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‘Succession’ retorna apoiada na linha bastante tênue que separa os messias dos loucos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Succession” não viveu exatamente um caso de amor à primeira vista com a crítica e o público. Sua primeira temporada foi, sim, elogiada, mas não o suficiente para ser considerada um dos grandes dramas da atualidade. Até que, no ano passado, sua segunda leva de episódios tomou o Emmy de assalto, embolsou sete troféus –incluindo o de melhor série dramática– e grudou a trama no imaginário popular, como um resquício da era de ouro da televisão.

Com estreia marcada para este domingo, a terceira temporada de “Succession” chega envolta em muita expectativa –não só pelos prêmios e o burburinho que gerou, mas porque o último episódio exibido terminou com um gancho gigantesco, que deixou o público angustiado para saber qual será o futuro dos bilionários da família Roy.

A peça-chave dessa volta é Jeremy Strong, que interpreta Kendall, o filho outrora prodígio que, após se viciar em cocaína, quase pôr o conglomerado de mídia do pai nas mãos de rivais e contribuir para a morte de um garçom, caiu em desgraça e se tornou subserviente ao magnata Logan Roy.

Ao menos era o que todos achavam, até que –atenção para o spoiler da segunda temporada– ele decide ir à imprensa para dizer que o patriarca sabia de uma série de escândalos sexuais que ocorriam no setor de cruzeiros da empresa.

“É como se o Kendall tivesse passado por um batismo de fogo, um renascimento no fim da segunda temporada”, diz seu intérprete, Jeremy Strong, que levou o Emmy de melhor ator em série dramática no ano passado. “O desafio da última temporada foi começar num estado de completa desolação, de colapso interno, e reacender, despertar esse personagem. Ali, naquela cena final, é como se o Kendall matasse o dragão.”

O primeiro episódio da terceira temporada foi batizado de “Secession” –secessão, em inglês, algo bem ilustrativo do racha que Kendall criou na família– e mostra o que acontece imediatamente após o pronunciamento público do mauricinho bilionário.

No meio de uma pista de aeroporto, Logan e suas outras crias –Shiv, Roman e Connor– decidem que o melhor a fazer, após o vazamento do escândalo, é blindar o magnata, que entra num avião particular depois de escolher um destino aleatório numa lista de países que não têm acordos de extradição com os Estados Unidos.

Ele monta seu quartel-general num quarto de hotel decadente do leste europeu, longe do glamour de sempre, cercado por confidentes puxa-sacos que parecem completamente perdidos. Do outro lado do mundo, os arranha-céus espelhados de Nova York ilustram a grandiosidade que Kendall agora pensa ter conquistado –e ele acredita estar pronto para enfim usurpar o trono do conglomerado Waystar Royco.

Mas, como as temporadas anteriores de “Succession” provaram, o caminho para o topo é turbulento e incerto –e, por isso, é bom Kendall não se perder no discurso demagogo e deslumbrado de quem quer salvar a empresa das garras do que enxerga como uma ameaça.

“Há agora uma certa abordagem messiânica para o Kendall, um personagem que tem uma visão clara e positiva do que vai fazer. Existem figuras muito parecidas na nossa cultura hoje, os visionários que não percebem que há uma linha tênue que separa suas visões da loucura”, diz Strong, de costas para a grande janela de um arranha-céu que garante uma vista privilegiada –e ele faz questão de frisar isso– da Trump Tower.

O ator conta que a primeira leitura do episódio piloto de “Succession”, antes da estreia da série, ocorreu justamente na noite em que Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, há cinco anos. Já a terceira temporada começou a ser filmada em novembro passado, quando Joe Biden recuperou o cargo mais alto do país para os democratas.

Matthew Macfadyen, que faz o abobalhado Tom Wambsgans, marido da herdeira Shiv Roy, também enxerga ecos políticos na trajetória da série. De uma sátira sobre os super-ricos e os absurdos do capitalismo, “Succession” foi se aproximando de uma realidade séria e alarmante num mundo que cada vez mais debatia o papel do jornalismo, fake news, relações de trabalho tóxicas, gigantes da tecnologia e campanhas ambiciosas para soterrar o que se convencionou chamar de velha política.

O humor continua na trama, mas agora ela está muito mais para um retrato de nossos tempos e de uma tragédia shakespeariana –que põe no centro uma figura monárquica, Logan Roy, sendo apunhalada pelos mais próximos de seu círculo– do que para uma simples paródia. “O governo Trump foi ruim para a humanidade, mas bom para os roteiristas”, diz Mcfayden. “Tudo o que seria considerado exagerado e absurdo, até então, agora deixou de ser.”

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SUCCESSION (TERCEIRA TEMPORADA)

Quando Estreia neste domingo (17), às 22h, na HBO e na HBO Max

Elenco Jeremy Strong, Brian Cox e Matthew Macfadyen

Produção EUA, 2021.

Criação Jesse Armstrong

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