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Carne mofada, gastos com panelas e fotos do Pinterest: estudante enviou ao MP indícios de fraude do ‘marmitagate’

As suspeitas sobre o projeto Alimentando Necessidades, que recebeu doações para distribuir quentinhas para moradores de rua de Blumenau, levaram o estudante de engenharia da computação da Universidade de Ribeirão Preto, João Victor de Souza, de 26 anos, a fazer uma representação contra a iniciativa junto aos ministérios públicos estaduais e federais de Santa Catarina. Assim como ele, outros internautas se movimentam nas redes sociais pedindo que as autoridades investiguem o caso e que pessoas que se sintam lesadas procurem os órgãos de fiscalização.

João Victor, que costuma se mobilizar para ajudar causas sociais, disse que começou a desconfiar da veracidade das ações do projeto devido a histórias “mirabolantes” divulgadas pela representante do Alimentando Necessidades, Maria Eduarda Poleza, de 19 anos. Procurada, ela, que fez uma live na segunda-feira (26) para dar esclarecimentos, não foi localizada para se pronunciar.

Na tarde desta terça-feira, o GLOBO conseguiu contato com o irmão da jovem, que se identificou como Frank Poleza. Ele confirmou que a irmã vem sendo questionada sobre a atividade voluntária, mas disse que não conseguiria dar esclarecimentos à reportagem na ocasião.

As explicações virtuais feitas por Maria Eduarda até agora, de acordo com os seguidores do Alimentando Necessidades, não responderam a questionamentos sobre as doações e sobre sua suposta parceira no projeto, Taynara Motta. Esta última, desde que a polêmica veio à tona, teria se desentendido com Maria Eduarda e abandonado o projeto.

— Como eu costumo sempre doar valores pequenos para ajudar mais pessoas, eu demorei a notar que era o mesmo perfil que sempre aparecia contando uma história diferente. Uma hora era relatando absurdos como o de uma pessoa que queria doar carne mofada, outra hora era uma denúncia de estupro, o que eu não tinha como saber se era verdade ou não, ou ainda lamentando críticas que teriam sofrido por terem sido vistas comprando panelas. Neste post da panela, vi muita gente doando R$ 300 que era o preço das panelas. Eu fiquei indignado não só por mim, mas por todo mundo que tentou ajudar. Juntando tudo que eu doei, 20 reais uma vez, 50 em outra, devo ter dado no máximo uns 200 reais. Não é pelo dinheiro, é pela atitude. Eu fiz a representação e, se ela não tiver nada a esconder, é só se explicar. Acho que é bom deixar tudo claro — diz João Victor.

Ele, que trabalha como desenvolvedor numa empresa de tecnologia e vai se formar este ano, diz que foi decisivo para as suas suspeitas um levantamento feito pelo OSINT Projet, grupo de pesquisa autônomo com foco em engenharia social. Na representação, João Victor fez um dossiê elencando os pontos que considera duvidosos.

O estudante começa o seu relato para o MP afirmando que “recentemente uma publicação no Twitter viralizou com uma situação que mexe bastante com o emocional de quem costuma se envolver em causas sociais”. Ele conta então que a primeira postagem teria sido feita pelo perfil @taynara_motta10, no dia 1º de setembro deste ano, com o print de um suposto doador que teria doado R$ 24 para ajudar na produção de três marmitas, que custariam R$ 8 cada, pedindo o dinheiro de volta porque o projeto tinha gastado R$ 300 em panelas. A atitude do doador gerou repercussão, sensibilizando mutas pessoas, e ele próprio doou R$ 16 para o PIX divulgado.

A mesma pessoa, dias depois, denunciou um estupro durante uma festa, seguido de outras postagens “de impacto” que João Victor que acredita terem a função de tocar corações e inflar as doações. “Como essas duas pessoas passam por situações tão polêmicas em um intervalo tão curto…”, questiona ele na representação. Entre os principais indícios, ele cita o fato de o perfil da Taynara não seguir a página do próprio projeto no Instagram, o fato de as duas melhores amigas não terem fotos juntas e até a descoberta de que a foto do perfil de Taynara é de outra pessoa de nome Larissa e foi retirada do Pinterest.

Procurado, o Ministério Público estadual de Santa Catarina ainda não respondeu o que fará em relação à denúncia apresentada. A outra pessoa citada por envolvimento no projeto, Taynara Motta, também não respondeu as tentativas de contato do jornal.

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