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Em evento com eleitores, Trump se esquiva sobre testes e se nega a condenar teoria conspiratória

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O presidente americano, Donald Trump, se negou a participar de um debate virtual com seu adversário nas eleições de novembro, o democrata Joe Biden, planejado para ocorrer nesta quinta (15). Em vez disso, decidiu realizar seu próprio evento, no qual respondeu perguntas dos eleitores em Miami, na Flórida.

Embora frequentemente pressionado pela moderadora, Savannah Guthrie, Trump manteve um tom menos agressivo que o normal e terminou a noite sem cometer grandes deslizes ou fazer declarações fortes que pudessem afastar eleitores moderados e indecisos, que são o foco de sua campanha neste momento em que ele está atrás nas pesquisas.

Logo no início da noite, Guthrie perguntou diversas vezes ao republicano se ele havia sido testado e recebido resultado negativo para a Covid-19 no dia do primeiro debate contra Biden, 29 de setembro. Três dias depois, a Casa Branca anunciou que o presidente estava contaminado.

Trump evitou responder diretamente, dizendo várias vezes que realiza testes com frequência, mas sem afirmar assertivamente que foi testado naquele dia, nem quando havia sido a última vez em que recebeu resultados negativos.

O presidente voltou a afirmar que “a cura não pode ser pior que a doença”, em referência à adoção de “lockdowns” por alguns estados. O presidente responsabilizou a China pela pandemia, algo que já vem fazendo durante a campanha.

Uma eleitora, filha de médicos que trabalham na resposta ao coronavírus, perguntou a Trump por que ele não tornou obrigatório o uso do item. O presidente respondeu que não havia consenso científico sobre sua eficácia.

No entanto, autoridades sanitárias nos EUA e em outros países, assim como a Organização Mundial da Saúde, recomendam as máscaras por comprovadamente reduzirem o risco de infecção.

Guthrie perguntou ainda sobre a realização de um evento na Casa Branca, no dia 26 de setembro, no qual Trump apresentou sua nomeada à Suprema Corte, Amy Coney Barrett.

“Ei, eu sou o presidente, preciso ver as pessoas, não posso ficar em um porão”, disse Trump. Ele afirmou que poderia ter se contaminado em qualquer uma de suas aparições públicas e citou uma reunião com famílias de veteranos, sugerindo que poderia ter sido infectado naquela ocasião.

A indicação de Barrett foi objeto de perguntas dos eleitores. Um deles questionou a contradição da postura de Trump de 2016 e a deste ano sobre a escolha de nomes para o tribunal.

Naquele ano, o republicano se opôs à nomeação de Merrick Garland pelo então presidente Barack Obama, argumentando que a escolha deveria ser feita pelo próximo presidente por se tratar de um ano de eleição —o anúncio do democrata foi feito mais de seis meses antes do pleito.

Neste ano, Trump apontou Barrett menos de cinco semanas antes da data final da votação. O presidente defendeu sua decisão dizendo que não havia impedimento legal ao processo e que, se os democratas tivessem a oportunidade, fariam o mesmo.

Um momento marcante do debate do fim de setembro entre os dois candidatos veio à tona. Guthrie perguntou a Trump por que ele havia se recusado a condenar movimentos racistas na ocasião —ele evitou abertamente criticar os grupos e desviou dos questionamentos do moderador, Chris Wallace.

A jornalista pediu então que o presidente condenasse o movimento QAnon, que já foi classificado pelo FBI como uma ameaça de terrorismo doméstico.

Trump afirmou que não sabia muito sobre o grupo, a não ser que eles são “fortemente contra a pedofilia”.

“Vou lhe contar o que sei, sei sobre a antifa e sei sobre a esquerda radical”, disse ele, repetindo o discurso da noite do debate.

A moderadora afirmou que os membros do QAnon alegam, sem provas, existir um aparato satânico que apoia uma quadrilha de tráfico sexual infantil. “Eu simplesmente não sei nada sobre QAnon”, Trump disse.

“Você sabe”, respondeu Guthrie.

“O que ouvi é que eles são fortemente contra a pedofilia e eu concordo com isso”, concluiu o presidente.

Os eleitores também fizeram perguntas sobre imigração, um dos temas que dominaram a campanha do republicano em 2016 e que têm grande apelo com sua base.

Questionado sobre se continuaria com seus esforços para fazer cortes no programa Daca, Trump afirmou que “cuidaria” do programa.

Também conhecida como Dreamers (sonhadores), a política foi instituída por Obama e impede que grande parte dos imigrantes que foram sem documentos para os EUA quando crianças sejam deportados.

Guthrie mencionou que o governo reduziu sistematicamente o programa.

“Por causa da pandemia, muita coisa mudou na área da imigração, o México foi fortemente atingido, como você sabe, e tornamos muito, muito difícil entrar por causa da pandemia e outros motivos e crimes”, respondeu Trump.

“Queremos que as pessoas entrem em nosso país, mas elas têm que entrar por meio de um sistema de mérito e de forma legal.”

Enquanto isso, Biden participou de um evento similar na Pensilvânia, transmitido em paralelo.

Em ambos os estados, a disputa entre os dois candidatos não está definida —tanto a Flórida quanto a Pensilvânia fazem parte do grupo dos estados-pêndulo, aqueles que ora votam em democratas, ora em republicanos.

Mas a Flórida pesa mais na corrida à Casa Branca: é o terceiro estado com o maior número de votos no colégio eleitoral (são 29), ficando atrás apenas da Califórnia e do Texas. A Pensilvânia é o sexto, com 20.

Pesquisas recentes mostram que Trump está atrás de Biden no estado por 45% contra 49,1%, de acordo com o site FiveThirtyEight. A diferença é menor do que os resultados de todo o país, nos quais o democrata aparece com 52,4% e o presidente, com 41,9%.

Contribuiu ainda para a escolha da Flórida o fato de que desde 1924 nenhum republicano chegou à Presidência sem vencer no estado, e, há mais de 20 anos, quem vence ali leva também a Casa Branca.

Foi também na Flórida que Trump realizou seu primeiro comício após ser liberado pelos médicos. Na segunda (12), dez dias após ter divulgado a contaminação pelo novo coronavírus, o presidente falou a milhares de apoiadores no aeroporto de Sanford, região central do estado.

Seu discurso teve o repertório de sempre: disse que uma vitória de Joe Biden mergulhará os EUA no socialismo, repetiu que vai erradicar o coronavírus e distribuir os medicamentos o que tomou durante o seu tratamento e pediu ao menos três vezes que as pessoas “saiam de casa e votem” —o voto não é obrigatório no país.

Preocupações com o quadro de saúde de Trump estiveram no centro do planejamento desta noite. Até a noite de terça, a rede NBC, responsável pelo evento, estava preparada para cancelá-lo se a equipe do presidente não apresentasse provas convincentes de que não havia possibilidade de Trump contaminar pessoas à sua volta.

Na quarta (14), a emissora anunciou o evento aconteceria e que seguiria “as diretrizes determinadas pelas autoridades de saúde”.

O encontro desta quinta ocorreu ao ar livre, no Pérez Art Museum, em Miami. Os presentes vestiram máscaras e se sentaram respeitando o distanciamento social.

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