? Você está vivendo uma mentira’. Na melhor parte da minha vida, pensei que ela (Sasha) nunca poderia viver, tive que colocá-la em uma caixa. Isso é algo que muitas garotas experimentam. Tomei a decisão de ser sincera comigo e com o mundo e foi quando decidi revelar Sasha como tal.

A atleta contou ainda que começou a transição de gênero no ano passado. E que o processo não foi tão fácil. E que “estamos prestes a iniciar conversas formais com a World Surf League sobre a inclusão de diversos gêneros” na estrutura da modalidade:

— Comecei a transição médica no início de 2021. Até então me escondia das pessoas surfando, parei de surfar por seis meses. Eu basicamente tirei seis meses da água. Então eu acordei uma manhã e disse: ‘Não, tem sido a minha vida, não posso simplesmente me afastar da minha paixão e da minha vida’.

Keala Kennelly, havaiana que competiu por anos na WSL e é surfista de ondas grandes, comentou que o tema é “extremamente complicado”. Em posto nas redes sociais escreveu que “em primeiro lugar, acho que todos podemos concordar que as pessoas precisam ser tratadas com respeito”.

Se comentário diz que ainda que “acredita que se você se identifica como um ser humano, você merece os mesmos direitos humanos que todos os outros. Sou ? pró trans ⚧ também sou ? pró mulher e ? igualdade feminina. Quando se trata especificamente de esportes femininos, é difícil ser as três coisas ao mesmo tempo. Acho que as atletas trans absolutamente precisam ser incluídas no esporte ? mas suas vantagens biológicas precisam ser levadas em consideração porque também tem que ser justo para as atletas mulheres. Não tenho a solução. No entanto, ter conversas respeitosas, não agressivas e colaborativas é um começo”.