Política

PF aponta uso do poder econômico de empresários para interferir nas eleições

Ao pedir autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer buscas em endereços ligados a oito empresários bolsonaristas, a Polícia Federal (PF) defendeu uma rápida atuação sobre mensagens que, segundo os investigadores, indicariam a trama de um golpe em caso de eventual vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro.

O delegado Fábio Alvarez Shor ressaltou a proximidade das eleições 2022 e o acirramento da polarização, defendendo uma atuação enérgica do Estado quando vislumbra-se a possibilidade de incentivo a ameaças e a articulações destinadas à abolição do Estado Democrático de Direito seja pela supressão de um de seus poderes ou pelo uso do poder econômico para interferir na opção de voto do cidadão.

“Diante da gravidade dos fatos e da necessidade de contextualizá-los com o momento pré-eleitoral de acirramento da polarização, propõe a Polícia Federal a adoção de medidas voltadas ao esclarecimento dessa situação, bem como focadas na dissuasão desse tipo de conduta, que possui risco de gerar ações violentas por adesão de voluntários, considerando o meio em que se praticam os atos (aplicativos de comunicação) e a nítida intenção de ação de cooptação de pessoas em razão do poder econômico do mencionado grupo, bem como utilizando da posição hierárquica junto à funcionários para angariar votos ao candidato apoiado pelos empresários por meio de pagamento de bônus em dinheiro ou em prêmio legal pra todos os funcionários'”, registra trecho da representação que culminou na operação aberta na terça-feira, 23.

A Polícia Federal disse que a ofensiva serviria para descobrir se existe a orquestração de pessoas com o objetivo de apoiar e/ou patrocinar a atos de ruptura, compra de votos, interferência na lisura do pleito eleitoral e a arregimentação de pessoas aderentes a ruptura do Estado democrático de direito.

No documento os investigadores reproduziram os diálogos travados entre os empresários sob suspeita, indicando que os fatos investigados, apesar de serem propalados por meio de aplicativos de mensagens, não podem ser desprezados pelo Estado.

“Como é sabido, mensagens de apoio a atos violentos, ruptura do Estado democrático de direito, ataques ou ameaças contra pessoas politicamente expostas têm um grande potencial de propagação entre os apoiadores mais radicais da ideologia dita conservadora, principalmente considerando o ingrediente do poder econômico e político que envolvem as pessoas integrantes do grupo”, diz trecho da representação.

Ainda segundo a PF, as mensagens ainda demonstram a intenção, bem como apresentam a potencialidade de instigar uma parcela da população que, por afinidade ideológica e/ou por subordinação trabalhista (funcionários dos empresários), é constantemente utilizada para impulsionar o extremismo do discurso de polarização e antagonismo, por meios ilegais, podendo culminar em atos extremos contra a integridade física de pessoas politicamente expostas ou proporcionar condições para ruptura do Estado democrático de direito.

O pedido foi deferido pelo ministro Alexandre de Moraes, que levou em consideração não só as informações apresentadas pela Polícia Federal para determinar as buscas contra os aliados de Bolsonaro. O magistrado se baseou em provas colhidas em outras investigações sobre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), entre elas a que debruça sobre as fake news e as milícias digitais. Um juiz instrutor que trabalha no gabinete de Moraes apontou “conexão probatória” entre as suspeitas que recaem sobre os empresários e as apurações que correm sob a relatoria do ministro.

Em despacho de mais de 30 páginas tornado público nesta segunda-feira, 29, Moraes disse ver indícios de uma “verdadeira organização criminosa” antidemocrática.

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