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‘Cry Macho’, de Clint Eastwood, é acima da média, mas sem brilho

FOLHAPRESS – Lançado em 1975 como livro por N. Richard Nash, “Cry Macho” nasceu como roteiro. Mas não encontrou quem o levasse ao cinema. Só depois das boas críticas foi que Hollywood voltou a enxergar a obra.

Em 1988, o jovem Clint Eastwood, então com 58 anos, teve contato pela primeira vez com “Cry Macho” e mostrou interesse em dirigir o roteiro, não em estrelar a produção. Era muito jovem para o papel. Recentemente disse ao Los Angeles Times que queria Robert Mitchum, aos 71, como protagonista.

Mas Hollywood é ansiosa. E Eastwood estava envolvido com “Dirty Harry na Lista Negra”, seu último filme como o policial Harry Callahan. “Cry Macho” passou para outras mãos, e quase teve Arnold Schwarzenegger no elenco há dez anos -um escândalo sexual seguido do divórcio com Maria Shriver enterraram a produção com o ex-governador da Califórnia.

Enquanto isso, Eastwood se estabeleceu como um dos maiores diretores de todos os tempos do cinema americano –não é exagero–, com títulos como a obra-prima “Os Imperdoáveis”, de 1992, “Sobre Meninos e Lobos”, de 2003, e “Menina de Ouro”, de 2004.

Mas tudo tem seu tempo, e Eastwood, como cantariam os Rolling Stones, tem o tempo ao seu lado, seja na sua interminável carreira ou na sua narrativa. “Cry Macho” e Eastwood se reencontraram. O filme chega às telas agora, com o desnecessário subtítulo brasileiro “O Caminho para a Redenção”, com o ícone do cinema como diretor e protagonista -talvez um pouco mais velho do que gostaria, o que não chega a ser um problema.

Mais uma vez o ator volta a um papel caro a ele, o do caubói solitário. A trama começa em 1979, com Mike Milo, papel de Eastwood, chegando atrasado ao trabalho em uma fazenda, onde cuida dos cavalos. Para o chefe Howard –o ator e cantor country Dwight Yoakam–, essa é a gota d’água, e Milo é demitido.

Ficamos sabendo logo nas primeira cenas que Milo tem um passado glorioso como campeão de rodeios, mas largou as arenas após uma grave queda. Para piorar, perdeu a mulher e o filho em um acidente de trânsito e se entregou para o álcool.

Um ano depois, Howard procura Milo. Agora, quer um favor. Precisa que o velho amigo vá até o México para resgatar o filho, o adolescente rebelde Rafael, papel de Eduardo Minett, ou apenas Rafo, que, segundo o ex-chefe, é negligenciado pela mãe e sofre abusos. Para Howard, o estilo caubói de Milo será suficiente para convencer o menino a atravessar a fronteira. Milo topa por ter uma “dívida moral” com o ex-patrão.

E assim começa um road movie que em alguns momentos pode lembrar o recente “A Mula” -ambos foram filmados no estado americano do Novo México e repetem o roteirista Nick Schenk como colaborador.

Milo obviamente encontra Rafo, que vive nas ruas fazendo pequenos delitos ou participando de rinhas de galo com seu inseparável Macho. O caubói convence o rapaz a seguir de volta para o Texas sem muitas dificuldades. Mas a mãe do jovem manda um de seus capangas atrás da dupla e diz que vai acionar a polícia. Dupla, não –trio. O galo Macho vai junto.

Quando a polícia se aproxima, eles se escondem em uma cidadezinha perto da fronteira, onde encontram abrigo na casa de Marta, papel de Natalia Traven, uma viúva que cuida dos netos e se engraça com Milo. Eastwood, aos 91 anos, tem seu charme.

Provavelmente quem acompanha Eastwood vai encontrar em Mike Milo um pouco do ex-pistoleiro de “Os Imperdoáveis”, do rabugento vizinho de “Gran Torino”, de 2008, ou até de seu caubói do asfalto Bronco Billy, no filme homônimo de 1980.

Não aguarde perseguições de carros alucinantes ou uma grande fuga. Estamos no tempo narrativo de Eastwood, que prefere uma conversa de diálogos simples sob a luz do luar para construir a relação de Milo e Rafo, em uma jornada de redenção para ambos.

Rafo está longe de ser o “rebelde selvagem”, descrito pela mãe; parece até bem sensível, como o garoto que procura seu lugar no mundo em “A Mula”. Ao contrário do tom de toda a trama, o desfecho parece um tanto apressado, mas satisfatório. A impressão é que “Cry Macho” podia ir um pouco além.

De qualquer forma, impressiona o vigor do ator-diretor Eastwood, que tocou a produção em plena crise pandêmica e terminou as filmagens com um dia de antecedência, incluindo cenas em cima de um cavalo. Não dá para saber também se a pandemia chegou a atrapalhar a produção, já que Eastwood sempre foi econômico, seja no orçamento, seja nas cenas.

“Cry Macho” provavelmente não entrará para a galeria de seus filmes mais brilhantes, mas Eastwood entrega um drama acima da média para consumidores sedentos de algo mais adulto.

CRY MACHO – O CAMINHO PARA A REDENÇÃO

Quando: Estreia nesta quinta (17) nos cinemas

Classificação: 13 anos

Elenco: Clint Eastwood, Eduardo Minett, Natalia Traven, Dwight Yoakam

Produção: EUA, 2021

Direção: Clint Eastwood

Avaliação: Bom

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