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Igreja Católica na Bolívia pede 2º turno e tribunal eleitoral independente

CIDADE DO VATICANO (FOLHAPRESS) – A solução da crise política boliviana passa pela nomeação de um Tribunal Supremo Eleitoral independente do Poder Executivo e pela convocação de um segundo turno entre o presidente Evo Morales e o opositor Carlos Mesa.

Essa é a proposta do presidente da Conferência Episcopal da Bolívia (CEB), Ricardo Ernesto Centellas, para que o país andino saia do impasse provocado pela eleição presidencial do último domingo (20).

O pleito foi marcado por paralisação da apuração, denúncias de fraude e protestos contra o atual mandatário, que busca o quarto mandato consecutivo. 

“Se quisermos voltar realmente a um caminho democrático, temos de fazer com outro árbitro. Um árbitro que seja imparcial. Senão, a coisa continua”, disse Centellas a jornalistas na Cidade do Vaticano, onde participa do Sínodo para a Amazônia.

“Acredito que a saída seja convocar um segundo turno, mas com outro tribunal”, afirmou o bispo de Potosí. “O Tribunal Eleitoral perdeu toda a credibilidade não apenas com estas eleições como também com as anteriores. Por isso, a Bolívia vive uma incerteza.”

Apesar de a CEB estar praticamente rompida com Evo, Centellas afirmou que a Igreja Católica está aberta para mediar um diálogo. “Se ambas as partes nos convocarem, estamos prontos para colaborar e facilitar que esse problema não se prolongue. O custo social desse problema é muito alto. A Bolívia não pode se dar ao luxo de ficar por dias e dias em conflitos sociais.”

O Tribunal Eleitoral e o governo boliviano declararam Evo vencedor em primeiro turno da eleição presidencial, com pouco mais de 95% das urnas apuradas.

O anúncio, na noite de segunda-feira (21), gerou protestos em diversas partes do país, incluindo La Paz.

Pelo resultado parcial, Evo sairia vencedor, com uma vantagem de 10,1% dos votos sobre Mesa. Para ser eleito em primeiro turno, é preciso obter 50% dos votos mais um ou 40%, desde que o segundo esteja pelo menos 10 pontos percentuais atrás do mais votado.

Na manhã desta quarta (23), Evo disse, sem mostrar evidências, que “está em processo um golpe de Estado. Ele foi preparado pela direita, com apoio internacional”. O mandatário pediu uma auditoria externa da OEA (Organização dos Estados Americanos ).

ENTENDA O IMBRÓGLIO DA APURAÇÃO DOS VOTOS

Dois métodos

Após o fechamento das urnas, o Tribunal Supremo Eleitoral começou a apuração usando dois métodos: somando os votos registrados em atas, que traziam os totais de cada mesa, e contando os votos um a um. Apenas os resultados do primeiro foram divulgados.

Empate técnico

Às 22h40 de domingo (20), com 89% das urnas apuradas, Evo tinha 45,7% contra 37,8% de Mesa -o resultado levaria a um segundo turno, cenário previsto por pesquisas de intenção de votos.

Apuração suspensa

Durante a noite, nenhum voto foi computado, e a contagem feita pelas atas foi interrompida. Na segunda-feira pela manhã, o tribunal afirmou que a apuração um a um mostrava resultados diferentes; o jornal oficial El Cambio publicou manchete dando vitória a Evo.

Nova contagem

Diante das divergências, a contagem passou a ser feita pelo método um a um.

Retorno às atas

Na noite da segunda, com 95,22% das urnas apuradas, Evo foi anunciado vencedor no primeiro turno com 46,86% dos votos, contra 36,73% de Mesa. O adversário não reconheceu os resultados das atas.

Quatro Mandato

Eleito pela 1ª vez em 2005, Evo concorreu neste pleito graças a uma decisão do mesmo tribunal responsável pela apuração dos votos. 

A nova Constituição de 2009 determinou que só poderia haver uma reeleição consecutiva. Evo conquistou seu 3º mandato em 2014 argumentando que seu primeiro governo era anterior à regra. Em 2016, perdeu um referendo para extinguir o limite; e, em 2017, o tribunal julgou a seu favor e derrubou a norma.

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