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Presidente da Câmara de SP diz que há maioria para cassar vereador que fez fala racista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil) diz que, como homem negro, é parte ofendida pela fala racista do vereador Camilo Cristófaro, ex-PSB, que utilizou a expressão “coisa de preto” durante sessão na Casa. Por consequência, argumenta Leite, defende a cassação do vereador.

Procurado o dia todo pelos colegas, Leite afirma que enxerga hoje uma ampla maioria de vereadores que, em plenário, votaria pela cassação de Cristófaro. Ele diz acreditar que o caso já terá chegado ao desfecho até o final de junho, após votações na comissão de ética e no plenário da Câmara.

“A pena alternativa à cassação é pequena [advertência ou suspensão]. Sou uma parte ofendida, e por isso acho plausível que haja cassação. Com certeza [defende a cassação]. Ele ofendeu a sociedade como um todo. Como negro que sou, quero que cumpra a lei”, afirma.

Sobre o pedido de desculpas e as explicações de Cristófaro, Leite diz que ele pode dizer o que quiser, mas o efeito das atitudes não é alterado.

“Você pode passar sobre o pé de alguém, amassar e falar ‘desculpa, amassei seu dedo’. O dedo continua amassado. Assim a sociedade continuará amassada. Não resolve. Isso não dá. Se toda vez pratica racismo, pede desculpas e acabou você nunca resolve. Assim não vamos retirar [o racismo] da sociedade nunca. Pediu desculpa, tudo bem, mas não resolve o caso”, afirma Leite.

O presidente da Câmara diz que, como 2022 é ano eleitoral, os vereadores devem sofrer pressão de seus partidos para que se posicionem contra Cristófaro.

“Os partidos vão pressionar suas bancadas, além do fato de que a maioria dos vereadores já quer a cassação. Isso se soma. Ele terá algumas coisas agindo que não dependem só do presidente. Estamos todos defendendo o cumprimento da lei”, analisa.

Leite diz que o histórico de Cristófaro não influi negativamente em seu posicionamento, pois está analisando o caso isoladamente. No entanto, deve contribuir para que o vereador seja vencido por ampla margem na votação em plenário.

“Na hora do voto, isso pesa contra ele. O conjunto da obra dele não é bom. Estou absolutamente convencido [de que há maioria para cassá-lo hoje], e por uma larga margem”, completa.

Sobre uma possível reviravolta que evitaria a cassação de Cristófaro, Leite diz achar “muito difícil, pouco provável”.

Caso seja cassado, o vereador também deve ficar inelegível por oito anos.

OUTROS CASOS

Essa não é a primeira vez que Crisófaro se envolve em confusão. Em 2019, ele chamou o vereador Fernando Holiday (Novo) de “macaco de auditório”, no plenário da Câmara.

“Gostaria de falar que lamentavelmente o senhor Fernando Holiday usa das redes sociais, que ele é o grande macaco de auditório das redes sociais, que ele usa dando risada dessa Casa, explodindo as redes sociais, porque a população adora ver sangue, maldade, mentira, fake, onde ele acusa os seus colegas de vagabundos”, disse Cristófaro, na ocasião.

De acordo com a assessoria do vereador Gilberto Nascimento (PSC), que preside a Corregedoria, o caso referente ao parlamentar Holiday deverá ser votado nas próximas semanas.

Em 2017, a então vereadora e atual deputada estadual Isa Penna (PCdoB) disse que foi empurrada e agredida por Cristófaro em um dos elevadores do prédio da Câmara Municipal.

De acordo com Isa, o vereador a xingou de “vagabunda”, “terrorista”, “cocô de galinha” e insinuou ameaças dizendo que ela não deveria ficar surpresa se “tomar uns tapas na rua”.

Em seguida, já fora do elevador, Cristófaro se aproximou da colega de plenário e lhe deu “um empurrão de leve”, de acordo com Isa. O vereador negou na época e diz que não ofendeu ninguém.

Há também acusações de agressões contra o vereador feitas por um funcionário da Subprefeitura do Ipiranga, que teria levado um soco em julho de 2020, e outra realizada por um assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT). No primeiro caso, Cristófaro diz que foi um empurra-empurra e que apenas se defendeu diante do funcionário da subprefeitura. Em relação à queixa do assessor de Suplicy, o vereador afirmou, na ocasião, que a acusação era mentirosa e o funcionário “queria aparecer, queria mídia”.

No dia 13 de março, a gestora pública Lucia de Souza Gomes, 47, registrou um boletim de ocorrência no 26º Distrito Policial, no Sacomã, em São Paulo. Ela acusa o vereador Cristófaro de tê-la ofendido verbalmente.

No boletim de ocorrência, ela narra que, ao tentar se aproximar do prefeito Ricardo Nunes (MDB) durante a inauguração de uma obra, o vereador Camilo Cristófaro disse que, se ela queria aparecer, “que fique pelada na revista Playboy” [sic].

A gestora pública, então, teria respondido que “o prefeito era para toda a cidade e não para algumas pessoas”. Depois, ainda segundo o relato, ouviu o vereador chama-la de “vagabunda”.

Cristófaro nega a versão da mulher e diz que não há provas contra ele.

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