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‘Taís e Taiane’ é um road movie brasileiro que não nos leva a parte alguma

FOLHAPRESS – Desde que começou a pandemia somos bombardeados por um número colossal de festivais: nacionais e internacionais, pequenos ou grandes, tradicionais ou novos, no Brasil ou no exterior. Alguns preferem os filmes independentes, outros prestigiam grandes companhias, cineastas novos ou já consagrados.

A pergunta é: em que categoria se poderia encaixar “Taís e Taiane”? Taís é uma teen que decide sair pelo mundo. No primeiro ônibus que toma sofre tais avanços masculinos que prefere descer no meio da estrada. Lá encontra Taiane, que ganha a vida se prostituindo. As duas se estranham, já que Taiane vê na outra uma concorrente.

Alguns contratempos depois, as duas se tornam previsivelmente amigas. Taís tem todos os conhecimentos que a juventude de classe média pode ter. Taiane exala ignorância proletária por todos os poros, embora conheça bem a palavra “enigmático”, por alguma enigmática razão. No mais, da natureza à direção a seguir, Taís é que sabe. Ela só não sabe muito bem o que procura da vida.

Juntas elas enfrentam o mundo masculino, composto basicamente por cafajestes, estupradores e caminhoneiros dispostos a dar carona em troca de favores sexuais. De um deles Taiane rouba um bom dinheiro, admita-se, ainda assim o filme ficaria melhor se o nome fosse “Taís, Taiane e os Tarados”.

Já estamos conformados com essa sorte que credencia o filme a uma mostra do filme feminista. Mas elas voltam à estrada e acabam encontrando dois motoqueiros, cada um mais legal do que o outro. Tony e Roni. Um mais velho, outro jovem. Ficam amigos. Eles lhes dão carona. Taiane sente-se tão bem que resolve leva-los a um lugar onde podem comer alguma coisa. O lugar não oferece bem o que ela promete. Lá encontra um par de amigas prostitutas. Depois aparece a madame, com maus bofes.

Pior: ela entende que Taiane lhe deve dinheiro e já chegou armada. É quando Taís finge um ataque qualquer, talvez epilético, e todo mundo sai dali. O filme feminista meio que acaba por aí, porque logo se vê que Roni, o mais velho, o que ficou com Taiane, é ótimo sujeito. Taiane até já sonha com ele como o cara que pode redimi-la, tirá-la dessa vida. E ela no fundo tem uma boa alma e coisa e tal. (Já não dá para o filme ir ao festival feminista)

Quanto a Taís, não guarda trauma nenhum do quase estupro que sofreu e descobre que estava mesmo é à espera de um namorado, e Tony parece adequado ao papel: não é um assediador, parece um bom jovem classe média, aparentemente tem boas intenções.

Já Roni, ficamos sabendo, caiu na estrada desde a morte a mulher e está disposto a lá ficar até encontrar outra mulher dos seus sonhos. Seria Taiane?

Fiquemos por aqui. A descrição da história, mesmo sumária, é indispensável para dar conta da quase infinita ingenuidade deste filme, no pensar e no narrar. “Taís e Taiane” até poderia se chamar “Thelma & Louise Encontram Easy Rider”, mas isso não mudaria sua essência: trata-se de um road movie que não leva a parte alguma. E, de tão antiquado, só devia permitir que na estrada onde acontece circulassem cavalos, carros de bois. Não serve como filme feminista, nem ambiental. Poderia vir a calhar num festival do filme retrógrado, se houver algum.

TAÍS E TAIANE

Quando Estreia nesta quinta (14)

Elenco Gabriela Verganni, Yasmin Santos, Jairo Mattos e André Bankoff

Produção Brasil, 2019

Direção Augusto Sevá

Avaliação Ruim

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