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‘Gordura’ que resto do mundo não tem abre espaço para Brasil cortar juros, diz Haddad

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta segunda-feira (13) que “gordura” que o resto do mundo não tem viabiliza corte de juros no Brasil

O ministro considera também que há pouco espaço para aumento de taxa de juros no mundo diante de um cenário de turbulência internacional.

“Diria que tem uma gordura no Brasil que permite a nós, tomando as providências que estão sendo tomadas [pela equipe econômica] e vêm sendo reconhecidas pelo Banco Central nas atas que divulga, penso que temos espaço [para corte de juros] que o mundo não tem”, disse Haddad em evento promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico sobre a reforma tributária e os desafios econômicos do Brasil.

Haddad chamou atenção para o limite prudencial de elevação dos juros no cenário internacional para que os países não desorganizem suas economias, o que geraria mais dificuldade para buscar o centro das metas de inflação no curto prazo, e destacou a robustez do sistema financeiro nacional.

“Temos espaço para, mesmo em uma situação de turbulência internacional, se a gente harmonizar políticas fiscal e monetária, nós conseguimos ancorar e navegar em mares internacionais revoltos porque nossa condição permite isso, vamos ver o tamanho do estrago fora, mas penso que estamos preparados para qualquer cenário”, disse.

O alto patamar de juros no Brasil -a taxa básica (Selic) está em 13,75% ao ano- tem sido alvo recorrente de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de membros do governo diante de um cenário de desaceleração da economia.

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Para Haddad, as projeções de inflação “continuam bem comportadas” no Brasil. A pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central nesta segunda, mostrou que as expectativas dos analistas do mercado financeiro para a alta da inflação em 2023 subiram a 5,96%.

A estimativa se afastou ainda mais do centro da meta para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2023, que é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Sobre uma eventual mudança nas metas de inflação, o ministro afirmou que são “discussões técnicas” que devem ser feitas “sem ruído e com tranquilidade”. “Pode ser que se a conclusão de que não vale a pena mudar”, acrescentou.

Haddad enfatizou que o Brasil é um dos poucos países que trabalham com um ano-calendário fechado de 12 meses para atingir a meta de inflação e que o horizonte poderia ser reavaliado para que a autoridade monetária tenha mais tempo para acomodar as pressões inflacionárias.

Nos últimos encontros do Copom (Comitê de Política Monetária), o colegiado do BC vem trabalhando com uma flexibilização do horizonte, incorporando em sua análise os parâmetros de alguns trimestres à frente diante de um cenário de maior incerteza do que o usual.

Embora a discussão esteja na pauta, Haddad afirma que a definição da nova regra fiscal é prioridade do governo Lula. “Foi colocado na agenda, mas entendo que, se acertarmos a mão no arcabouço fiscal, isso tem impacto infinitamente mais importante”, disse.