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Torcedora do Palmeiras morta por estilhaços de garrafa é velada em Embu das Artes

Está sendo velado nesta terça-feira o corpo de Gabriela Anelli Marchiano, torcedora do Palmeiras de 23 anos morta no entorno do Allianz Parque, em São Paulo, após estilhaço de uma garrafa de vidro arremessada por um flamenguista atingir seu pescoço. O velório no cemitério Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, começou às 6h e tem previsão para ser encerrado às 13h, quando o corpo será enterrado.

A primeira parte da cerimônia foi reservada a amigos e familiares de Gabriela. Depois, às 10h30, o portão foi aberto também para não convidados.

O velório reuniu muita gente, incluindo torcedores do Palmeiras e membros de todas as organizadas ligadas ao clube, que vestiam trajes alusivos às torcidas. Muitos também foram ao cemitério com a camisa do Palmeiras.

A jovem fazia parte da Mancha Alvi Verde, principal uniformizada palmeirense, e namorava com um integrante da Porks, outra uniformizada. Ela estava perto da sede da Porks, em um dos acessos ao Allianz Parque, quando estilhaços da garrafa lançada por um torcedor do Flamengo acertaram a veia jugular de seu pescoço e a glândula tireoide.

“Esses malucos que fazem isso têm que pagar. É o que eu desejo”, desabafou o avô paterno da palmeirense. Usando uma jaqueta da Mancha Alvi Verde, o pai da jovem, Ettore Marchiano Neto, contou que o Palmeiras “era a vida” da filha. “A balada dela era o Palmeiras. Meninas de 23 anos gostam de outras coisas, ela gostava do Palmeiras. Era apaixonada demais”, resumiu.

Ele e a mulher, Dilcilene Prado Anelli, acompanhavam a filha nas partidas do Palmeiras. Inclusive foram ao Allianz Parque no último sábado, quando Gabriela foi morta pela garrafa de vidro atirada por um flamenguista. “Vou continuar a fazer o que fazia com a Gabriela. Mas claro que, quando eu pisar lá no estádio, em cada canto, vou lembrar dela. A gente chegava juntos, ia embora juntos. Vou continuar o que ela queria, o legado dela”, afirmou o pai.

“Desde pequena até os 23 anos sempre foi muito carinhosa, extremamente família, muito apegada aos avós”, detalhou o tio, Bruno Tadeu Anelli, outro a se revoltar com a violência no futebol que, desde janeiro deste ano, já vitimou oito torcedores no País. “Estádio é um lugar em que não deveria haver violência, mas a sociedade está doente, precisando de cura”.

LEGADO

A mãe, Dilcilene, foi quem mais conversou com a imprensa. Emocionada e também vestida com trajes da Mancha Alvi Verde, ela defendeu a organizada da qual a filha fazia parte e avisou que continuará o legado da filha. “A Gabi amava a torcida e eu vou continuar o legado dela”, declarou.

“Dói muito. Nunca imaginei ver minha filha na UTI e depois no caixão. Cai a ficha, me dá um desespero, mas a força que vem lá de cima é muito grande”, continuou a mãe, para quem a segurança do jogo “foi bem falha”. “Isso tem que parar. Tem que ter mais amor ao próximo. Não estamos falando de futebol, estamos falando de vidas.”

No local, familiares, amigos e torcedores do Palmeiras prestaram suas últimas homenagens. Foi possível ver ao menos 20 coroas de flores ao lado do caixão.

TRAGÉDIA NO ENTORNO DO ALLIANZ PARQUE

O crime aconteceu por volta das 17h45 do último sábado, isto é, mais de três horas antes do início do jogo entre Palmeiras e Flamengo, na rua Padre Antônio Tomas, entre os portões C e D, este que dá acesso aos torcedores visitantes. Havia uma proteção de metal para separar os flamenguistas dos palmeirenses, mas ela não foi suficiente para evitar a morte da torcedora. Uma outra pessoa também foi ferida pelos estilhaços de vidro.

O autor do crime, de acordo com a polícia, é Leonardo Felipe Xavier Santiago, de 26 anos, torcedor do Flamengo. Ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça na segunda-feira e vai responder por homicídio doloso, quando há a intenção de matar.

Segundo disse ao Estadão o delegado César Saad, que é titular da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), e investiga o caso, Leonardo Felipe atirou a garrafa no momento em que a divisória de metal que separava a torcida local e visitante foi aberta para a passagem de uma viatura da Guarda Civil Metropolitana.

Gabriela foi socorrida no posto de atendimento do Allianz Parque. Ao ser constatada a gravidade dos ferimentos, ela foi encaminhada à Santa Casa, onde ficou internada e passou por cirurgia. A palmeirense teve duas paradas cardiorrespiratórias, ficou em coma induzido e morreu na madrugada de segunda-feira.

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