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Campanha eleitoral começa com candidatos investindo no Sudeste

Os candidatos à presidência iniciarão a campanha eleitoral nesta terça-feira com propostas, obstáculos e pontos de partida distintos. Em comum, além do objetivo, os principais concorrentes ao posto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB), darão a largada na temporada de caça a votos por estados do Sudeste, região onde vivem 42,6% dos eleitores brasileiros.

A corrida pela cadeira mais importante do país neste ano promete ser uma das mais polarizadas desde a redemocratização. Apontados como favoritos, Lula e Bolsonaro concentram 76% da preferência do eleitorado, de acordo com o último levantamento feito pelo Datafolha — o petista tem 47% e o presidente, 29%. Por outro lado, o terceiro colocado, Ciro (8%), e a representante da chamada terceira via, Tebet, que amarga 2%, apostam na superlativa rejeição da dupla que lidera para surpreender durante a disputa.

A partir do dia 16 de agosto, data da abertura oficial da campanha, a legislação permite que os candidatos peçam votos, participem de atos como comícios e carreatas e façam a divulgação de suas candidaturas na internet. Tais práticas voltam a ser vedadas em 1º de outubro, véspera do primeiro turno.

Lula começa sua caminhada voltando às origens. Na terça-feira, ele fará panfletagem na porta de fábricas, uma em São Paulo, no início da manhã, e à tarde no ABC Paulista, seu berço político. No mesmo dia, o PT programou caminhadas e bandeiraços em todos os estados, uma tentativa de demonstrar força e capilaridade. Haverá ainda um comício em Belo Horizonte durante a semana.

Inicialmente, o mote que a campanha pretende trabalhar é o “Brasil da esperança está de volta”, na tentativa de passar a mensagem de que Lula representa a estabilidade frente à intempestividade do atual presidente. Também serão usadas frases como “Bolsonaro chegou e a fome voltou”.

— Com Bolsonaro não existe planejamento e tranquilidade. Lula quer reconstruir um ciclo de crescimento econômico com redução das desigualdades e saúde das contas públicas — afirma o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).

O petista vai se apresentar como o único em condições de superar Bolsonaro, além de buscar colar no adversário a imagem de ameaça à democracia. Apesar disso, a campanha não deve transformar esse tema no principal foco. O plano é mirar na questão econômica, mostrando que a vida do brasileiro piorou.

Conquista da classe média é objetivo

Uma das prioridades de Lula é conquistar votos e confiança entre a classe média. O PT desenhou um conjunto de propostas, apoiadas em quatro pontos, para atrair esse extrato da população: correção da tabela do Imposto Renda; reajuste do salário mínimo levando em conta a média de crescimento do PIB dos últimos cinco anos; reconhecimento da defasagem salarial sofrida pelo funcionalismo público nos últimos anos; além de concessão de crédito a autônomos, pequenas e micro empresas por meio do BNDES.

Atual dono da cadeira cobiçada pelos demais, Bolsonaro vai focar na reconquista do eleitor que ele perdeu nos últimos três anos e meio, o brasileiro que ajudou a elegê-lo, mas se decepcionou com o atual governo. Para isso, o presidente vai apresentar a face oposta da moeda que seu principal adversário planeja exibir. Na trincheira dos temas econômicos, Bolsonaro levará à ribalta as políticas públicas que geraram impacto na ponta, como o aumento do valor do Auxílio Brasil para R$ 600 e as medidas de redução dos preços dos combustíveis.

A campanha prepara estratégias para reavivar o sentimento anti-PT, aspecto fundamental para a vitória de 2018. O presidente vem sendo pautado para fazer comparações entre seu governo e os anteriores que favoreçam a atual gestão. Ele também deverá relembrar escândalos de corrupção ocorridos enquanto Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff, davam as cartas no país.

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Apesar disso, o presidente tem sido aconselhado pela equipe de campaha a não fazer ataques pessoais ao petista no primeiro momento. Esse plano será reavaliado, porém, se Lula utilizar seu arsenal mais pesado logo na largada dessa corrida.

Bolsonaro volta Juiz de Fora, cidade da facada

Assim como vários conselheiros fazem há tempos, sem sucesso, a equipe de marketing está tentando convencer Bolsonaro a baixar o tom dos ataques ao sistema eleitoral. Internamente, porém, admite-se que não é possível moldar o presidente e que a espontaneidade também o ajuda a se reconectar com o eleitor de 2018.

— É mais fácil recuperar quem já votou do que conquistar quem nunca votou, e vamos focar em três estados do país: São Paulo, Rio e Minas Gerais — disse ao GLOBO o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos coordenadores da campanha do presidente.

Na próxima terça-feira, Bolsonaro vai a Juiz de Fora (MG), onde levou uma facada em 2018. A ideia é dar um tom emocional ao início da campanha e começá-la num estado estratégico. Desde a redemocratização, todos os presidentes eleitos venceram em Minas.

Já o candidato ao Palácio do Planalto pelo PDT, Ciro Gomes, estreia na campanha com eventos em São Paulo, em agendas que ainda estão sendo definidas por sua equipe. Depois, no fim desta semana, ele participa de atos no Rio de Janeiro. Ciro vai trabalhar para cooptar os brasileiros indecisos e aqueles que estão dispostos a votar em Lula apenas por considerá-lo um candidato mais competitivo para derrotar Bolsonaro nas urnas em outubro.

Ciro e Tebet acreditam em arrancada

Ciro pretende focar em dois perfis de eleitores: os jovens, por meio das redes sociais, e os beneficiários do Auxílio Brasil. Para atrair esses últimos, a ideia é divulgar o programa de renda mínima, que pretende unificar os benefícios sociais e aumentar o valor do auxílio para R$ 1 mil reais por domicílio. A estratégia para se contrapor a Lula e Bolsonaro nesse aspecto é afirmar que o programa social terá caráter constitucional e não correria o risco de ser suspenso em trocas de governo.

Preferido por uma parcela significativa do eleitorado que não abre mão do chamado voto de opinião, Ciro tem como principal desafio ampliar a capilaridade de sua candidatura mesmo sem ter conseguido atrair um partido sequer para o seu palanque.

Em um patamar distante dos principais adversários segundo as pesquisas, Simone Tebet entra na disputa com a expectativa de levar o apoio dos que consideram os favoritos dois representantes de extremos. Para isso, aproveita o mote da chapa feminina — a vice é a também senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) — para buscar votos das mulheres. Uma das propostas é a paridade de gênero nos ministérios em seu governo.

A largada da emedebista também terá como foco Sudeste, Sul e Centro-Oeste, regiões onde a equipe avalia que há mais chance de crescer.