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Candidato a prefeito em Boa Vista promete fim de ‘privilégios’ de venezuelanos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Candidato a prefeito pelo PSL em Boa Vista (RR), o deputado federal Nicoletti começou a explorar as tensões com imigrantes venezuelanos em sua campanha.

Nesta terça-feira (13), ele postou em suas redes sociais um anúncio em que promete combater supostas vantagens desfrutadas pela comunidade do país vizinho. “Na minha gestão municipal, venezuelano não terá privilégio”, anuncia, com uma foto com o dedo em riste.

Na sua conta do Instagram, ele diz, apesar disso, que “respeita os venezuelanos de Boa Vista”.

No anúncio, Nicoletti não explica o que seriam os “privilégios” a que se refere. Em resposta à Folha de S.Paulo enviada por sua assessoria, o candidato afirma que estas vantagens são numerosas.

“Os privilégios são muitos. Entre eles, por exemplo, o acesso aos serviços públicos do nosso município e o trabalho informal, em que nossos ambulantes são perseguidos pela prefeitura e os venezuelanos podem trabalhar livremente”, afirma.

O candidato nega que sua propaganda de alguma forma estimule sentimentos xenófobos. “Defender a igualdade de direitos entre brasileiros e venezuelanos, prevista na Constituição brasileira, jamais será xenofobia”, afirma.

“O que proponho é justamente garantir o acesso dos brasileiros aos serviços essenciais, para que não ocorra o que acontece atualmente, quando vemos venezuelanos ocuparem praticamente 100% de alguns serviços em Boa Vista.”

Ele promete buscar, como prefeito, o aumento de repasse de recursos junto ao governo federal para suprir o aumento da demanda sobre serviços ocasionado pelo fluxo migratório.

Estima-se em cerca de 10 mil o número de venezuelanos vivendo na capital roraimense, a quase totalidade pessoas que deixaram seu país de origem em razão da crise econômica e da ditadura de Nicolás Maduro.

Muitos deles acabam competindo com brasileiros por empregos de baixa especialização. Como muitas vezes não têm documentação, são contratados por salários mais baixos, e sem nenhum direito trabalhista.

Num contexto de crise econômica, agravada pela pandemia, a situação tem estimulado sentimentos xenófobos.

Nascido em Ijuí (RS), Nicoletti, 39, é deputado de primeiro mandato. Fez carreira como policial rodoviário federal e elegeu-se em 2018 na safra de novatos que adotaram o discurso da segurança pública, em linha com a onda conservadora que levou à vitória o presidente Jair Bolsonaro.

Ele era aliado do governador Antonio Denarium, também eleito pelo PSL, mas ambos romperam por desavenças políticas locais.

Nicoletti chegou a dizer no início da campanha que era o candidato de Bolsonaro, mas o presidente, por meio de interlocutores, negou, dizendo que não pretende declarar apoio a ninguém na capital do estado no primeiro turno.

Em seu programa de governo registrado na Justiça Eleitoral, o candidato não faz nenhuma referência aos venezuelanos. Ao contrário, diz que “mais do que nunca, Boa Vista precisa ser uma cidade para todos os seus cidadãos”.

A onda migratória venezuelana se intensificou a partir de 2018. A maior parte entra por terra pela fronteira com Roraima, mas muitos têm sido deslocados para outros estados, por iniciativa do governo federal, num processo conhecido como “interiorização”.

Os que permanecem em Roraima são atendidos por uma ação capitaneada pelas Forças Armadas, a Operação Acolhida. Diversos abrigos foram construídos para os migrantes em Boa Vista, mas muitos ainda vivem nas ruas da cidade.

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