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Polícia Civil vai ouvir miliciano Orlando Curicica em inquérito sobre conduta de agentes citados no caso Marielle

Logo nos primeiros meses depois do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, foi o principal suspeito de ser o mentor da execução da vereadora. Com o foco sobre ele, Curicica resolveu compartilhar tudo que conhecia sobre o submundo do crime no Rio e acusou o delegado Rivaldo Barbosa de receber propina para sabotar investigações. Grande parte das declarações foram usadas no relatório produzido pela PF para prender os mandantes do crime no último domingo. No documento, também apareceram outros policiais suspeitos de integrarem a rede de corrupção na Delegacia de Homicídios, que já era apontada pelo miliciano há cinco anos. Com isso, a Polícia Civil instaurou uma apuração da Corregedoria do órgão para apurar a conduta dos agentes citados no relatório e afirmou que próprio miliciano será ouvido no inquérito.

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Sobre as declarações dadas ainda em 2018 por ele, a Polícia Civil afirmou que Curicica “é líder de uma milícia e foi preso pela Delegacia de Homicídios por crime desta natureza” e que, por essa razão, ele “tem todo o interesse de desqualificar o trabalho da unidade”. Eles também afirmam que “a declaração, por si só, tem pouco ou nenhum crédito se não tiver outros elementos que corroborem as afirmações.”

O órgão também afirmoou que um inquérito foi instaurado no último domingo pela Corregedoria-Geral (CGPOL) para apurar a conduta dos três policiais citados pela PF na investigação do caso Marielle. São eles: o delegado e ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa, o delegado Giniton Lages e o comissário Marcos Antônio de Barros, o Marquinhos da DH. “Inclusive, o próprio miliciano será ouvido pela CGPOL”, diz trecho da nota.

Barbosa foi preso suspeito de ser um dos mentores da execução e de obstruir as investigações do caso. Segundo as investigações, Foi Rivaldo quem deu o aval para o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão, apontado como mandante do crime, segundo a delação de Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, que o crime ficaria impune.

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Lages foi chefe da DH durante os primeiros meses da investigação do crime. Ele foi nomeado por Barbosa e, segundo apuração da PF, teria sido responsável por ter desviado a apuração do crime dos verdadeiros mandantes. O Marquinhos da DH teria atuado com Lages para obstruir as investigações.

Miliciano apontou corrupção na DH em 2018

Em depoimento prestado em 2018, como parte do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) do MP, Orlando Curicica disse que a corrupção na Delegacia de Homicídios se intensificou a partir de 2015, quando Rivaldo Barbosa assumiu a direção da Divisão de Homicídios.

“Ele passou a chefiar as três DHs. É como se fosse uma Polícia Civil dentro da Polícia Civil. Era muito mais fácil para você extorquir. O que a contravenção faz? Ela faz jogo e ela mata. E o que é mais grave? Você pegar o cara sentado ali e escrevendo um jogo do bicho ou você ter que acusar o bicheiro de um homicídio? (…) A contravenção nunca parou de matar. Ela mata até hoje. A diferença é que ela hoje não é investigada”, contou o miliciano.

Curicica afirmou aos promotores que Barbosa recebia propinas para não elucidar assassinatos cometidos pela máfia que controla o jogo ilegal no Rio e disse que chegou até a vender um carro para pagar R$ 18 mil ao delegado e se livrar de uma acusação de posse ilegal de arma.