SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Medo e trauma, esperança e calma. Uma montanha russa de sensações. Assim o repórter fotográfico Philip Montgomery define os dois meses que passou cobrindo a pandemia do novo coronavírus, em Nova York, para a revista do New York Times.
A maior cidade americana foi também a mais atingida pelo vírus no país, com mais casos e mortes no mundo. Até quarta-feira (17), os EUA tiveram 2.159.446 casos e 117.663 mortes por Covid-19, 22.171 delas em Nova York.
Com imagens impactantes em preto e branco, Montgomery registrou efeitos da epidemia ao longo de dois meses. Seu trabalho resultou em quatro artigos na revista, dois deles ocuparam a capa.
Às vezes, cobria mais de uma história por dia, em outras a cobertura durava até uma semana, como quando ele acompanhou o trabalho dos profissionais de saúde na linha de frente do combate à Covid-19, em salas de emergência e UTIs.
“Entrar nos hospitais pela primeira vez era uma mistura de sentimentos. A experiência era traumatizante, era assustador ver aquele volume de pacientes sofrendo”, relata ao New York Times. “Mas, no outro lado da moeda, havia esperança e calma porque os médicos e enfermeiros transmitiam a percepção de que através de suas mãos tudo ficaria bem.”
Montgomery se recorda do momento em que fotografou paramédicos que, contra todas as expectativas, praticamente ressuscitaram uma pessoa e imediatamente o alocaram junto a outros pacientes para que pudessem seguir em outro atendimento.
“Senti a imensa responsabilidade de ser a testemunha visual dos leitores”, conta.
Após essa cobertura, Montgomery se sentiu mais confortável com os procedimentos de segurança e partiu para outras pautas essenciais para entender a pandemia nas mais diversas dimensões que compõe uma cidade complexa como Nova York.
Primeiro, registrou o drama vivido por uma dona de bistrô que viu o trabalho de sua vida ficar por um fio, e na sequência, acompanhou o dia-a-dia em um centro de saúde comunitário no bairro do Queens, a partir da perspectiva estressante de um chefe de enfermagem.
Nos EUA, esses centros atendem pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza e outros grupos em vulnerabilidade social, um trabalho que ficou ainda mais pesado durante a pandemia.
Finalmente, registrou o cotidiano em uma tradicional casa funerária. Ali, ao mesmo tempo em que acompanhava o drama das inúmeras famílias que perdiam as pessoas que amavam, se impressionava com o trabalho resiliente dos diretores do espaço que davam o máximo para servir a comunidade com profissionalismo em meio ao caos.
Nesse trabalho, Montgomery ressalta o valor simbólico da foto em que capturou uma esposa colocando as mãos na cabeça de seu finado marido, dentro de um caixão.
“Essa é uma cena que você poderia ver em qualquer funeral pelo país, mas o que coloca essa imagem em seu lugar no tempo, é a luva [que a esposa está usando]”, analisa.
Para ele, que antes da pandemia estava se dedicando a trabalhos com retratos em estúdios, a nova realidade acabou trazendo uma oportunidade para retornar ao seu passado de reportagens na rua.
“Eu realmente espero que esse trabalho promova empatia”, diz. “E que sirva como um registro de nossa história coletiva”, finaliza.

Fotógrafo relata montanha-russa de sensações na cobertura da Covid-19 para o New York Times
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