Nova Orquestra inicia turnê com clássicos do pagode em show gratuito no Circo Voador, nesta quinta (18)

Os violinistas posicionados à esquerda do maestro dão conta do que seria o vocal do refrão: “não era amor, não era / Não era amor, era cilada”. Composta por Delcio Luiz e Ronaldo Barcellos, a canção “Cilada”, quinta faixa do disco “Não quero saber de ti ti ti”, lançado pelo grupo Molejo em 1993, vai finalizando o primeiro bloco de ensaio da Nova Orquestra, ao qual O GLOBO acompanhou nesta quarta-feira (17). Foi o último encontro dos músicos antes do show desta quinta (18), no Circo Voador, que abre a nova turnê “Pagode 90”.

Sob a regência do maestro Eder Paolozzi, a Nova Orquestra vai apresentar um repertório com grandes clássicos do gênero que viveu um boom naquela década. Músicas de Raça Negra (“Cheia de manias, “Cigana”), Soweto (“Estrela da paz”, “Derê”), Exaltasamba (“Me apaixonei pela pessoa errada”, “Telegrama”) e Só pra contrariar (“Essa tal liberdade”, “Depois do prazer”) estão no roteiro da apresentação, que terá participação especial de Mariana Íris e Gabriel Conti.

Em “Tá escrito”, hit do grupo Revelação, Paolozzi lembra um dos músicos que é hora dele assumir o cavaquinho. O maestro explica que manter os instrumentos tradicionais do samba e do pagode faz parte da busca pelo “equilíbrio” que a orquestra busca na execução deste repertório.

— Não deixar de ser uma roda de pagode. A gente mantém a energia com a percussão, e aí valorizamos alguns momentos mais melódicos, tentamos enriquecer, pegando aquilo que o material já tem e valorizando com as cordas. Eu vejo que é uma tendência do pagode usar cordas, eles estão trazendo orquestra para os shows. A gente busca esse equilíbrio de não perder a característica do pagode, mantendo violão, cavaco, pandeiro, mas trazendo a orquestra pra esse universo — conta o maestro. — E pra gente é muito importante a interação com o público, a galera cantando é um elemento chave — finaliza.

Alguns dos 45 músicos que estão nesta empreitada da Nova Orquestra não eram nascidos quando à época em que as canções do repertório estouraram nos rádios Brasil afora. Trata-se de um grupo jovem — faixa etária é de 18 a 30 anos. Mas o pagode dos anos 1990 venceu, sustenta o maestro, atravessou gerações, se firmando na cultura popular com verdadeiros clássicos nas vozes de figuras como Belo, Péricles, Salgadinho, Anderson do Molejo, Luiz Carlos e Leandro Lehart.

— Até dá pra fazer um trocadilho legal. A música clássica é a música que resiste ao tempo. E o pagode 90 é um clássico. São músicas que resistem ao tempo. Trinta anos depois, ainda estão muito atuais. Essa geração conhece essas músicas de cor. Pra eles, é como se fosse músicas de hoje. É legal eles estarem no instrumento deles, tocando músicas que gostam e que ouvem em casa. A geração atual está bem inteirada.