Nos últimos anos, o Rio de Janeiro tem testemunhado um aumento significativo das corrida ao ar livre, uma tendência que voltou a ganhar força após a pandemia de Covid-19. A prática ao ar livre se tornou uma válvula de escape, vencido o período de isolamento, e essa mudança de hábito parece ter vindo para ficar.
De acordo com a Secretaria municipal de Esportes do Rio de Janeiro, as corridas de rua representam, atualmente, cerca de metade do calendário esportivo do Rio. Em 2023, dos quase 300 eventos realizados, 131 foram corridas. Para 2024, a previsão é ainda mais robusta: são esperados cerca de 400 eventos, a deles, de corridas.
Guilherme Schleder, secretário municipal de Esportes do Rio, afirma que o impacto econômico é “enorme”.
— No ano passado, esses eventos injetaram aproximadamente R$ 900 milhões na economia local, desde gastos com transporte e alimentação até hospedagem e turismo. Essa injeção financeira abrange uma vasta gama de serviços, beneficiando desde taxistas até restaurantes e hotéis.
O impacto econômico desses eventos é significativo. Schlerder explica que o dinheiro gasto pelos participantes e espectadores não se limita às taxas de inscrição. Vai desde os gastos com táxi e carros de aplicativo até o cafezinho, o almoço nos bares e restaurantes, a estadia no hotel, as visitas aos nossos pontos turísticos. Tudo isso contribui para a economia local — finaliza o secretário.
Dados
Segundo números da Ticket Sports, a pandemia causou uma queda no total de corridas em 2020 e 2021, com apenas 157 eventos e 44 mil participantes em 2020, e 118 competições com 40 mil integrantes em 2021. No entanto, a recuperação foi rápida: em 2022, foram 288 eventos com 133 mil participantes, e 2023 viu um crescimento ainda maior: 348 disputas e 155 mil corredores. Para o primeiro semestre de 2024, já estão confirmados 216 eventos, esperando atrair 77 mil pessoas.
Neste ano, a maratona do Rio, famoso evento de corrida ao ar livre, teve um aumento de 13% no número de inscritos em comparação com o ano passado, agora com 45 mil participantes. O número representa a maior quantidade de inscritos desde 2008, quando foi criado o evento.
Produtos
O aumento na popularidade das corridas de rua também impulsionou o mercado de produtos esportivos. Na Centauro, por exemplo, as vendas de tênis de corrida aumentaram 122,46% entre 2020 e 2024. As bermudas de corrida e as meias de poliamida também tiveram aumentos significativos de procura: 133,71% e 524,06%, respectivamente.
Gustavo Pisati, gerente de categoria corrida da Decathlon Brasil, destaca que houve crescimento do mercado de alta performance. Além dos tênis, outros itens de corrida, como vestuário especializado, já representam mais de 10% das vendas da categoria de corrida da rede. O destaque fica com as bermudas de alta compressão com bolsos, terceiro vestuário mais vendido.
Pisati também menciona a crescente demanda por frascos, recipientes de hidratação adaptáveis e compactos, que têm substituído as garrafas rígidas devido à praticidade durante as corridas.
A Vulcabras, que controla as marcas Olympikus, Mizuno e Under Armour, tem observado um crescimento contínuo das vendas. Marcio Callage, CMO da Vulcabras, afirma que a divisão de calçados cresceu 7,8% no quarto trimestre de 2023, em comparação ao ano anterior. No caso da Olympikus, 15% da receita se deve à venda de artigos de corrida de alta performance.
Publicitário saiu do sofá para maratonas
Gabriel Matias, um publicitário paulista de 26 anos, encontrou na corrida de rua uma nova paixão que transformou sua vida. Durante a pandemia, enquanto morava em São Paulo, Gabriel começou a correr influenciado por amigos. A atividade, inicialmente uma forma de manter contato social, rapidamente se tornou uma prática regular. Ao se mudar ao Rio de Janeiro, Gabriel começou a compartilhar sua jornada nas redes sociais, inspirado por outras pessoas que faziam o mesmo. Antes sedentário, ele notou uma mudança significativa em sua rotina.
– Eu via outras pessoas postando sobre aquilo e me sentia muito inspirado. Foi aí que comecei a postar para tentar inspirar outras pessoas. A corrida foi o primeiro passo que dei para um caminho mais saudável. Comecei a me alimentar melhor, dormir melhor, ir à academia — diz.
Nas redes sociais, Gabriel oferece conselhos valiosos para iniciantes, enfatizando a importância de começar devagar e ser paciente. Ele alerta contra a frustração que pode surgir ao se comparar com corredores mais experientes:
— Muita gente se frustra pois se considera lenta, mas isso é porque se comparam com outros corredores que treinam há muito mais tempo.
Gabriel também valoriza os aspectos psicológicos da corrida. Para ele, a corrida não é apenas um exercício físico, mas também um momento de “organização mental”.
— A corrida me dá um bônus incrível. É um momento meu comigo mesmo, onde naturalmente acabo refletindo e organizando alguns pensamentos — diz.
Ele reconhece que muitos iniciantes se sentem intimidados, achando que não serão aceitos por não serem rápidos:
— A verdade é que ninguém está muito preocupado com isso. Fora que a comunidade corredora costuma ser bem solidária e unida.
Como escolher o tênis adequado para correr
Para ajudar os leitores a escolherem o seu tênis de corrida ideal, o EXTRA ouviu dicas de especialistas com anos de experiência na área, que destrincharam cada detalhe que o leitor deve se atentar na hora de escolher um bom tênis para entrar no hábito das corridas. André Pedrinelli — ortopedista da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e presidente eleito da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) — e Wagner Rosa — coordenador do Laboratório de Biomecânica da marca esportiva FILA são os responsáveis pelas indicações.
Saúde
Segundo André Pedrinelli, o calçado escolhido para a prática de atividades físicas pode ter impacto na saúde, já que faz a comunicação do solo com os pés, ajudando na acomodação e na distribuição da carga do peso do atleta ou amador. O impacto de cada passo num corpo pode chegar a três vezes o peso, de quem corre diz Wagner Rosa, e o calçado ajuda a dissipar as cargas impostas às articulações.
Ideal
Ambos concordam que não existe um tênis ideal para todas as pessoas e todas as atividades físicas. Rosa exemplifica que, para corredores que buscam desempenho, por exemplo, calçados com espumas de alto retorno de energia e com placa de carbono são melhores. Mas esses mesmos modelos não são indicados para quem faz caminhada ou frequenta academia. E características pessoais também ajudam a definir o que é importante.
Tamanho
Segundo Rosa, o ideal é sempre buscar um tênis que fique ajustado ao tamanho do pé, nem frouxo nem apertado. Um tênis frouxo faz com que a fricção do pé aumente dentro do calçado, causando bolhas e até fraturas por estresse em casos extremos. Já um calçado apertado pode gerar até a perda de unha.
Amortecimento
O amortecimento no tênis é muito importante para absorver ou dissipar as cargas impostas ao corpo durante a prática da atividade física. No entanto, Pedrinelli alerta que não deve comprometer a estabilidade necessária para a pessoa.
Por isso, o recomendado é ir até uma loja física e testar a caminhada com o tênis antes da compra.
Peso
Wagner Rosa explica que o peso é uma das variáveis mais importantes nos calçados. Estima-se que, do ponto de vista físico, a cada cem gramas de acréscimo no calçado, o consumo energético aumente 1%.
Material
A parte de fora do calçado, chamada de cabedal, também deve receber atenção na hora da escolha do modelo. Ela pode ser
feita de diversos tipos de materiais, como mesh, knit, poliamida, sintéticos (PVC e TPU), tecidos com linhas recicladas misturados com nylon, entre outras combinações. A recomendação é buscar materiais leves, com maior transpirabilidade, segundo Wagner Rosa.
Formato
Cada marca e cada modelo tem formas específicas, e cada pessoa tem necessidades próprias.
Por isso, é sempre indicado realizar uma medição caseira do pé e compararcom as especificações técnicas antes de fazer uma compra virtual ou procurar uma loja física para experimentar o modelo desejado e o número adequado.