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Barbenheimer: estreia de dois filmes completamente opostos é a maior da última década

O cinema, considerado a sétima arte, passou por uma série de transformações desde sua origem até os dias modernos – a verdade é que a experiência do cinema é uma mistura complexa de hábitos sociais, avanços tecnológicos, técnicas de produção, e mais profundamente, do estado da arte e cultura de um povo no momento. 

De uma forma ou de outra, o hábito de ir ao cinema para se tornar completamente imerso por uma tela imensa sobreviveu a períodos de escassez, mudanças nos hábitos de consumo, e até mesmo à chegada do mundo digital. No entanto, durante a pandemia de 2020, a necessidade do isolamento social machucou profundamente o universo do cinema: instalações foram fechadas, empresas do setor faliram, produções receberam menos retorno em seu investimento, e houve até o debate sobre o consumo de obras apenas via celular em apps de streaming

É por isso que o recente lançamento de duas obras completamente opostas, o filme da Barbie, dentro do universo colorido da boneca, e Oppenheimer que relata o desenvolvimento das primeiras bombas atômicas, têm sido celebrado como o evento mais importante dos últimos dez anos no cinema. Confira. 

O apelo da Barbie e o terror de Oppenheimer

O fenômeno apelidado “Barbenheimer” pode ser explicado pela combinação de três grandes fatores: o primeiro é, sem dúvidas, o apelo quase universal da boneca Barbie. Lançada em 1959 pela empresa americana Mattel, foi concebida pela designer Ruth Handler, inspirada na sua filha Barbara que adorava brincar de dar vida a suas bonecas. A Barbie logo se tornou um ícone cultural, representando uma mulher independente e confiante, com uma infinidade de papéis profissionais e sociais – ultrapassando a casa das 200 profissões representadas, muitas crianças cresceram brincando com a boneca e imaginando seu futuro com base nessa representação. A Barbie é responsável por influenciar diversas estéticas presentes no design, na publicidade e até mesmo na indústria da moda – na verdade, em 2023, a campanha do filme foi capaz de lotar as lojas brasileiras com modelos de roupas baseados na Barbie e com cores e desenhos característicos da boneca – não somente para crianças, mas também para adultos. De acordo com a ExpressVPN, as tendências modernas do mundo fashion são influenciadas por cada vez mais fatores e mudam cada vez mais rápido – mas o sucesso da boneca foi capaz de dominar os produtos vendidos este ano. 

O segundo fator está relacionado ao outro filme lançado quase que simultaneamente à Barbie: Oppenheimer. Nomeado graças ao físico J. Robert Oppenheimer, o filme acompanha a história real de sua participação no projeto secreto Manhattan que, durante a Segunda Guerra Mundial, deu origem à pesquisa e produção das primeiras bombas atômicas. O filme é naturalmente pesado e dramático, retratando a tensão da guerra, os conflitos de interesse, e a criação da tecnologia que é até hoje considerada a mais perigosa já desenvolvida pela humanidade. Diferentemente da proposta de um mundo da Barbie repleto de possibilidades e oportunidades, onde tudo acaba bem e as preocupações são mundanas, Oppenheimer traz os telespectadores de volta ao mundo real, às crueldades da guerra, aos impactos das decisões humanas e o balanço entre progresso científico e a destruição. 

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O terceiro fator é, portanto, a combinação e contraste entre ambos os lançamentos: em uma indústria que estava escondida e quase inerte no período pós-pandemia, a combinação do mundo rosa da Barbie com a realidade crua de Oppenheimer resultou em uma revitalização do desejo de ir ao cinema e consumir uma obra sem as interrupções e distrações do ambiente doméstico. O fenômeno Barbenheimer oferece escapismo e fantasia, mas também pé no chão e crueldade e, com isso, reflete muito do sentimento pós-pandemia que milhares de telespectadores ainda carregam diariamente. 

Sucesso de bilheteria já confirmado

O grande sucesso do duplo-lançamento de ambos os filmes não é apenas especulativo: as estreias em mercados importantes como os Estados Unidos e Reino Unido já bateram todos os recordes de bilheteria dos últimos 10 anos, com faturamento significativamente maior que as previsões de analistas do setor. 

Mundialmente, o filme da Barbie já soma mais de trezentos e trinta milhões de dólares em arrecadação, enquanto Oppenheimer superou a casa dos cento e cinquenta milhões. No Brasil, os filmes foram lançados no dia 20 de Julho e o sucesso internacional se refletiu no país, com filas lotadas e muitas pessoas se deslocando pela primeira vez em muitos anos para consumir os lançamentos na tela do cinema. 

Embora não seja possível prever os próximos anos da indústria, o fenômeno Barbenheimer demonstrou que o cinema não está morto e está longe de ser destruído pela indústria do streaming. Ambas as tecnologias são capazes de conviver harmoniosamente pois oferecem experiências muito distintas para quem consome as obras, e o sucesso na bilheteria é um sinal positivo para que a indústria cinematográfica continue seus investimentos para os próximos anos.