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Operação da Polícia Federal descobre esquema de venda ilegal de armas na Bahia e Pernambuco

KLProduction/shutterstock.com/

Uma força-tarefa liderada pela Polícia Federal da Bahia deflagrou, nesta terça-feira (21), a “Operação Fogo Amigo”. A ação tem como alvo uma vasta rede criminosa composta por policiais militares dos estados da Bahia e Pernambuco, além de CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores) e comerciantes de armas e munição.

A investigação revelou um esquema multimilionário de venda ilegal de armas e munições para as maiores facções criminosas da Bahia, Pernambuco e Alagoas. Até o momento, 18 pessoas foram presas. De acordo com a apuração, uma grande quantidade de munições e armamentos foi desviada para facções criminosas através da inserção fraudulenta de informações nos sistemas oficiais de controle e fiscalização. Um sargento da PM de Petrolina (PE) movimentou, segundo o Coaf, aproximadamente R$ 2,1 milhões em pouco mais de seis meses entre 2021 e 2023, valor incompatível com seu salário de sargento da Polícia Militar.

Conforme um dos investigados, que colaborou com a justiça através de delação premiada, o grupo liderado pelo sargento vendia cerca de 20 armas de fogo por mês. Também foi determinado o sequestro de bens e bloqueio de até R$ 10 milhões dos investigados, além da suspensão das atividades de três lojas de material bélico.

Mais de 300 agentes participam da operação, incluindo Policiais Federais, grupos táticos da Polícia Militar da Bahia e Pernambuco, promotores do Gaeco dos dois estados e membros do Exército.

A decisão judicial que autorizou a operação indicou que a quebra de sigilo telefônico e telemático dos investigados revelou claramente uma organização criminosa especializada no comércio ilegal de armas de fogo, munições e itens balísticos. Armas de uso restrito, como fuzis e espingardas calibre 12 semiautomáticas, estavam entre os itens negociados pelo grupo.

As investigações apontam que essas armas são frequentemente usadas em assaltos a carros-fortes e instituições financeiras, além de ações conhecidas como “domínio de cidades”, modalidade conhecida como novo cangaço. A operação de compra e venda de munições envolve diversos agentes, incluindo policiais, donos de lojas de armas, vendedores e responsáveis pelo envio do material ilegal.

Uma prática comum descoberta foi a falsificação de Certificados de Registro de Arma de Fogo (Crafs) para a obtenção de armamento em lojas regulares. Alguns dos investigados desempenhavam papéis-chave na organização criminosa, como o envio de armas para cidades específicas e a movimentação de grandes somas de dinheiro através de transações via PIX.

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Um dos investigados, junto com sua companheira, foi responsável pelo envio de armas para Eunápolis (BA), Porto Seguro (BA) e Juazeiro (BA), realizando 25 transações via PIX que somaram R$ 77.150,00. Sua companheira transferiu R$ 108.910,00 em apenas 65 dias para um comerciante de armas. Relatórios do Coaf apontam que um policial militar investigado movimentou R$ 2,7 milhões, comprando armas e munições em Salvador. Outro investigado era fornecedor de munições de fuzis calibre 556 e 762.

Um proprietário de loja bélica em Arapiraca (AL) recebeu cerca de R$ 700 mil em um ano de um dos investigados pelo tráfico de armas. A compra de munição ilegal por esse empresário ocorre há pelo menos três anos. Proprietários da loja Universo Militar em Juazeiro (BA) também foram apontados como comerciantes ilegais de armas e munições, inserindo dados fictícios no sistema de controle.

A decisão judicial explica que um colaborador da PF desejava adquirir armamento ilegal para distribuição em facções criminosas e fazia isso livremente com a ajuda de funcionários das lojas, que inseriam dados fictícios de compradores.

A suspensão das atividades econômicas das lojas Sport Tiro e Comercial Taurus foi decretada. Segundo a decisão, esses estabelecimentos facilitaram a circulação de armas e munições ilegais com a inserção de dados fictícios.

Os investigados responderão por organização criminosa, comercialização ilegal de armas e munições, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, com penas que podem chegar a 35 anos de prisão.

A operação foi denominada “Fogo Amigo” em referência ao fato de que os policiais envolvidos na organização criminosa vendiam armas e munições para criminosos que as utilizavam contra os próprios órgãos de segurança pública.