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Cenário econômico incerto exige cautela e metas realistas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Micro, pequenas e médias empresas devem se preparar para um 2023 instável, com projeções de crescimento modesto do PIB (Produto Interno Bruto) e expectativa de inflação elevada. Por isso, é imprescindível se planejar ainda em 2022, aconselham especialistas.

Segundo o último relatório de mercado Focus, do Banco Central, o PIB deve crescer 0,75% em 2023, enquanto a Selic deve cair dos atuais 13,75% para 11,75%. A inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deve ser de 5,08%, e US$ 1 deve valer R$ 5,25.

“Com uma situação macroeconômica desafiadora, pequenas empresas devem buscar prover para a economia regional, onde elas conseguem se diferenciar”, diz Cibele Pestillo, consultora do Sebrae.

A tendência de queda da Selic traz oportunidades no acesso a crédito para as pequenas, já que o custo efetivo das operações tende a ser menor. Já o câmbio no patamar acima de R$ 5 favorece as exportações das indústrias de pequeno e médio porte, além de ser uma barreira para a entrada de produtos importados, afirma Pestillo.

De acordo com o Sebrae, é importante que as pequenas empresas iniciem o ano fazendo seus inventários e uma gestão dos estoques.

“Os estoques são, ao mesmo tempo, a força e a fraqueza desses negócios. A falta de gestão impacta o custo, porque muitas vezes acabam ficando matérias-primas ou produtos acumulados”, afirma a consultora.

Dezembro e janeiro são meses ideais para as empresas iniciarem o planejamento dos orçamentos para o ano que começa. A orientação é que os empreendedores tracem três cenários: um otimista, um conservador e um pessimista, a partir da projeção de suas receitas, mantendo uma linha de custos e despesas semelhante nos três cenários.

“O princípio é traçar metas de faturamento factíveis e monitorar os indicadores toda semana”, diz Marcelo Lico, sócio-fundador da empresa de auditoria Crowe Macro.

Para negócios que buscam expansão em 2023, o planejamento estratégico é ainda mais importante.

No mercado há 15 anos, a Ecoquest, especializada em descontaminação do ar e sanitização de ambientes, viu um salto na demanda pelos seus serviços a partir de 2020, em decorrência da pandemia. Em 2021, seu faturamento cresceu 35% em relação ao de 2020; neste ano, a cifra deve ser 20% maior que a de 2021.

Com o crescimento das vendas, a Ecoquest, de São Paulo, se estruturou para atender mais cinco capitais: Rio, Salvador, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte. Hoje, tem 25 funcionários e 500 clientes.

Em 2023, a empresa pretende manter o patamar de crescimento com a expansão para cidades do interior, especialmente no Centro-Oeste.

De acordo com Henrique Cury, 52, fundador e presidente, o planejamento começa pela parte comercial, com a ajuda de um consultor. “Como somos uma empresa pequena em trajetória de crescimento, tudo deriva do comercial. É a partir dos contratos assinados que montamos nossos planos de ação.”

Neste ano, por exemplo, a companhia firmou um contrato com um grande banco para descontaminar 71 edifícios, o que demandou a criação de uma célula específica para atender o cliente.

O foco nas necessidades e na experiência da clientela é um caminho para as pequenas se diferenciarem, diz Cleber Brandão, especialista em treinamento comportamental voltado a negócios.

Ele defende a estratégia de incorporar a inteligência emocional à cultura da empresa, de modo a criar uma conexão afetiva com o consumidor por meio de narrativas envolventes, o chamado storytelling.

“O pequeno não consegue competir por preços como uma multinacional, mas pode se conectar com seu consumidor pela via das emoções.”

A virada de ano também é um momento propício para o planejamento da expansão de franquias, mercado que deve fechar 2022 com receita acima de R$ 200 milhões, alta de 12% em relação a 2021, segundo projeção da ABF (Associação Brasileira de Franchising).

O segmento de microfranquias, que inclui negócios com investimento inicial de até R$ 105 mil, é um dos mais promissores e cresce desde a pandemia. Estudo da ABF com base em 450 marcas associadas à entidade mostrou que o modelo passou de 28,9% de participação no mercado em 2020 para 36,9% em 2022.

Expoente da tendência, a Santa Carga, que atua no segmento de mídia, com estações para carregamento de celulares e de veiculação de publicidade, iniciou o planejamento para 2023 com foco em metas de faturamento, de retenção de franqueados e de contratação de novos funcionários.

A companhia, que atuava com o aluguel dos totens para eventos e grandes empresas, entrou no segmento de franquias em 2021, após sofrer os impactos da pandemia.

O plano era chegar a cem franquias no final de 2022, mas a procura pelo formato superou as expectativas e a rede vai fechar o ano com 350 pontos e faturamento de R$ 2,8 milhões, quase o triplo de 2021.

“Vimos que havia demanda reprimida. Com as restrições da pandemia, muita gente ficou desempregada e optou pela nossa franquia, que requer pouco capital e tem espaço para crescer”, diz Rafael Soares, 39, fundador e CEO. O investimento inicial na microfranquia é de R$ 19,9 mil.

Para 2023, a Santa Carga traçou três metas: alcançar faturamento de R$ 4,5 milhões a partir do aumento da presença no Sul e no Centro-Oeste, atingir 94% de retenção de franqueados e aumentar a força de trabalho em 30%.

Soares diz que o planejamento da rede inclui o uso o método SWOT, sigla em inglês que engloba a análise de cenários para tomada de decisões observando quatro fatores: forças, oportunidades, fraquezas e ameaças.

“Essa ferramenta foi a base do nosso planejamento desde o início”, diz Soares.

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