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Esquerda tende a abraçar Boulos, e Covas pode ter apoios envergonhados

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A busca por apoio de derrotados para o segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo aponta para uma adesão explícita da esquerda à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), enquanto a de Bruno Covas (PSDB) pode ser a destinatária de endossos envergonhados ou pragmáticos da direita.

Conversas que começaram a se desenrolar na noite do primeiro turno, no domingo (15), mas só devem ter um desfecho ao longo da semana serão decisivas para as campanhas.

O que se desenha, por ora, é um cenário em que políticos de esquerda e centro-esquerda abracem Boulos e pelo enfrentamento ao governador João Doria (PSDB), aliado de Covas.

O PT já designou seu candidato derrotado, Jilmar Tatto (que teve 8,7%), como coordenador da participação petista na campanha de Boulos. Ainda na noite de domingo, Tatto e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) declararam apoio ao candidato do PSOL.

O ex-presidente Lula (PT) telefonou para o candidato no domingo e se colocou à disposição para ajudar na campanha como Boulos achar necessário. A ligação entre Boulos, Lula e o PT já é explorada pelos tucanos como ponto negativo.

Nesta terça (17), Tatto se reúne com a equipe do PSOL para acertar detalhes da estratégia no segundo turno, ancorada nos acenos à periferia. Tatto quer manter uma campanha intensa de rua nos bairros mais afastados, como vinha fazendo.

“Vamos entrar de cabeça na campanha para Boulos ganhar. Vamos juntar todos os setores democráticos e populares. “‹Derrotamos Bolsonaro no primeiro e vamos derrotar Doria no segundo turno”, disse Tatto à reportagem.

Questionado a respeito de uma discussão sobre espaços do PT em um eventual governo Boulos, Tatto afirmou que esse aspecto não está colocado. “Me recuso a falar sobre isso. O PT faz campanha para Boulos de modo incondicional.”

Além do PT, Boulos quer buscar o PSB de Márcio França, o PDT do vice de França, Antonio Neto, e o PC do B de Orlando Silva.

No caso do candidato à reeleição, ainda há dúvidas sobre a adesão de adversários que se contrapuseram a ele nos últimos meses, como Celso Russomanno (Republicanos, que terminou com 10,5%), Andrea Maratazzo (PSD, 1,6%) e Joice Hasselmann (PSL, com 1,8%).

Como os candidatos atuam no campo da direita, porém, os únicos caminhos possíveis são a neutralidade ou o apoio a Covas. Apesar dos ataques de Russomanno a “Bruno-Doria”, a segunda opção é a tendência do Republicanos, que integra a base do governo Doria e fazia parte da gestão Covas até agosto.

Segundo tucanos, as conversas estão em andamento. Nesta segunda (16), o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, que é ligada ao partido, foi questionado por um seguidor em rede social sobre em quem votar e respondeu: “Jamais votarei na esquerda, portanto estamos com Covas”.

Em entrevista ao UOL nesta segunda, Covas afirmou que dialoga com o Republicanos e que vai buscar apoio de França.

Mesmo enfrentando um candidato de esquerda, o prefeito quer evitar uma virada à direita e uma associação com o bolsonarismo, até porque o presidente Jair Bolsonaro, por meio de seu candidato Russomanno, saiu derrotado. Mas os tucanos mantêm o discurso de que não recusarão voto.

A situação na direita, porém, ainda é nebulosa. Matarazzo e Joice não tomaram decisões.

“Estou amadurecendo a ideia. Fazendo a conta da tragédia. Por enquanto não [vou declarar apoio]”, disse à reportagem a candidata do PSL, que era próxima de Doria e dos tucanos, mas acabou minando pontes pelas críticas que dirigiu a eles na campanha.

Arthur do Val (Patriota), que teve 9,8% dos votos, não deve declarar apoio a nenhum dos dois. Seu partido, com três vagas na Câmara, fará oposição seja quem for o vencedor.

O eventual apoio ao prefeito por candidatos de direita, no entanto, passa por uma mudança de discurso dos então adversários que o criticavam –um apoio “útil” para evitar o avanço da esquerda. As conversas são guiadas ainda por interesses de ambos os lados, de fazer parte da composição do governo.

Em relação a Boulos, o cenário é mais claro. Como PT e PSOL não estão em trincheiras diferentes e tampouco trocaram ataques, a adesão veio sem dificuldades.

No PT, a vitória de Boulos tem sido lida como uma vitória da esquerda. “É o que eu falo. Boulos é como um irmão mais novo, jamais eu o atacaria. Estamos no mesmo campo e no mesmo lado”, disse Tatto.

A campanha do petista demonstrou irritação no domingo com a fala de Lula que responsabilizou Tatto pelo fato de o PT não desistir da candidatura para apoiar Boulos.

“Lula é como pai pra mim, não tem discordância nenhuma. Lula estava preocupado que não fosse nenhum dos dois [Tatto ou Boulos] no segundo turno. Era uma preocupação de colocar a esquerda no segundo turno”, disse Tatto.

Por ora, não está claro se a participação de Lula na campanha de Boulos envolveria a aparição em propagandas e atos públicos.

O assunto é tratado com cautela no PSOL porque pode tanto beneficiar o postulante quanto dar munição à campanha rival, que estabeleceu a estratégia de associar Boulos aos problemas do PT.

A decisão sobre o apoio de França deve sair nesta terça, depois de uma reunião com dirigentes dos partidos que compuseram sua coligação.

Auxiliares do ex-governador dão como praticamente nula a chance de ele declarar apoio a Covas, depois de ter baseado sua campanha na marca anti-Doria e criticado a gestão do tucano.

Entre os representantes do PDT, a possibilidade que conta com mais apoio é a de adesão total ao projeto do PSOL. Candidatos a vereador da legenda derrotados no domingo já fazem campanha em prol do candidato nas redes sociais.

Logo após a confirmação de sua ida ao segundo turno, o candidato do PSOL conversou com Orlando Silva. O deputado federal disse nesta segunda-feira que só anunciaria o apoio com o aval de seu partido, o PC do B. A tendência, no entanto, é de adesão.”‹

Boulos recebeu, nesta segunda, até o que foi lido como sinalização da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), que apoiou Matarazzo no primeiro turno. A parlamentar de direita questionou Boulos, pelo Twitter, se ele se comprometia a governar os quatro anos de mandato.

“Sim, Janaina”, ele respondeu. “Não sou da turma do PSDB, que usa São Paulo como trampolim para projetos pessoais. Governar a cidade em que eu nasci e vivo será a maior honra da minha vida. Sendo eleito, governarei os 4 anos.”

A deputada, então, convidou o candidato para um diálogo ou até uma live para entender suas propostas. Questionada pela reportagem, Janaina afirmou que “não descarta nada” em relação a apoiar algum postulante.

“Só quero mesmo detalhar as propostas. É preciso explicar como os projetos serão implementados. Não acho que o meu papel seja apoiar A ou B, mas ajudar a discutir propostas para a cidade”, disse ela.

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