Brasil

Lula prevê crise de credito para “logo logo” e volta a pressionar BC

Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar nesta quinta-feira o Banco Central pela atual taxa de juros e alertou que o Brasil pode sofrer uma crise de crédito “logo logo” se os juros não forem reduzidos pela autoridade monetária.

Lula voltou a dizer que não existe explicação para a taxa de juros de 13,75% ao ano, alegando que não há inflação de consumo no Brasil, e cobrou do presidente do BC, Roberto Campos Neto, a redução da taxa.

“Você não tem crédito. O crédito está escasseando. Logo, logo nós poderemos ter uma crise de crédito, e eu queria uma explicação, apenas, por que que o juro está a 13,75%”, disse Lula, em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, da BandNews.

“Porque esse cidadão, que não foi eleito para nada, ele acha que ele tem o poder de decidir as coisas e ainda ‘ah, eu vou pensar como é que eu posso ajudar o Brasil’. Não, você não tem que pensar como ajudar o Brasil, você só tem que pensar como reduzir a taxa de juros para que esse país volte a ter crédito, para que a economia volte a funcionar”, defendeu.

Lula e ministros do governo, como Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento, têm feito uma série de críticas à condução da política monetária pelo Banco Central e ao atual patamar da taxa básica de juros, a Selic.

Segundo o titular da Fazenda, a retração do PIB verificada no último trimestre de 2022, divulgada mais cedo nesta quinta, é um reflexo da alta dos juros promovida pelo BC em reação a medidas tomadas pelo governo anterior no período eleitoral. O ministro já havia afirmado na véspera que a taxa de juros é o maior problema econômica do país hoje.

O governo acompanha o mercado de crédito brasileiro com cuidado e considera a adoção de medidas para setores específicos em meio à preocupação de evitar uma crise de crédito no país diante de patamares elevados dos juros, que podem até mesmo dificultar a vida de empresas interessadas em rolar suas dívidas.

As concessões de empréstimos de fato apresentaram queda significativa em janeiro –as concessões totais caíram 15,3% no primeiro mês do ano ante dezembro– e levaram a uma baixa no estoque total de crédito no Brasil, que reduziu 0,3% no mês a 5,317 trilhões de reais, informou na segunda-feira o Banco Central.

Nesta quinta, o BC avaliou que o sistema financeiro está preparado para enfrentar riscos e tem provisões adequadas para perdas de crédito.

MINHA MESA

Na entrevista, Lula também afirmou que todas as decisões tomadas pelo governo passam por ele e, portanto, são decisões políticas, rejeitando que tenha havido uma vitória da área econômica sobre a política na decisão de reonerar a gasolina e o etanol.

“Não houve vitória econômica.. não houve vitória política, porque no meu governo todas as decisões passam por mim. E se passa por mim, todas as decisões, elas podem ter um resultado econômico, mas a decisão é sempre política. É sempre política. As decisões, neste governo, são tomadas na minha mesa”, afirmou.

Na terça-feira, o governo anunciou a reoneração da gasolina e do etanol após o fim de uma desoneração que acabou em 28 de fevereiro, no que foi apontado como uma vitória de Haddad sobre alas do governo e do PT que eram contra a reoneração, vista como impopular e com possível impacto inflacionário.

Após a conquista da equipe econômica, no entanto, o governo fez chegar a ordem de baixar a tensão da disputa e botar panos quentes nos embates entre a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e Haddad, que não são de agora e nem causados apenas por divergências econômicas, mas fruto de uma disputa interna no PT e de um relacionamento que nunca foi amigável nos bastidores.

O presidente também reiterou às críticas à Petrobras pelo valor dos dividendos pagos aos acionistas e disse que o Brasil pode ter uma empresa pública de economia mista “de maior qualidade” e que possa induzir o crescimento por meio de investimentos.

Mais cedo, em evento de relançamento do Bolsa Família, Lula disse que não se pode aceitar que a Petrobras pague 215 bilhões de reais em dividendos no ano “quando ela deveria ter investido metade no crescimento econômico desse país, na indústria brasileira, na indústria naval, na indústria de óleo e gás”.

(Reportagem adicional de Pedro Fonseca)

tagreuters.com2023binary_LYNXMPEJ210ZB-BASEIMAGE

To Top