Cultura

Centro de Pesquisa Teatral do Sesc quer ressaltar legado de Antunes Filho ao embarcar em nova fase

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nos anos 1980, o diretor Antunes Filho se mostrava cansado das escolas de interpretação. Dali, dizia, os alunos saíam “carregados de vícios de um sistema estático”. Propôs então seu próprio método de ensino, que ele formalizou dentro do Centro de Pesquisa Teatral do Sesc, o CPT.
Ele buscava um ator expressivo, disponível para experimentos e mudanças de rumo ao longo do trabalho. Para tanto, fazia exercícios, laboratórios e mergulhava os alunos em leituras, dos teóricos da interpretação (Constantin Stanislávski, Lee Strasberg) a clássicos da psicanálise, da história e do zen-budismo. Havia até exercícios de equilíbrio inspirados na física quântica.
Nos seus 37 anos, funcionando dentro do Sesc Consolação, o CPT se tornou referência na formação de atores, e de lá saíram nomes como Luís Melo, Giulia Gam e Lee Taylor. 
Difícil imaginar os rumos dessa escola, tão marcada pela figura de Antunes, agora sem o diretor, morto em maio.
“Analisando o que o trabalho do Antunes significa pro teatro brasileiro, não é muito fácil dar continuidade a isso. A não ser que se tenha muito claro o que pretendemos. E nós temos, muito claramente: é a continuidade de uma ação formativa sólida sobre o personagem, o ator em primeiro lugar”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.
Nesta quinta (12), data em que Antunes completaria 90 anos, a instituição apresentou os rumos que pretende dar ao CPT e ao legado do diretor.
Para tanto, foram criados cinco eixos de trabalho: formação de artistas; laboratórios de criação e experimentação; núcleos de dramaturgia; memória e pesquisa; e cenografia. São temas que já eram abordados pelo encenador, mas de forma dispersa, e agora aparecem mais organizados.
“Todo esse entourage da cena era uma preocupação do Antunes, era abrangido por ele. Estamos organizando um pouco essa proposta, de modo a não sacrificá-la, não queremos engessá-la. Nós queremos explorar, continuar valorizando esses aspectos de uma maneira nova”, diz Miranda.
Ele se refere a uma abertura para novas linguagens teatrais, outras formas de experimentação. “Queremos abrir caminhos, dar espaço para a diversidade e até para coisas que até não agradavam muito o jeito de fazer do próprio Antunes.”
O formato do curso, com módulos semestrais e aproximadamente 20 alunos por turma, permanece o mesmo. Mas a coordenação agora é compartilhada pela equipe do Sesc, com auxílio de outras pessoas, como Emerson Danesi, que nos últimos anos auxiliou Antunes no CPT.
Para ministrar as aulas, serão chamados profissionais diversos, brasileiros e estrangeiros, que passaram ou não pela formação do diretor –os nomes ainda não foram definidos. Também há planos de fazer residências artísticas.
Por enquanto, o Sesc realiza algumas comemorações dos 90 anos de Antunes. Nesta semana, haverá encontros com artistas e apresentações dos últimos trabalhos do “Prêt-à-Porter”, feitos ainda sob coordenação do diretor. O projeto, cujo nome em francês significa “pronto para vestir”, partia de exercícios cênicos e experimentações dos alunos. Os resultados, cenas curtas, eram apresentados como um processo aberto, em andamento.
“Muita gente fala da figura centralizadora de Antunes, mas no ‘Prêt-à-Porter’ a gente via uma negociação com outros artistas, que estavam muito envolvidos no processo”, afirma o diretor regional do Sesc. “Era quando ele assumia sua arte com mais liberdade.”
Também será inaugurada a instalação “movimentocptsesc”, de Ricardo Muniz Fernandes, que apresenta objetos, figurinos e imagens do acervo do encenador. “Antunes reuniu muita coisa. Tinha uma coleção enorme de materiais de outros artistas, aquilo era uma espécie de fundamento do seu curso”, explica Miranda.

ANTUNES FILHO, 90 ANOS . GRÁTIS
Onde: Sesc Consolação, r. Dr. Vila Nova, 245
Instalação: “movimentocptsesc” de seg. a sex., das 16h às 21h; sáb., das 13h às 18h; até 15/2
ExperiênciasPrêt-à-Porter sáb. (14), às 16h
A Cena Autoral em Prêt-à-Porter sex. (13), às 19h

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