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Madonna: 4 mil pessoas envolvidas, consultoria sobre o clima, 38 geradores e mais; veja como show está sendo montado

Sobe e desce de elevadores, coreografias milimétricas, cenografia que transporta ao “mundo de Madonna”: tudo isso deve estar na Praia de Copacabana na noite do próximo sábado. Mas, para encerrar a Celebration Tour em areias cariocas com pompa, circunstância e 1,5 milhão de pessoas, é preciso uma operação de guerra que antecede o glamour da hora do show.

A começar pela força-tarefa para construir o palco, que no Rio será terá o dobro do tamanho visto nas apresentações que passaram por Europa e América do Norte desde outubro de 2023. Serão 812 m² e três passarelas — a central com 22 metros de extensão — a 2,40 metros de altura do chão.

Construindo o chão

Coordenador de montagem do show do Rio, Leo Gontijo explica que o grade desafio é evitar o afundamento da estrutura levantada sobre a areia. Para isso, é usado um piso muito resistente, capaz de resistir ao peso de um prédio. E há uma dificuldade extra: todo o chão que a equipe vai usar para trabalhar, instalar guindastes, passar com caminhões, colocar geradores, enfim, precisa ser construído.

— Só para mobilidade e descarga são 5 mil m² de piso, cinco vezes mais do que é usado no Réveillon — revela Leo, acrescentando que estão trabalhando só para ele 200 pessoas e que na praia estão montados 90 contêineres, que são usados como escritório, depósito e apoio de camarins, por exemplo.

Outra peça fundamental para que Madonna performe suas duas horas de show é o sistema de som. Estão sendo instaladas 16 torres com caixas de som e 15 telões de LED (além de dois que compõem o cenário) da altura do Copacabana Palace até o Leme. Para que toda essa extensão não receba áudio e imagem com atraso, cabos de fibra ótica vão conectar o palco às torres, tudo alimentado por 38 geradores, dois deles do hotel.

Mais que estrutura, a equipe de Madonna precisará recalcular o sistema de som, já que até aqui ela vinha fazendo apresentações em estádios e arenas.

O engenheiro de som Matheus Braz, que trabalhou na última turnê de Beyoncé, explica que, enquanto em ambientes fechados ou cercados há uma reflexão das ondas sonoras, na praia, um local totalmente aberto, a onda sonora se propaga e se perde no espaço.

— Tem muita matemática envolvida para conseguir montar um sistema desses. Ao mesmo tempo, algo sempre escapa dos cálculos — explica Matheus. — Fiquei em Londres com a mesma turnê durante cinco dias, não desmontamos nada e, mesmo assim, nunca era igual, porque os fãs estão posicionados de outra forma, a temperatura muda, tudo isso influi. Essa é a parte legal do trabalho.

De olho no clima

A iniciativa de levar a “Celebration Tour” à Copacabana foi do Itaú, que já tinha Madonna na campanha de seus 100 anos. Para concretizar a ideia, o banco chamou a produtora Bonus Track, com experiência em grandes shows. Foram eles que trouxeram para a mesma praia os Rolling Stones (em 2006) e os amigos Stevie Wonder e Gilberto Gil (2012), além de terem cuidado da turnê que Paul McCartney fez pelo Brasil em 2023. Por fim, a prefeitura do Rio entrou com um aporte de R$ 10 milhões para a empresa.

— Temos cerca de quatro mil pessoas trabalhando pelo Brasil, e a Madonna virá com mais 200 pessoas — diz Luiz Oscar Niemeyer, sócio da Bonus Track, acrescentando outro fator de atenção. — Temos nesta produção um contrato de consultoria da Climatempo, que nos envia diariamente boletins do clima e de variação de marés. Dessa forma podemos nos adiantar e ver adequações necessárias.

Madonna é conhecida por ser uma artista pioneira e disruptiva, não seria diferente quando o assunto são suas performances ao vivo. A rainha do pop foi uma das primeiras na indústria a ter um profissional dedicado exclusivamente para seus efeitos vocais durante seus shows e nessa turnê isso vem sendo essencial. Ele é o responsável por deixar voz e instrumentos o mais similar possível das gravações originais, como se transportasse e levasse o público para um passeio pelas quatro décadas de Madonna.

Questionadas sobre o nível de exigência da artista, fontes próximas da equipe da cantora ouvidas pelo GLOBO explicam que ela é uma artista que “sabe o que quer e é muito clara quanto a isso”. O desafio da equipe é executar a visão dela.

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Uma das formas de deixar tudo sob controle é trazer para o Brasil as mesas de som, além da cenografia e figurinos — guardados em 45 baús. Para isso, foram necessários três aviões. Não seria mais fácil e barato alugar equipamentos locais? De acordo com as fontes ligadas à “Celebration Tour”essa decisão acontece porque o show funciona como um ecossistema, se faltar um elemento, por menor que seja, pode não funcionar. Não dá para correr esse risco.

As pequenas surpresas

Até o último show, que aconteceu na sexta-feira na Cidade do México, no México, Madonna seguiu à risca o mesmo setlist, as mesmas coreografias e momentos impactantes, como voar por cima do público. Porém, segundo Paulo Fellin, diretor de produção da BonusTrack, a cantora irá acrescentar duas ou três músicas para o show no Rio de Janeiro. Especula-se também que a disposição cênica e de bailarinos precise mudar, já que o palco tem o dobro de tamanho. Luiz Oscar Niemeyer conta que em cena estarão Madonna, Bob the Drag Queen e mais 25 profissionais.

Sobre voar ou não, o coordenador de montagem Leo Gontijo garante que não sabe se está vindo com ela estruturas de aço para tal acrobacia. Fica a surpresa (mais detalhes sobre o show nas páginas 4 e 5).

O criador do portal Madonna Online, Rafael Arena, acompanha os passos da cantora desde 1993 e já assistiu a apresentações da “Celebration tour”. Ele diz que tudo é pensado para os fãs, como um “presente”.

— É um show que tem muitas referências de todos os trabalhos da Madonna. Quem não conhece, vai achar que é lindo, bem costurado, mas foi feito para quem conhece a obra dela — opina Rafael, acrescentando que acha um privilégio ela ter aceitado fechar sua turnê no Brasil. — Somos o público que mais entrega e é isso que alimenta o artista. Essa deve ser a última grande turnê dela e vai fechar com a melhor energia possível, a dos brasileiros.

Antes mesmo do dia 4 de maio, já vão ter festas temáticas rolando pela cidade, inclusive uma produzida por Rafael, “a Festonna Madonna & Kylie”, que acontece dia 3 de maio. No dia seguinte, acontece a “Festonna After Show”, após a apresentação.

Todos podem ver

A megaprodução contará ainda com um segunda produção paralela: a da transmissão ao vivo. Com apresentação de Kenya Sade e Marcos Mion, o reencontro de Madonna com o público brasileiro depois de 12 anos poderá ser assistido pela TV Globo, pelo Globoplay — com sinal aberto para não assinantes logados— e pelo Multishow.

O diretor de gênero Raoni Carneiro conta que para dar conta do projeto eles terão pelo menos 30 câmeras no local.

—Cresci vendo o Roberto Talma dirigindo esses grandes shows e sempre tive curiosidade e sonho de fazer parte disso. Com certeza, quando alguém falar do show da Madonna em Copacabana no Rio, sei que será um privilégio dizer “estivemos lá” e levamos isso para milhões de pessoas em todo Brasil, para além das areias da praia — comemora ele.

Raoni conta ainda como é pensada a parte artística do audiovisual. Como a “Celebration tour” já tem seus padrões, é preciso um trabalho de parceria:

— Um show deste porte normalmente já tem desenhos de câmeras para telões, então faz todo sentido trazer para a transmissão alguns ângulos que ela já domina e que a equipe sabe o exato momento em que cada coisa acontece. Isso ajuda muito nosso time e só soma no produto final.