Economia

Economia dos EUA está encolhendo e impacto de aperto do Fed pode estar apenas começando

Por Ann Saphir e Lindsay Dunsmuir

(Reuters) – A economia dos Estados Unidos contraiu pelo segundo trimestre consecutivo, informou o Departamento de Comércio nesta quinta-feira, um dia depois que o Federal Reserve elevou os juros em 0,75 ponto percentual, para uma faixa de 2,25% a 2,50%, num esforço para desacelerar o crescimento e aliviar pressões de preços.

O chair do Fed, Jerome Powell, e seus companheiros de Fomc vão analisar os dados desta quinta cuidadosamente, em busca de pistas sobre onde seu aperto monetário já está surtindo efeito, onde ainda pode começar a ser sentido e se estão no caminho certo para garantir o “pouso suave” da economia que almejam, ou se haverá o tombo que analistas temem cada vez mais.

Aqui vão os pontos de atenção:

QUEDA NO MERCADO IMOBILIÁRIO: FED FAZ SEU TRABALHO

De todas as categorias do PIB, o setor imobiliário, sensível às taxas de juros, é onde os efeitos das ações do Fed para apertar as condições financeiras são os mais óbvios. Mesmo antes de o Fed começar a aumentar os custos dos empréstimos, em março, as taxas de hipoteca começaram a subir em antecipação, quase dobrando para quase 6% desde o fim do ano passado e tornando as casas já caras ainda menos acessíveis.

O declínio de 14% no investimento residencial no segundo trimestre deste ano foi o mais intenso em 12 anos, tirando a paralisação nas vendas de moradias durante os lockdowns iniciais para conter as infecções por Covid-19, no segundo trimestre de 2020.

E com o Fed ainda elevando os juros –talvez em outro ponto percentual completo neste ano, como Powell sugeriu na quarta-feira– o pior ainda pode estar por vir.

DESACELERAÇÃO DO CONSUMO: ALGUM EFEITO DO FED, MAS HÁ MAIS POR VIR

Os gastos do consumidor, que representam cerca de dois terços da economia dos EUA, desaceleraram o crescimento para uma taxa de anualizada de 1% no segundo trimestre, ante ritmo de 1,8% no primeiro, mostrou o relatório do PIB desta quinta.

A desaceleração do crescimento foi ditada por uma queda de 4,4% nos gastos com bens, e uma análise mais detalhada sugere que muito disso se deveu à alta inflação, e não a uma reação a custos de empréstimo mais altos. Enquanto isso, os gastos com serviços aumentaram 4,1%, mostrou o relatório.

“A questão realmente é… qual o poder de permanência dos gastos com serviços? O Fed está realmente subindo os juros em direção a uma desaceleração (econômica)… (ele está) em uma situação difícil”, disse Rubeela Farooqi, da High Frequency Economics.

QUEDA NOS GASTOS EMPRESARIAIS: PARTE CULPA DO FED

Os gastos das empresas –ou investimento fixo não residencial, na terminologia do Departamento do Comércio dos EUA– caíram 0,1% em base anualizada, sob peso principalmente de uma queda nos gastos com estruturas em todos os setores, exceto mineração e perfuração.

“A economia está claramente perdendo força”, escreveu Michael Feroli, do JP Morgan, observando o declínio nos gastos das empresas e as quedas nos gastos do consumidor com bens e investimentos em habitação. “Pelo menos o Fed tem algo a mostrar por seus aumentos de juros.”

ESTOQUES, EXPORTAÇÕES: NÃO ESTÁ CLARO

O relatório refletiu uma desaceleração no acúmulo de estoques e impulso positivo do comércio, que analistas disseram pelo menos parcialmente refletir cadeias de suprimentos interrompidas pela pandemia. Mas, para alguns, isso sugere preocupações com uma recessão que está por vir, com empresas cortando gastos.

VISLUMBRE DE ESPERANÇA SOBRE INFLAÇÃO: FALTAM EVIDÊNCIAS

A inflação medida pelo núcleo do índice PCE, métrica favorita das autoridades por eliminar componentes mais voláteis, desacelerou para 4,4% no segundo trimestre, de 5,2% no primeiro.

Embora seja um movimento na direção certa, ainda está muito acima da meta de 2% do Fed e, como Powell disse repetidamente na quarta-feira, o banco central precisa de evidências muito mais claras de queda da inflação antes de poder baixar a guarda.

tagreuters.com2022binary_LYNXMPEI6R0W3-BASEIMAGE

To Top