Economia

“Pouso suave” do Fed sem baque no emprego depende de história não se repetir

Por Howard Schneider

(Reuters) – Autoridades do banco central dos Estados Unidos reconheceram que sua batalha contra o avanço dos preços será paga com a perda de empregos, e eles precisarão de uma combinação improvável de eventos para manter essas perdas no menor nível possível.

Economistas que avaliam o “trade-off” enfrentado pelo Federal Reserve estimam que o emprego pode ter de algumas centenas de milhares a vários milhões de vagas perdidas.

O número exato depende de quão de perto a economia norte-americana seguirá os padrões vistos nas últimas décadas, quanta ajuda na redução da inflação virá de fatores como cadeias de suprimentos globais aprimoradas e o quanto o banco central será rigoroso em cumprir sua meta de inflação de 2%.

Com a medida de inflação preferencial do Fed atualmente em patamar superior a 6% ao ano, o economista-chefe da consultoria RSM, dos EUA, Joe Brusuelas, estima que seriam necessários 5,3 milhões de empregos perdidos e a taxa de desemprego quase dobrando para 6,7%, ante atuais 3,5%, para reduzir a inflação para 2%.

Depois que uma criação de meio milhão de novos empregos em julho superou as expectativas, outro número forte para agosto pode levar os formuladores de política monetária a adotar um aumento maior dos juros, assim como os fortes ganhos salariais contínuos. Uma queda em direção ao ritmo médio mensal de criação de 183 mil vagas de trabalho na década anterior à pandemia poderia virá-los para outra direção.

Autoridades do Fed esperam que o impacto do combate à alta dos preços possa vir principalmente por outros canais que não a perda de empregos, mesmo quando há meses lamentam as atuais condições do mercado de trabalho como insustentáveis.

Nesta semana, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, chamou os aumentos salariais atuais de “não consistentes com a inflação de volta à nossa meta de 2%”. Um rastreador de salários do Fed de Atlanta mostra que o salário dos trabalhadores avança em média 6,7% desde julho, e Mester disse que “precisaria moderar para cerca de 3,25% a 3,5% para ser consistente com a estabilidade de preços”.

“SEM PRECEDENTES”

Os membros do Fed têm sido menos específicos sobre o que vai equilibrar as coisas, com algumas das ideias de trabalho exigindo que os mercados de trabalho se comportem de maneira diferente do que no passado.

O número de duas vagas disponíveis para cada desempregado é uma máxima recorde. Normalmente, quando a taxa de vagas de emprego em aberto cai, a taxa de desemprego sobe, porque há poucas vagas para quem procura trabalho.

Mas o diretor do Fed Christopher Waller argumenta que a inclinação da curva de Beveridge –que traça a relação entre as vagas em aberto e a taxa de desemprego– sugere que os postos de trabalho podem cair acentuadamente à medida que a economia desacelera, o que aliviaria a pressão sobre os salários e os preços, sem grande aumento no desemprego.

AJUDA EXTERNA

Desde pelo menos o final da década de 1940, mesmo altas modestas de 0,50 ponto percentual no desemprego em relação ao ano anterior –a magnitude do aumento que as autoridades do Fed começaram a sugerir– tendem a avançar em espiral para 2 pontos percentuais ou mais.

No atual nível de força de trabalho de 163,9 milhões de pessoas, isso se traduziria em cerca de 3,3 milhões a menos de pessoas empregadas –número abaixo de algumas estimativas, mas ainda alto.

Claudia Sahm, fundadora da Sahm Consulting, defende que o desemprego subirá para cerca de 4%, o que se traduziria em uma perda de menos de um milhão de empregos, mas a economia evitaria uma recessão.

“Isso depende da cura das cadeias de suprimentos, mais pessoas voltando ao mercado de trabalho, mais sensibilidade aos preços pelos consumidores”, disse Sahm. “É uma normalização da economia.”

Se isso não acontecer, e as dores do mercado de trabalho crescerem, o Fed teria opções, como adotar uma meta de inflação mais alta. Nas estimativas de Brusuelas, da RSM, atingir 3% de inflação custaria 3,6 milhões de vagas a menos, com a taxa de desemprego em alta de apenas pouco mais de 1 ponto percentual em relação ao nível atual.

Até agora, essa não é uma discussão que o Fed quer ter.

“Comunicamos repetidamente nosso compromisso de atingir essa meta de 2%”, disse o presidente do Fed de Nova York, John Williams, ao Wall Street Journal nesta semana. “Acho que vai levar alguns anos, mas não há confusão… Estamos absolutamente comprometidos em fazê-lo.”

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