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Indígena de Maricá é a primeira criança do estado vacinada contra a Covid-19

A indígena Yva Mirim Sophia Nunes da Silva Oliveira, de 8 anos, foi a primeira criança a ser vacinada contra a Covid-19 no estado do Rio e uma das primeiras do país. A primeira dose para um indígena mirim no país foi em Davi Seremramiwe Xavante, também de 8, na capital paulista, por volta das 12h desta sexta-feira. Já no estado fluminense, a cidade de Maricá saiu na frente na vacinação de crianças de 5 a 11 anos, e fez sua aplicação às 20h08. Com pouca iluminação, a imunização aconteceu na aldeia Guarani Mata Verde Bonita (Tekoa Ka’Aguy Ovy Porã), no bairro de São José do Imbassaí, à luz de faróis e lanternas de celulares. Ao todo, Maricá recebeu 820 doses da Pfizer. A prefeitura da cidade esperava que a vacinação acontecesse às 16h, o que não ocorreu.

Nos postos de saúde de Maricá, porém, a vacina só deve ser aplicada a partir deste sábado (15), conforme divulgado pela prefeitura. Já em outros municípios do estado, inclusive na capital, a vacinação acontecerá a partir da próxima segunda-feira (17). A distribuição das doses recebidas pelo estado deve ter início pelos municípios do Grande Rio.

Da etnia Guarani, Sophia é moradora de Maricá, mas nasceu quando a aldeia ainda ficava em Camboinhas, Niterói. Ela estuda no 4º ano da Escola Parapoty nhe’E já, que fica na aldeia e ajuda a alfabetizar seus amigos e familiares na língua Guarani.

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A mãe dela, a indígena Shirlene da Silva Oliveira, 41, acompanhou a vacinação na aldeia junto com outros indígenas. Ela comemorou a dose para a filha.

— Sabemos que as crianças não estão imunes a essa doença. Como é um vírus contagiante, é importantíssimo essa vacina, mesmo com toda a proteção que temos aqui na aldeia. Contamos com Deus e com a vacina que é solução. Eu apoio essa vacina, até porque esse vírus não olha para idade, raça, cor, religião e cultura. Ele está aí e está para todos. Temos que concordar com tudo aquilo que é científico, para a cura. Ele não é só uma gripezinha que cura com chá — afirma Shirlene.

Numa junção da medicina ocidental com a medicina dos povos originários, a pajé da aldeia Para Poty Nhe’E Já Lídia Nunes, 78, recebeu as doses da vacina. Enquanto isso, os pequenos cantavam o cântico “Nossos pais são o sol e o trovão”. Durante todo o tempo, como “proteção”, a pajé ficou ao lado das crianças que eram vacinadas.

— Esse é um momento especial para o meu povo — disse ela ao GLOBO.

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A cacique Jurema “Para Rete Yry” Nunes de Oliveira, 40, conta que tem uma responsabilidade muito grande dentro da localidade e que, ao longo dos últimos meses, 14 crianças foram contaminadas com a Covid-19.

— Essa vacina é importante para todos nós. É segurança. É uma felicidade ter essas crianças sendo vacinadas. Eu já estava me preocupando com isso (com o número de crianças contaminadas). Eu via no jornal a quantidade de crianças que perderam a vida e a vacina não chegava. A gente recebe muitos turistas e agora eu fico muito feliz pelos pequenos sendo imunizados — destaca Jurema, que completa:

—  Eu não esperava que a gente fosse ser um dos primeiros do país a receber a Pfizer infantil. Quando me ligaram e disseram que seria a primeira aldeia, fiquei alegre. Até porque, nos últimos meses, 14 crianças foram infectadas, mas graças a Deus nenhuma delas foi para o hospital. Eu vejo muitas pessoas falando que têm medo que as crianças podem ter problemas: eu confio em Deus e ele é o maior de todos. Eu falei com os meus dois filhos, de 10 e 11 anos, que é melhor tomar a vacina do que ter algo pior. A gente precisa tomar a vacina. Eu tenho muita responsabilidade e quero minha aldeia toda imunizada.

Ao todo, cerca de 18 mil crianças da cidade serão vacinadas. Vinte indígenas mirins e 300 meninos e meninas com comorbidades e que têm de 5 a 11 anos. A Prefeitura de Maricá diz que não vai cobrar que essa parcela da população seja moradora especificamente da cidade.

Ao todo, 20 crianças das aldeias Mata Verde Bonita e da Sítio do Céu (Pevaé Porã Tekoa Ará Hovy Py), que fica em Itaipuaçu, serão imunizadas.

A secretária municipal de Saúde, Solange Regina Oliveira, acompanhou a vacinação. Após 10 horas da chegada das doses da vacina no Rio, ela criticou o Ministério da Saúde que demorou para entregar as vacinas para o país. Ela disse também que “não houve ânsia” da cidade para a imunização dos pequenos.

— A vacina já vinha sido aprovada em outros países da Europa e da América. A Anvisa já havia aprovado a imunização de crianças há dias, mas (o Ministério da Saúde) não havia comprado. Enfim, chegou — disse a secretária, que completou:

— Esse início é esperado há um tempo e ele já tinha que ter sido feito. Tivemos nas festas dos finais de ano e esse grupo desprotegido teve contatos com adultos e idosos e isso contribuiu para o aumento da cadeia de transmissão. Estamos atrasados nesse processo e decidimos dar a vacina imediatamente.

A expectativa é de que as doses terminem na quarta-feira, com a metade das crianças de 11 anos inoculadas. Maricá espera receber mais doses na próxima semana, de acordo com o calendário de entregas do Ministério da Saúde.

— Vamos vacinar as crianças com comorbidades, que são cerca de 300. Ainda vão sobrar 500 doses. Isso dá para imunizar a metade das crianças de 11 anos. Mas, com a quantidade de doses, só conseguiremos fazer isso até quarta. Esperamos receber mais doses na próxima semana para não haver interrupção — afirma Solange.

A prefeitura esperava imunizar cerca de mil crianças por dia. No entanto, não vai conseguir. Nos próximos dias 20 e 27, a cidade deverá receber 1.640 doses.

— Esse é um início simbólico. Já estamos atrasados. Isso marca a importância da vacinação dessas crianças — destacou.

Questionada se houve uma pressa da cidade em vacinar crianças à noite, Solange destacou que “não houve”.

— Não é uma ânsia em vacinar. Estamos atrasados nesse processo. Tinha que ser hoje, imediatamente.

Já no sábado (15), será a vez das crianças de 5 a 11 anos com comorbidades ou deficiência permanente, na sede do Serviço de Atendimento de Reabilitação Especial de Maricá (SAREM), das 9h às 13h.

A vacinação continuará de segunda (17) a sexta-feira (21) para as crianças deste grupo prioritário, entre 9h e 16h, igualmente no SAREM. As crianças com dificuldades de locomoção severa poderão receber a vacinação em casa, agendando na sua Unidade de Saúde (USF) de referência.

De acordo com a Prefeitura de Maricá, o cronograma seguirá o recomendado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, “desde que com a disponibilidade de vacinas”.

— É importante que os responsáveis saibam que a vacina é segura e eficaz, e é fundamental que as crianças recebam a 1° dose o quanto antes para conseguirmos romper a cadeia de transmissão do vírus, principalmente a de novas variantes. Além de proteger e evitar formas graves, a vacinação das crianças também protegerá os adultos e os idosos, por isso é urgente e necessária — destaca a secretária municipal de Saúde.

Neste primeiro momento, para vacinar as crianças, o responsável legal precisará apresentar o laudo médico que comprove a comorbidade ou a deficiência permanente, além de certidão de nascimento ou documento de identidade da criança. Serão vacinadas as crianças com comorbidades ou deficiências listadas no PNI.

O país recebeu na madrugada de quinta-feira o primeiro lote de vacinas infantis da Pfizer, a única autorizada para uso no Brasil para a faixa etária de 5 a 11 anos. A remessa chegou no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), com um total de 1,248 milhão de doses.

A distribuição das doses começou na própria quinta-feira durante o dia. A quantidade enviada a cada unidade federativa será proporcional à população de crianças. A previsão do Ministério da Saúde é receber 4,3 milhões de doses de vacinas infantis no mês de janeiro e um total de 20 milhões no primeiro trimestre.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu crianças de 5 a 11 anos na bula da vacina da Pfizer, numa decisão anunciada em reunião virtual no dia 16 de dezembro do ano passado.

O Rio de Janeiro recebeu nesta sexta-feira as primeiras doses de vacina contra a Covid-19 para crianças. A previsão inicial era que os imunizantes da Pfizer chegassem ao Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), nesta madrugada. Porém, as 93.500 doses de vacina enviadas pelo Ministério da Saúde vieram via terrestre e demoraram mais do que o previsto.

Segundo a Secretaria estadual de Saúde do Rio, o estado tem 1.533.654 crianças na faixa etária de 5 a 11 anos. Logo, a quantidade recebida neste primeiro lote corresponde a apenas 6,09% do necessário.

O município do Rio deve buscar suas respectivas doses ainda nesta sexta-feira e iniciará sua campanha de vacinação na próxima segunda-feira. A imunização começará pelas meninas de 11 anos.

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