Asia

Acordo comercial EUA-China condiciona redução de tarifas a compras de produtos agrícolas

Por Andrea Shalal e David Lawder e Stella Qiu

WASHINGTON/PEQUIM (Reuters) – Os Estados Unidos e a China amenizaram sua guerra comercial nesta sexta-feira, anunciando a “fase um” de um acordo que reduz algumas tarifas dos EUA em troca do aumento das compras chinesas de produtos agrícolas norte-americanos e outros bens.

Pequim concordou em comprar 32 bilhões de dólares em produtos agrícolas adicionais nos próximos dois anos, disseram autoridades dos EUA, a partir dos 24 bilhões de dólares adquiridos em 2017, antes do início da guerra comercial. A China também aumentaria as compras de bens manufaturados, energia e serviços dos EUA.

Os Estados Unidos suspenderiam tarifas sobre produtos chineses que entrariam em vigor no próximo domingo e reduziria outras, disseram autoridades. A expectativa é que um acordo seja assinado na primeira semana de janeiro, em Washington, pelos principais negociadores.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse no Twitter na manhã desta sexta-feira: “Concordamos com um acordo muito grande da primeira fase com a China”. As autoridades chinesas “concordaram com muitas mudanças estruturais e compras maciças de produtos agrícolas, energia e manufaturados, além de muito mais”, afirmou ele.

Posteriormente, durante uma entrevista coletiva na Casa Branca, Trump disse achar que a China alcançaria o valor de 50 bilhões de dólares em compras agrícolas.

Em uma coletiva de imprensa na noite de sexta-feira em Pequim, autoridades chinesas disseram que os dois países alcançaram grandes progressos em suas negociações comerciais para a primeira fase e que concordaram com o texto de um acordo, mas não ofereceram detalhes específicos sobre a quantidade de mercadorias norte-americanas que Pequim concordou em comprar.

O acordo foi anunciado quando o Comitê Judiciário da Câmara dos EUA votou em Washington para acusar Trump de abuso de poder e obstrução durante um inquérito de impeachment.

Alguns grupos empresariais dos EUA saudaram o acordo como um fim à incerteza que tem desacelerado o crescimento global. Críticos questionaram se a guerra comercial valia as perdas de empregos e a queda nas vendas.

Os mercados norte-americanos oscilaram com base em rumores e vazamentos sobre a negociação comercial nos últimos meses, mas tinham poucas variações nesta sexta com a notícia do acordo.

COMPRAS AGRÍCOLAS

A China concordou em tentar comprar 50 bilhões de dólares em produtos agrícolas por ano, disse Robert Lighthizer, representante de comércio dos Estados Unidos, a repórteres na Casa Branca nesta sexta-feira.

Para alcançar a marca, Pequim se comprometeu a comprar 16 bilhões de dólares a mais por ano em produtos agrícolas pelos próximos dois anos, disse ele.

Os Estados Unidos têm pressionado pelo valor de 50 bilhões de dólares depois de Trump dizer, durante entrevista coletiva em 11 de outubro, que os dois países haviam concordado com a “Fase um” de um acordo comercial, a qual incluía “uma compra de 40 (bilhões de dólares) a 50 bilhões de dólares em produtos agrícolas”.

Desde então, Pequim se recusou a se comprometer a comprar uma quantidade específica de produtos agrícolas durante um certo período de tempo. As autoridades chinesas disseram que gostariam de poder comprar com base nas condições do mercado.

A China importará mais trigo, milho e arroz dos EUA após o acordo, disse o vice-ministro da Agricultura da China nesta sexta-feira, sem dar detalhes.

A China não foi um grande comprador de milho, trigo ou arroz nos EUA no passado, embora nos últimos anos tenha sido o terceiro ou quarto maior comprador de uma variedade específica de trigo, o trigo de primavera dos EUA utilizado para blends com outros cereais.

A China foi um dos cinco principais compradores de milho dos EUA entre 2011 e 2014, mas, desde então, não tem sido um grande comprador.

A soja representou metade das compras agrícolas da China em 2017. Foi aberto, desde então, um buraco na demanda, porque os rebanhos de porcos que se alimentam da oleaginosa foram reduzidos pela peste suína africana.

Questionados especificamente sobre o número de 50 bilhões de dólares citado por Trump, autoridades de Pequim disseram nesta sexta-feira que detalhes sobre o valor serão divulgados depois.

Lighthizer não forneceu detalhes sobre os compromissos chineses de importar energia dos EUA ou outros produtos.

REDUÇÕES TARIFÁRIAS

Os EUA concordaram em suspender as tarifas sobre 160 bilhões de dólares em produtos chineses, que entrariam em vigor em 15 de dezembro, disse Trump no Twitter, além de reduzir algumas tarifas existentes para 7,5%.

As alíquotas de 15 de dezembro –que alcançariam quase 160 bilhões de dólares em bens de consumo fabricados na China, incluindo telefones celulares, laptops, brinquedos e roupas– deveriam entrar em vigor às 00h01 do domingo. O escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) precisaria registrar um aviso no Diário Oficial dos EUA para rescindi-las, dizem advogados de comércio dos EUA.

Um comunicado divulgado pelo USTR nesta sexta-feira não mencionou as tarifas de 15 de dezembro, mas disse que os Estados Unidos manteriam tarifas de 25% sobre 250 bilhões de dólares em mercadorias chinesas.

Já para outra lista de importações chinesas, equivalente a 120 bilhões de dólares, o governo Trump diminuirá a taxa tarifária pela metade, para 7,5%, sobre 120 bilhões de dólares, cobrada desde 1º de setembro.

Entre os produtos a serem beneficiados com tarifas mais baixas estão aparelhos de televisão de tela plana, alto-falantes inteligentes, fones de ouvido Bluetooth e muitos tipos de calçados.

A China também concordou em suspender tarifas retaliatórias, visando bens que variam de milho e trigo a veículos norte-americanos e autopeças, que entrariam em vigor em 15 de dezembro.

PROTEÇÕES À PROPRIEDADE INTELECTUAL

Inicialmente, a Casa Branca sob o governo Trump havia estabelecido planos ambiciosos para reestruturar o relacionamento dos Estados Unidos com a China, incluindo tratar dos resultados da investigação do Escritório do Representante de Comércio dos EUA em 2018, que concluiu haver práticas “injustas, irracionais e que distorcem o mercado” por parte de Pequim.

De forma bipartidária, existe amplo apoio à tentativa de Trump de responsabilizar a China por anos de espionagem econômica, ataques cibernéticos, transferência forçada de tecnologia e a tática de redução do preço feitos via pesados ​​subsídios do governo.

O acordo desta sexta-feira abarca propriedade intelectual, transferência de tecnologia, agricultura, serviços financeiros, moeda e câmbio, disse o Representante de Comércio dos Estados Unidos em comunicado.

O acordo fornecerá mais proteção para empresas estrangeiras na China e empresas chinesas nos Estados Unidos, disseram autoridades chinesas.

Nenhum dos lados deu mais detalhes.

A Business Roundtable, um grupo de executivos das maiores empresas dos EUA, disse: “Essa diminuição nas tensões comerciais é um passo positivo para resolver importantes questões comerciais e de investimento entre nossas duas nações”.

Chris Murphy, o senador de Connecticut, o classificou de “rendição total”, dizendo que a China havia assumido “zero compromissos duros com a reforma estrutural”.

Lighthizer disse a repórteres nesta sexta-feira que ambos os lados poderiam começar a negociar questões mais difíceis antes das eleições de novembro de 2020.

“Isso é muito difícil”, disse ele. “Temos sistemas diferentes. Temos que descobrir uma maneira de integrar esses sistemas e levá-los a um lugar em que beneficie mais os Estados Unidos do que agora”.

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