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Pavement e Cat Power são destaques no último dia do C6 Fest

O reencontro do público brasileiro com um luminar do rock indie, o grupo americano Pavement, e o show em que a americana Chan Marshall, conhecida como Cat Power, releu à sua maneira, intensa, o repertório de Bob Dylan, se destacaram no domingo (19), o terceiro e último dia do C6 Fest, em São Paulo.

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Realizado em espaços diversos no Parque Ibirapuera desde sexta-feira (17), o festival (que chegou em 2024 à sua segunda edição) teve pontos altos em sua eclética escalação e se beneficiou dos dias e noites sem chuva ou frio. Mas deixou um tanto a desejar na distância a ser percorrida entre os palcos e também nos horários, que forçaram o público a optar por um ou outro show importante, já que alguns ocorriam simultaneamente, em diferentes locais.

Com uma dedicatória à produtora mineira e referência da cena underground brasileira Fernanda Azevedo (grande fã da banda, que faleceu subitamente na quinta-feira, quando se preparava para ir para o C6 Fest), o Pavement abriu seu show no começo da noite com a reflexiva canção “Grounded”.

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Juntos desde o ano passado em uma turnê de reunião, os músicos do Pavement, todos inegavelmente entrados na meia-idade, se sentiam bem à vontade para passear por um repertório de hinos indie dos anos 1990, como uma animada banda de sarau de colégio.

Stephen Malkmus, o líder, continua com a voz em dia e com disposição para tecer as velhas tramas de guitarra com Scott Kannberg, o Spiral Stairs. Já o percussionista Bob Nastanovich era o mais animado – aquele que tocava maracas, saía dançando pelo palco, pegava o microfone para gritar nos refrões e dançava com a moça da plateia.

Esses três do Pavement foram o motor de um show em que o público cantou junto em vários momentos, e que privilegiou as canções do álbum de estreia, “Slanted & Enchanted”, de 1992 – mas sem deixar de lado hits como “Cut your hair”, “Stereo” e “Harness your hopes”, um lado B que viralizou inesperadamente no TikTok. Na arte exibida pela banda no telão, a surpresa foi ver reproduções de obras do artista plástico brasileiro Leonilson (1957-1993).

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Canções de Bob Dylan

Na mesma Tenda Metlife em que o Pavement se apresentou, Cat Power esquentou o começo de noite com uma passada pelo repertório de seu recente álbum só de canções de Bob Dylan. Um show que começou abruptamente, com ela entrando no palco ao lado do seu violonista, enquanto ainda rolava a discotecagem de fundo, e cantando “It’s all over now baby blue” e “Mr. Tambourine Man”, em formato acústico mesmo.

Mas logo a excelente banda entrou para a parte elétrica, com “Tell me, Momma”, na qual ficou claro que ela daria tudo de si para dobrar aquela plateia. “Essa é uma canção triste”, anunciou Cat Power antes de seguir pela balada “One too many mornings”— e se enganou quem achava que a melancolia ia dominar o show guiado por aquela mulher gesticulante, metida numa espécie de terninho e de sapatos de alto: não demorou muito, ela estava fazendo a redenção com um “Like a Rolling Stone” de alta voltagem, que a fez sair do palco ovacionada.

Pavement e Cat Power foram os pontos altos de um dia cheio de boas atuações. Ainda no Metlife, o grupo inglês Squid conquistou o público no começo da tarde com o seu pós-punk revisitado com charme e energia. E a irmã de Miley, Noah Cyrus, mostrou ter luz própria num show pop e vigoroso, com direito a presença de um considerável fã-clube (que cantou seu hit “Make me (cry)”), e que acabou com a cantora – um ícone fashion, num vestido justo, de muitas transparências — enrolada na bandeira do Brasil.

A eventual opção pelo Pavement no Metlife impediu que o público acompanhasse por inteiro dois bons shows da Arena Heineken (o maior espaço do C6 Fest, em um gramado): a do grupo escocês Young Fathers, de hip hop climático, com muitos sobretons espirituais e políticos, e o de um ídolo do novo r&b, o cantor canadense Daniel Caesar, que encerrou a noite no palco com seu neo soul de qualidade.

Mas quem tinha energia e algum dinheiro de sobra, pôde estender o domingo no C6 Fest com ótimo jazz, no Auditório Ibirapuera, a partir das 22h. O trompetista americano Chief Adjuah abriu a sessão, com sua banda de jovens e talentosos discípulos, adentrando pelo território do rock e das africanidades num show de muita eletricidade e grandes performances instrumentais.

Em seguida, depois da meia-noite, e com uma plateia acesa, apesar do adiantado da hora, veio o supergrupo de jazz Dinner Party, formado pelos americanos Robert Glasper (piano), Kamasi Washington (saxofone) e Terrace Martin (sax, teclados e vocais com vocoder). A quebradeira prosseguiu – e Kamasi, que entrara quieto e com a cara fechada, fez um solo endiabrado que levou a plateia a aplaudir a banda de pé. A noite do Dinner Party ainda teve bossa (a cargo do convidado James Fauntelroy) e o hino nacional tocado por Carlinhos, violonista e guitarrista brasileiro da banda.

Domingo foi o dia mais agitado de um C6 Fest que começou na sexta-feira só com jazz no Auditório Ibirapuera (e no qual a sensação foi saxofonista americano Charles Lloyd, de 86 anos). O festival entrou pelo sábado chamando a atenção com os shows da cantora britânica Raye (que pela voz impecável e cativante presença de palco, alguns chegaram a comparar a Amy Winehouse) e o duo americano Black Pumas, de soul psicodélico e romântico, impulsionado pelo carisma do vocalista Eric Burton.