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Ao contrário do que disse Bolsonaro, passado de atleta não é garantia de proteção contra coronavírus

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro disse em pronunciamento em rede nacional, nesta terça (24), que, por ter “histórico de atleta”, “nada sentiria” se contraísse o novo coronavírus ou teria uma “gripezinha ou resfriadinho”.
A verdade é que um passado de vida fisicamente ativa pode ajudar a ter uma velhice mais saudável, mas está longe de ser um escudo contra doenças. Além disso, é impossível prever como seria o quadro de uma infecção em qualquer pessoa, ainda mais uma nova, como a Covid-19.
“Ele tem um critério de risco, que é ter mais de 60 anos. Isso é inegável. Esse é um fator de risco independentemente do passado. O fator de risco é ter um passado grande”, diz Wladimir Queiroz, infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). Bolsonaro tem 65 anos.
Queiroz afirma que, com o avanço da idade a imunidade, de uma forma ou de outra a saúde acaba ficando mais debilitada, com respostas mais comprometidas frente a doenças.
“O fato de você ter saúde e não ter outras doenças, diminui muito o risco. Mas o fator de risco mais importante é a idade”, diz Rubens Belfort Junior, presidente da Academia Nacional de Medicina.
Entre idosos, o risco de mortalidade da doença cresce consideravelmente. No Brasil, até esta terça (24) havia 46 mortos pelo novo coronavírus, e 42 deles tinham mais de 60 anos.
“Temos que pensar que é um momento sério. Todos nós estamos preocupados e todos nós estamos em risco”, diz Renato Grinbaum, também consultor da SBI.
Bolsonaro também associou, sem citar nomes, a ideia de “gripezinha” a Drauzio Varella, médico e colunista da Folha de S.Paulo.
No início do ano, antes da chegada do vírus no Brasil e da explosão de casos fora da China, Varella fez um vídeo no qual dizia que, naquele momento, não havia motivos para alterar o ritmo de vida, mesmo entre os mais velhos. Com a mudança da situação e o espalhamento do vírus para outros países, Varella passou a alertar para os cuidados necessários frente à epidemia no Brasil.
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, e o senador e filho do presidente Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), no começo desta semana, tiraram de contexto o vídeo de Varella do início do ano (posteriormente as publicação foram deletadas pelo Twitter). Em resposta, o médico fez um novo vídeo no qual comenta a importância de levar a pandemia de coronavírus a sério.
“Quem minimiza essa situação é irresponsável. Como que você pode dizer que isso é uma coisa que não tem muito importância?”, disse Drauzio Varella. “Não é hora de polarizar politicamente a situação.”
Os especialistas também se preocupam com a mensagem transmitida por Bolsonaro ao minimizar o risco da Covid-19.
“Ninguém tem superpoderes nem bola de cristal. Quantos vão se sentir com os mesmos superpoderes que o presidente acha ter?”, diz Queiroz.
“Uma fala dessas atrapalha muito a educação e a instrução para a população”, afirma Belfort Junior.
HIDROXICLOROQUINA
Bolsonaro também voltou a falar sobre a cloroquina/hidroxicloroquina para tratar o novo coronavírus. O uso da medicação contra a Covid-19, porém, não tem evidência científica suficiente e sólida.
“O FDA americano [agência de regulamentação de remédios] e o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, buscam a comprovação da eficácia da cloroquina no tratamento da Covid-19. Nosso governo tem recebido notícias positivas sobre esse remédio fabricado no Brasil […].”
Um estudo francês com poucos pacientes identificou diminuição ou eliminação do vírus do corpo de pacientes. Mas tal pesquisa tem recebido críticas, entre elas a de não apresentar o desfecho clínico das pessoas que usaram a medicação.
Além de Bolsonaro, que já havia feito declarações sobre a droga, o presidente dos EUA, Donald Trump, também falou publicamente sobre a hidroxicloroquina recentemente.
Após a fala de Trump, o medicamento –que é usado no tratamento de malária, artrite e lúpus– começou a ter alta procura e acabou em diversas farmácias do Brasil e dos EUA, o que deixou desabastecidos os pacientes que necessitam da medicação.
Para evitar que a corrida pela droga continuasse, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou a proibição da exportação e a necessidade de receita para a compra da hidroxicloroquina, medicamento que, além de não ter ação comprovado contra o coronavírus, traz uma série de efeitos colaterais.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a pedir para que a população não use a droga.

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