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Longa sobre Milos Forman falha ao explorar pouco a vida do cineasta

FOLHAPRESS – Não é justo dizer que o personagem interessa mais que o cineasta em “Forman vs. Forman”. Afinal, não fosse Milos Forman (1932-2018) quem foi no cinema, talvez sua incrível trajetória permanecesse escondida para sempre.

E o que traça esse documentário de Helena Trestiková e Jakub Hejna é antes de tudo a trajetória de um homem que passou, por diversos motivos, por momentos cruciais da história tcheca, desde que os nazistas invadiram seu país, em 1939, e levam seus pais para campos de concentração, onde morreriam (não por serem judeus, mas por oposição aos invasores).

Segue-se a adolescência e o período de formação, sob o regime comunista. Do momento em que se torna cineasta isso lhe parece até bom: ter um inimigo em comum, dirá, isso foi a marca da geração de cineastas tchecos surgida nos anos 1960. Inimigos centrais: a falsidade dos filmes do realismo socialistas (“eu queria ver gente de verdade nas telas”) e o jogo de esconde-esconde com os censores.

Mas esse jogo, diz ele, tinha algo de divertido. E, driblando os censores, faz sucesso internacionalmente com “Os Amores de uma Loira” (1965). Mais estranho seria o destino de “O Baile dos Bombeiros” (1967).

Proibido pela censura, liberado depois da subida do comunista liberal Dubcek ao poder, impedido de passar no Festival de Cannes -cancelado por conta da revolta estudantil de Maio de 1968- o filme ficou num certo limbo, assim como Forman, já que pouco depois a URSS invadiu seu país e pôs fim à Primavera de Praga.

É então que Forman embarca para os EUA, decidido a não mais ver o seu país. Não era tão simples, mas afinal, em 1975 ele faz “Um Estranho no Ninho”. História de Ken Kesey se passava em uma instituição psiquiátrica. E o cineasta logo percebeu ali uma perfeita metáfora da Tchecoslováquia sob o Partido Comunista.

Daí seguem-se o Oscar por esse filme, outro Oscar por “Amadeus”, filmes ora mais ora menos bem recebidos, mas nunca irrelevantes. Por fim, cai o socialismo na Tchecoslováquia e sobe ao poder seu ex-colega de colégio Vlacav Havel, promovendo uma reconciliação final entre o cineasta e seu país.

Tudo muito bem. Mas quem foi Milos Forman? O documentário de Helena Trestiková e Jakub Hejna tem pouco a dizer a respeito. Com exceção do período de profunda depressão que marca seus primeiros anos nos Estados Unidos, Forman é alguém que passa pelos acontecimentos mais radicais de forma quase indiferente.

Não que tenha sido assim, mas em linhas gerais o documentário fala mais sobre a história da hoje República Tcheca (e depois Hollywood e marginalmente os EUA) pela qual passa um personagem razoavelmente ilustre do que propriamente de Milos Forman.

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É para sair do filme com o sentimento de ter aprendido alguma coisa sobre o mundo, o cinema e o sentimento de liberdade (algo que percorre a vida de Forman). Mas dá também para sentir certa frustração: tanta documentação nos remete a uma série de questões (o que é ser exilado, o que é perder suas raízes, ou reencontrá-las inesperadamente?) pelas quais o filme passa relatorialmente.

Não se vislumbra ponto de vista: tudo se organiza em torno da necessidade de juntar todo o material possível numa ordem que, em linhas gerais, nos mostre o trajeto de Forman no estilo “do feto ao túmulo”. Parece que a falta de censura afeta mais os cineastas de hoje do que a censura atrapalhava os ousados jovens da nouvelle vague tcheca dos anos 1960.

FORMAN VS. FORMAN

Produção República Tcheca, França; 2019

Direção Helena Trestiková e Jakub Hejna

Quando sábado (26), às 13h

Onde online (www.etudoverdade.com.br)

Avaliação Regular