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Aos 25 anos de carreira, Moyseis Marques lança álbum e reconhece: ‘A dignidade artística me custa muito caro’

Aos 25 anos de carreira e 45 de idade, Moyseis Marques poderia ser um cantor de estrondoso sucesso. Tem um show, que sempre lota, interpretando apenas composições de Chico Buarque. E tem versões marcantes de “Disritmia” (Martinho da Vila) e “Nomes de favela” (Paulo César Pinheiro), além das que apresenta nas rodas de samba que comanda no Beco do Rato, na Lapa, no Rio. Mas quer continuar firmando o seu trabalho de autor. No novo álbum, “Na matriz” (Biscoito Fino), todas as 13 faixas são criações suas, 12 delas com parceiros.

— Eu me vejo como um outsider vitorioso — afirma. — Já consigo pagar minhas contas, a escola das minhas filhas. Tive um momento de querer ser famoso, buscar isso enlouquecidamente. Não sei se é a idade, mas perdi a pressa. Estou mais interessado em fazer história do que em fazer sucesso. A dignidade artística me custa muito caro. Isso eu prezo.

Ele destaca ter sete discos lançados e quase 150 músicas gravadas. E se orgulha de ter, entre os muitos parceiros, gente do quilate de Aldir Blanc, Ivan Lins, Nei Lopes, Fátima Guedes e Moacyr Luz.

— Não é possível que eu esteja no lugar errado. Não vou deixar de ser o melhor Moyseis que eu consiga ser para virar algo que o mercado queira — diz.

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Moyseis nasceu em Juiz de Fora (MG) de mãe solteira. Ela o deixou aos 20 dias de vida com uma família na Vila da Penha, na Zona Norte do Rio. Aos 19, ele saiu de casa e foi buscar uma carreira artística, como sonhava desde cedo. Não aconteceu pela dança, paixão que o levou ao forró, mas pela música. As experiências como compositor foram suspensas quando ele chegou à Lapa e começou a ouvir o que se tocava nas casas de samba.

— Sou um garoto de subúrbio. Na minha família não tinha ninguém que gostasse de Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Cartola. Eu ouvia mais a miscelânea que vinha da rádio e da TV. Então, fui arrebatado por aquelas belezas — recorda. — Passei a prestar atenção no repertório da Teresa Cristina, minha vizinha de bairro, e vi que o buraco era mais embaixo: Elton Medeiros, Hermínio Bello de Carvalho… Inibi a minha produção. Quando fiquei mais seguro, voltei a fazer música.

Ele é mais associado ao samba, mas começou no forró em 1999 e nunca o abandonou. Diz que até hoje não se sente totalmente reconhecido nos dois campos.

— Sou um sambista que não é negão e um forrozeiro que não é nordestino. O povo do forró diz que o meu forró é meio sambado e o povo do samba diz que o meu samba é meio forrozado — brinca. — Por mais que esses dois metiês façam parte da minha linguagem e da minha filosofia de vida, nunca deixei de me sentir um genérico. Se MPB significar “deixa eu cantar o que quiser”, não me importo de estar aí. Mas acho que MPB é tudo o que você não consegue classificar.

Amparado no que defende seu parceiro Luiz Antonio Simas — de quem é também inquilino num apartamento no Maracanã, na Zona Norte —, Moyseis diz que “Na matriz” é um álbum das “brasilidades” que o formaram. Há samba, forró, baião, xote, ijexá, capoeira, maxixe.

Um samba mais lento é “Bem que mereço”, parceria com Moacyr Luz que conta com a participação da cantora Fabiana Cozza. A letra de Moyseis brinca com clichês, mas ele reconhece que há algo de autobiográfico em versos como “Conquistei nessa vida minha dignidade com suor”.

Ídolos por perto

Outro samba, lançado no início deste mês como single, é “Sambaluz”, homenagem, com letra de Luis Pimentel, a um amigo que também era ídolo e morador da Vila da Penha: Luiz Carlos da Vila (1949-2008).

— Luiz Carlos é suburbano como eu e é sofisticado. É sofisticado, mas não perde o botequim. Ele me faz acreditar que isso é possível — analisa. — Eu ando na rua, sou capoeirista, bebo cerveja em bar. A rua é fundamental para mim. Faço músicas baseadas nas histórias dos outros

A relação profissional com outro ídolo, Chico Buarque, começou há dez anos, quando Moyseis protagonizou a versão de “Ópera do malandro” dirigida por João Falcão. Em 2018, deu a partida nas apresentações dedicadas ao repertório do compositor. Já gravou “Subúrbio” — em duo com o autor — e “Injuriado”, mas não um álbum só com esse repertório.

— Algum dia eu vou gravar. Fui resistente a esse projeto porque muita gente já fez isso — explica. — Mesmo não tendo disco, não consigo parar com os shows. Neste ano a luta vai ser essa: eu fico querendo fazer os meus shows e as pessoas pedindo para eu cantar Chico Buarque.

“Na matriz” ainda tem as participações de Mônica Salmaso (em “Coração de lona”), Mosquito (“Maxixe Santa Cruz”), Maria Menezes (“Mãe do Oriri”) e do conjunto vocal Ordinarius (“Margens tortas”). Todos os arranjos são de Rafael Malmith.

Moyseis diz que, mais até do que os gêneros musicais, procurou diversificar os parceiros. Além dos já citados Simas, Luz e Pimentel, há Nei Lopes, Cristovão Bastos, João Martins, Khrystal, Rudá Brauns, Socorro Lira, Max Maranhão, Elisa Queirós e Zé Paulo Becker. A única faixa com melodia e letra dele é “A fonte”, homenagem à sua companheira, a dançarina Paula Guimarães.

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