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Felipe Taborda relembra mostra de 1984 com fotos dos murais de Lisboa sobre a Revolução dos Cravos, que completa 50 anos

A Revolução dos Cravos, que completou 50 anos na última quinta-feira, 25 de abril, foi o tema de uma exposição assinada por Felipe Taborda no Rio, em São Paulo e em Munique, na Alemanha, em 1984. A mostra “Portugal — Heranças de uma revolução” trazia fotos dos murais lisboetas dedicados ao movimento que encerrou mais de quatro décadas da ditadura salazarista no país, feitas em 1980 pelo designer gráfico carioca, então um estudante de cinema e fotografia na London International Film School, na capital inglesa.

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Após três anos na Inglaterra, sem voltar ao Brasil, Taborda chegou a Lisboa, aos 23 anos, para trabalhar num filme, durante um mês. Nas horas vagas, carregando suas câmeras Asahi Pentax e Nikon F2, ele registrou o cotidiano do país quatro anos após o fim da ditadura, expresso nos muros e paredes da cidade, em composições que chamaram sua atenção.

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— Foi um sentimento ambíguo chegar a Lisboa em 1980. Por um lado, estava ansioso para escutar e falar português com as pessoas, depois de três anos em Londres. Por outro, encontrei um país muito empobrecido, ainda vivendo os reflexos da ditadura. O clima nas ruas era pesado, as pessoas desacreditadas, muito diferente do que é hoje — relembra Taborda. — Quando voltei ao Brasil, em 1983, veio a ideia de reunir estas imagens numa exposição, para o ano seguinte, marcando os dez anos da Revolução dos Cravos.

Taborda — que futuramente assinaria capas para álbuns de Raul Seixas, Gilberto Gil, Tom Jobim, João Gilberto e Cazuza, entre outros, e também seria responsável pela mudança do projeto gráfico do GLOBO, nos anos 1990 — conta que bateu na porta do escritor Antonio Callado (1917-1997) “na cara e na coragem” para pedir que escrevesse o texto de apresentação da exposição. Convite aceito, houve a abertura simultânea no Rio e em São Paulo, em 25 de abril de 1984 (em Munique, a mostra teve início em 3 de maio do mesmo ano).

— Foi simbólico montar a exposição em 1984, com a ditadura chegando ao fim no Brasil, com o país transformado pelas Diretas Já! Ainda não dava para fazer nada explícito, mas havia o pretexto de serem fotos de Portugal. De qualquer forma, as imagens já passavam uma mensagem forte: o que ocorreu lá poderia ser o nosso caminho — comenta Taborda.