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Por Copa, bairro do Rio onde Bolsonaro teve mais votos ignora política

SÃO PAULO, SP (UOL – FOLHAPRESS) – Reduto de Jair Bolsonaro (PL), o bairro de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, está muito habituado com camisas da seleção, mesmo sem jogos. Na Copa do Mundo do Qatar, mantiveram a amarelinha no peito, mas ignoraram a política. “Não misturo futebol e eleição”, resumiu Marcelo Freitas, em uma choperia da região.

O bairro foi o que mais deu votos ao presidente Jair Bolsonaro (PL) nas últimas duas eleições. Contra Fernando Haddad (PT), foram 75% dos votos em 2018, e neste ano, com Luís Inácio Lula da Silva (PT) como adversário, a margem caiu para 64%.

Dado o tamanho de Campo Grande, com mais de 300 mil moradores e o mais populoso do Brasil de acordo com o último Censo, em 2010 -desde então, não houve mais nenhum outro-, é possível mensurar que este foi o bairro do Rio de Janeiro com mais votos para o atual presidente nas últimas eleições.

A reportagem percorreu seis bares de Campo Grande durante as quartas de final da Copa do Mundo para compreender a relação do reduto do atual presidente -que utiliza símbolos da seleção, gosta de futebol e se define como nacionalista e patriota- com a seleção brasileira.

O comportamento dos torcedores se mostrou realmente bem parecido. Até mesmo o hino nacional foi respeitado, e pelas vias do enorme bairro, muitas bandeiras do Brasil eram vistas em janelas, carros e estabelecimentos. No momento da eliminação, a tristeza contrastou com música sertaneja e pagode -dois gêneros musicais que boa parte dos músicos que apoiam Bolsonaro.

Das 22 pessoas entrevistadas, nenhuma delas deu destaque eleitoral às práticas. “Acabou eleição. Agora é Copa do Mundo. E eu digo mais: ainda bem”, disse a estudante Joana Moreira, que vestia uma camisa azul.

“Sendo muito sincero, embora seja uma região que costuma votar em políticos mais conservadores, Campo Grande também sempre registrou muitas festas em épocas de Copa do Mundo. Além de termos torcedores fanáticos por futebol dos quatro grandes do Rio, o que mostra o gosto da região pelo esporte, a seleção sempre foi muito popular aqui”, disse o aposentado Sandro Ferreira, de 62 anos, todos vividos no bairro da zona oeste do Rio de Janeiro.

Mais festejado em todos os bares, Neymar também recebeu boa dose de carinho. A cada toque na bola muitos gritos e aplausos para o camisa 10, que se mostrou popular. “É um cracaço. Quando as pessoas pesam o fora de campo, ele toma atitudes que nem todos concordam, como todo mundo tem na verdade. Nem Deus agrada a todos”, opinou Sandro.

Em campo, o Brasil empatou com a Croácia por 0 a 0 no tempo regulamentar e por 1 a 1 na prorrogação. Nos pênaltis, entretanto, os croatas levaram a melhor, venceram por 4 a 2, e se classificaram para as semifinais da Copa do Mundo.

Quando Neymar apareceu debulhado em lágrimas na televisão, seu choro foi corroborado pelo dos torcedores, que, naquele momento, claramente separaram qualquer relação entre as posições políticas do jogador e sua performance esportiva.

O craque esteve a quatro minutos de ser o herói da classificação, e foi exaltado não só pelo gol mas pela atuação no Qatar. “A culpa está longe de ser dele. Jogou bem, fez gol, e no fim ninguém parou a jogada”, disse o motorista de aplicativo João Cláudio, que nem acreditava na eliminação: “Está fora mesmo?”, perguntou, e quando recebeu a confirmação, balançou negativamente a cabeça: “Esse time não merecia”.

Ao questionar as pessoas sobre as manifestações antidemocráticas no Rio de Janeiro, a reportagem colheu respostas como “nem sabia que estava acontecendo” e “tenho mais o que fazer”. Sempre que o assunto se aproximava mais da política tradicional, os entrevistados se esquivavam. “Já chega disso”, disse o empresário Matheus Braga, de 42 anos.

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